Em semana de críticas a Raquel Lyra e João Campos, Alepe volta a viver tensão e dá o tom sobre 2026 em Pernambuco
Críticas de deputados a João e Raquel na Casa movimentaram os grupos políticos da governadora e do prefeito na Alepe nesta semana
Clique aqui e escute a matéria
Em 2025, são poucas as semanas de serenidade na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), e nesta semana não foi diferente. Assim como boa parte do ano, a tensão política acirrada na Casa deu o tom do que se avizinha nas eleições de 2026, em especial na disputa pelo Governo do Estado, que deverá ser protagonizada pela governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife João Campos (PSB).
As críticas a João e Raquel na Casa movimentaram os grupos políticos da governadora e do prefeito na Alepe nesta semana.
Governistas atacam João Campos por relação com bets e venda de precatórios
Diferente das últimas trocas de farpas entre os grupos políticos na Casa, onde os oposicionistas cobravam o governo Raquel Lyra, dessa vez foram os governistas que aproveitaram a tribuna para fazer críticas a João Campos.
Na última terça-feira (11), a deputada Débora Almeida (PSDB), que comumente tem ocupado a tribuna para destacar ações e entregas do Governo do Estado, aproveitou seu discurso para criticar duramente a gestão de João Campos na Prefeitura do Recife.
Débora afirmou que a gestão municipal "raspa o tacho do futuro para tapar os buracos do presente" e que o Recife está "sem fôlego financeiro", apontando que obras como a da Ponte Giratória, Orla de Boa Viagem e o Parque Eduardo Campos estariam paradas. A deputada também criticou a venda antecipada de precatórios do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef).
"O prefeito resolveu vender antecipadamente os recursos dos precatórios dos professores, com desconto de 21,4% , para obter liquidez imediata, abrindo mão de R$ 124 milhões do dinheiro público numa operação que nada mais é do que um empréstimo incerto para o futuro da cidade", criticou.
Já na quarta-feira (12), os governistas dobraram a aposta, e Renato Antunes (PL) e a líder do governo Socorro Pimentel (União Brasil) usaram a tribuna para criticar João Campos, indicando uma "aproximação" entre a gestão municipal e as empresas de apostas no Recife, citando publicidade das chamadas "bets" em parques e praças da cidade.
"É vergonhoso ver isso, porque espaços como praças são ambientes de lazer, ambientes de socialização, agora têm sido os nossos adolescentes alvos dessas propagandas que incentiva, que, infelizmente, leva os nossos jovens a esse vício que se tornou as apostas", criticou Renato.
"Infelizmente, há gestores públicos que, em vez de proteger a população, tratam essas plataformas como aliadas, como se fosse legítimo se associar ao setor que se aproveita da vulnerabilidade emocional e financeira do povo. E não é assim que tem que ser feito. O poder público tem que estar ao lado das pessoas, não dos exploradores da esperança", disse Socorro Pimentel.
Oposição rebate: Sileno fala em "dor de cotovelo" e Álvaro diz que Governo não tem capacidade de captar recursos
As falas de Débora, Renato e Socorro foram rebatidas pelo líder do PSB na Casa, Sileno Guedes, que tratou as declarações como "dor de cotovelo", além de afirmar que os colegas de Alepe se comportam "como se fossem líderes da oposição na Câmara do Recife".
Sileno devolveu as críticas, afirmando que as declarações dos governistas são reflexo dos resultados do governo Raquel Lyra e das pesquisas de intenção de voto para o Governo de Pernambuco.
“O que eu tenho visto é muito aliado da governadora com dor de cotovelo, porque há tempos falam de uma virada de chave que nunca acontece. Quando a gente tem que virar muito a chave do carro, é porque ele é velho e precisa de empurrão. O fato é que, a menos de um ano para as eleições, a governadora só fala de promessas, como se estivesse começando agora seu governo. E falta material positivo para alimentar sua base", rebateu.
O líder do PSB aproveitou para sair em defesa de João Campos, afirmando que a antecipação de juros remuneratórios do Fundef está "acelerando investimentos" na capital pernambucana. De acordo com Sileno, os recursos são de livre aplicação e que será repassado de forma integral aos profissionais da rede municipal de ensino e direcionado a ações de desenvolvimento da educação no município.
"Atacar um prefeito que fez mais creches em quatro anos do que em 40 é ignorar a realidade. Os aliados da governadora deveriam se preocupar mais com as 60 mil vagas de creche prometidas por ela. Não tem nenhuma aberta. Não falta trabalho a fazer", completou."
No entanto, chamou a atenção nos dois casos, que os deputados pessebistas presentes não rebateram os discursos dos governistas, cabendo a Sileno, em nota, rebater as críticas dos aliados da governadora.
