De Uberlândia à vanguarda da IA: como a Zup quer democratizar agentes inteligentes nas empresas brasileiras
Com 14 anos de história e a plataforma StackSpot AI, a companhia aposta em multiagentes, educação em larga escala e parcerias acadêmicas

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Fundada em Uberlândia, a Zup nasceu como uma deeptech voltada a acelerar o desenvolvimento de software. O ponto de virada veio quando um assistente interno de geração de código começou a ser usado para automatizar tarefas de negócio.
O “desvio criativo” levou a StackSpot a evoluir para uma plataforma multiagentes (no/low-code), permitindo que áreas como finanças e jurídico criem seus próprios agentes sem depender do time técnico.
“O produto nasceu para gerar código, mas vimos gente automatizando processos de negócio. Foi quando migramos para multiagentes”, explica André Palma, CEO da Zup.
Hoje, a empresa relata centenas de agentes criados por semana e uma adoção crescente por “pessoas de negócio” — profissionais fora da área técnica que passaram a experimentar o potencial da IA na rotina.
Human-in-the-loop e a cultura do “aprender fazendo”
O discurso dentro da Zup é claro: não se trata de substituir pessoas, mas de promover uma inteligência colaborativa — humanos no circuito, orquestrando agentes. Essa visão se traduz em uma estratégia com três pilares principais:
- Educação massiva , com letramento em IA para toda a empresa;
- Experimentação ampla e segura, com limites de dados e guardrails;
- Padronização, por meio de catálogos de agentes, reuso e governança.
“O conselho ajuda, mas o que arrasta é o exemplo. Pequenas vitórias internas criam os ‘evangelistas’ de IA”, destaca Palma.
Como começar — e evitar o FOMO
A Zup recomenda uma abordagem pragmática: iniciar com um discovery de problemas prioritários, definir uma tese técnico-estratégica (reconhecendo que nem tudo é GenAI) e estabelecer trilhas de capacitação por perfil. Só então, escalar.
“O maior risco não é a IA roubar emprego — é você ignorá-la. Quem não usa, fica para trás”, afirma Cadu Pereira, CPO da empresa.
Mas a pressa sem propósito é igualmente arriscada . “Decisão por FOMO também é perigosa. Sem estratégia, você só queima caixa”, alerta Ana Paula Camargo, Head de Autoridade Tech e do Zup Labs.
Para o time, começar “meio bagunçado” pode ser aceitável — desde que haja métricas, catálogo e segurança desde o primeiro experimento.
Obstáculos reais: dados, usabilidade e repetição de esforços
Entre os gargalos mais citados por clientes estão:
- Dados desorganizados, que travam contexto e comprometem a qualidade das respostas;
- Ferramentas muito técnicas, que dificultam a adoção fora da área de TI;
- Repetição de esforços, com diferentes times criando agentes para o mesmo problema — situação resolvida com padronização e catálogo interno.
“Em algum momento, as plataformas vão conversar melhor. Protocolos e consentimento do usuário serão chaves”, projeta Palma.
Integração, padrões e impacto real
A tendência, segundo a Zup, é que o ecossistema de agentes avance rumo à interoperabilidade via protocolos e padrões abertos. Quando bem implementados, os resultados aparecem de forma tangível: em um cliente da área de saúde corporativa, por exemplo, agentes elevaram a cobertura de testes de software de cerca de 11% para 94% em apenas três meses, refletindo diretamente em estabilidade e tempo de atendimento a beneficiários.
“É um indicador técnico, mas lá na ponta isso significa menos erro e atendimento mais rápido”, resume Marcos Bonas, Vice-Presidente de Engenharia, Arquitetura, Marketing e Vendas para o Brasil e Estados Unidos na Zup.
Brasil fora do eixo e P&D com DNA local
A Zup acredita que a inovação brasileira muitas vezes nasce da escassez — e, por isso, tende a ser mais orientada a resultado. Nesse contexto, a empresa tem reforçado parcerias com universidades e polos regionais.
Um exemplo é a colaboração com o CIn/UFPE, no Recife, voltada à confiabilidade das respostas (redução de alucinações) e ao desenvolvimento de Small/Specialized LMs — modelos menores e mais eficientes, que equilibram custo, desempenho e soberania de dados.
“Recife é um polo histórico. Faz sentido pesquisar lá confiabilidade e novos modelos menores e especializados”, explica Ana Paula Camargo.