"Todo poder testa limites": cientista político analisa reação social à PEC da blindagem
Isaac Luna analisa a postura do PT e explica por que o retorno das manifestações de rua é um "momento democrático bastante significativo"

A aprovação da PEC da blindagem, votada secretamente na Câmara dos Deputados na terça-feira (16), gerou forte reação popular e críticas a partidos como o PT, que teve votos a favor da proposta.
Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o cientista político Isaac Luna analisou o cenário e afirmou que o Congresso "testou um limite" ao pautar a matéria.
PT e o "erro de cálculo"
Luna explicou que o PT, que surgiu com a promessa de lutar contra a corrupção e defender as pautas democráticas, indo contra o imaginário popular do que é um partido político, teve sua imagem desgastada por escândalos como o Mensalão e a Operação Lava Jato.
Tem tentado, então, provar não ser "tal qual qualquer outro". Mas a postura do PT na votação da PEC foi um "erro de cálculo, baseado em excesso de pragmatismo" que não foi bem compreendido pela opinião pública e gerou um "burburinho interno, um mal-estar interno muito grande".
O partido, que está se preparando para uma eleição difícil em 2026, "não pode vacilar nisso", reforça Isaac.
Retorno do povo às ruas
O especialista destacou o papel fundamental da sociedade na reação contra a proposta. Ele explica que "todo poder testa limites", e que o Congresso testou até onde poderia ir. As manifestações, então, foram uma resposta inesperada.
Segundo Luna, o "poder popular" e as organizações sociais foram fragmentados ou criminalizados nos últimos anos, o que fez com que o Supremo Tribunal Federal (STF) assumisse sozinho a responsabilidade de ser o principal contraponto aos poderes.
No entanto, o que se viu nas manifestações do último domingo (21) foi o retorno à "pauta da política, de fato. Sobre a pauta dos interesses da população, dos interesses públicos, republicanos e democráticos. E não apenas com pautas dos costumes ou pautas identitárias".
O cientista político conclui que o retorno do povo às ruas é um momento "democrático bastante significativo" que o Brasil vive e que "pode surgir uma nova dinâmica na política brasileira".
Símbolos e a dicotomia ideológica
Sobre a presença predominante de cores vermelhas nos protestos, Isaac Luna concordou que o simbolismo indica uma posição política mais à esquerda.
Para ele, as últimas ações da direita e da extrema-direita "acabaram fomentando novamente esse público mais à esquerda, com um pensamento mais progressista, que estava, de certa forma, acanhado ou desmobilizado".
O especialista ressaltou, ainda, que a mobilização não foi liderada por figuras políticas, mas por "ícones de um pensamento mais progressista, de um Brasil mais ilustrado, que voltaram à cena e mobilizaram milhares de pessoas", em referência a artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Segundo ele, apesar de serem "seres políticos", como qualquer cidadão é, esses artistas não são "players dos jogos políticos" nem têm a intenção de disputar eleições, logo, não são figuras políticas.