Enquanto apenas Sileno rebatia as críticas dos governistas, o presidente da Alepe, deputado Álvaro Porto (PSDB) voltou a cutucar a governadora Raquel Lyra, mesmo após afirmar que votará mais um pedido de empréstimo do Governo do Estado.
Na quarta-feira, Álvaro afirmou que o projeto será votado, mas afirmou descrença na capacidade da gestão estadual de captar os recursos e realizar os investimentos projetados, indicando que não haverá tempo para as entregas imaginadas pelo Governo. A fala foi rebatida por Socorro Pimentel, que apontou postura "turrona" de Álvaro em colocar o projeto em pauta para provocar a governadora Raquel Lyra.
No dia seguinte, o presidente retrucou a fala de Socorro, afirmando que sua "forma turrona" é um "modo de encarar e falar a verdade", e apontou que suas críticas à capacidade da gestão estadual de captar recursos estão "fundamentadas na realidade dos fatos". Álvaro também destacou que a Alepe aprovou R$ 11 bilhões em operações de crédito e que a gestão estadual só teria colocado R$ 2,8 bilhões nos cofres.
“Se ela não sabe ou não quer conviver com essa realidade, não sou eu que vou ensinar. As nossas considerações estão fundamentadas na realidade dos fatos, estampadas em documentos oficiais e idôneos, como o E-fisco e o Portal da Transparência", rebateu.
“Se a líder puder contribuir com esta saudável discussão, disponibilizando informações e números diferentes do que estão apresentados, estamos prontos para apreciar. Se a líder permanece apostando num governo lento e que não faz entregas é uma questão dela, e, diferentemente do que ela fez, não vou adjetivar a forma como ela atua", complementou.
Ainda de acordo com Álvaro, a Assembleia está "cumprindo o seu papel" de fiscalizar a aplicação dos recursos dos empréstimos, apontando que a "lentidão, a ineficiência e a incapacidade de entregar" se tornaram "marcas do governo".
João e Raquel silenciam após semana de críticas, mas recebem reforço de aliados na defesa
Apesar da semana de críticas e trocas de farpas dos dois grupos políticos na Alepe, João Campos e Raquel Lyra não alimentaram o clima de tensão vivido no Parlamento, mas receberam o reforço de seus aliados durante as agendas.
Nesta quinta-feira (13), durante o anúncio das obras da segunda etapa do Parque da Tamarineira, o prefeito do Recife voltou a ter a presença de Miguel Coelho (União Brasil), que vai se consolidando como aliado de primeira hora e postulante ao Senado em uma eventual chapa liderada por João Campos em 2026.
Em discurso, Miguel apontou "expectativa do povo de Pernambuco" em torno do nome de João, e criticou a gestão estadual, afirmando que "não há mal que dure para sempre".
"A gente não quer ver Pernambuco do jeito que está, campeão do desemprego nacional, com tanta água e ainda assim com pessoas sem abastecimento, com crianças jogadas ao meio do esgoto, e Pernambuco perdendo oportunidades. [...] Não há mal que dure pra sempre. O tempo de um novo tempo para Pernambuco está chegando", disse Miguel.
Já a governadora Raquel Lyra recebeu seu reforço durante a cerimônia de assinatura da ordem de serviço para a construção de habitacionais de moradia popular, pelo programa Morar Bem, em parceria com o Governo Federal. Durante o evento, a vice-governadora Priscila Krause (PSD) criticou as gestões anteriores do Governo do Estado, comandadas pelo PSB, pela forma que tratavam movimentos sociais.
"Pernambuco perdeu grandes oportunidades. Talvez por diferenças pequenas, talvez por falta de compromisso e muitas vezes por incompetência", disse.
"E é por isso que a gente tá aqui hoje com os movimentos sociais, movimentos sociais de luta pela moradia que durante muitas vezes e durante muitos momentos teve um choque colado nas costas. Era assim que encontrava o governo o governo do estado através da polícia e do Batalhão de Choque", complementou.
No mesmo evento, a governadora recebeu o apoio do deputado João Paulo (PT), que destacou a parceria entre o governo Raquel Lyra e o presidente Lula (PT). O parlamentar chegou a afirmar que os eleitores de Raquel em 2026 vão votar em Lula, mesmo que o presidente não esteja no mesmo palanque da governadora.
"Para o ano nós vamos ter eleição. E eu quero dizer o seguinte a vocês: mesmo se o nosso presidente Lula não estiver o mesmo palanque que a governadora, eu tenho certeza que os eleitores de Raquel Lyra vão votar também em Lula para presidente da República", afirmou.
"Eu espero que haja essa unidade, mas às vezes não é possível. Apesar de reconhecer que independente disso, o governo Lula tá sempre presente com a senhora, com os ministérios abertos. [...] Independente das divisões que houver aqui em Pernambuco, e mesmo havendo os dois candidatos, o presidente Lula vai precisar muito dos votos que possivelmente a governadora vai ter no estado de Pernambuco e do nosso presidente Lula", completou.