Grok omite absolvição de familiares de Hugo Motta em resposta sobre investigações
Respondendo a um usuário, chatbot do X menciona prisões e operações envolvendo familiares do presidente da Câmara, mas ignora decisão judicial

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Um post no X desinforma ao citar processos envolvendo parentes próximos do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta.
O autor da publicação ativou o Grok, inteligência artificial do X, para solicitar uma “lista de todos os processos e prisões envolvendo a família” do parlamentar.
Na resposta, a plataforma responde apontando casos envolvendo o pai, a mãe, a avó, o ex-cunhado e o padrasto do político.
As ações citadas pelo Grok existiram, mas a plataforma erra ao não informar que, exceto o pai de Motta, todos foram absolvidos pela Justiça em 2021.
Ou seja, para quem lê o post, a mãe dele, Ilanna Motta, o ex-cunhado, José Willian Madruga, e o padrasto, Renê Caroca, ainda estão presos, o que não é verdade.
Em setembro de 2016, no âmbito da Operação Veiculação, do Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal prendeu preventivamente os três.
Ilanna era chefe de gabinete da Prefeitura de Patos, Caroca era prefeito de São José de Espinhara e Madruga comandava o município de Emas — todas as cidades são na Paraíba.
A operação também determinou o afastamento de Francisca Motta, avó do deputado, então prefeita de Patos.
Segundo a Polícia Federal, as supostas fraudes investigadas envolviam mais de R$ 11 milhões em recursos públicos, aplicados em ações dos Programas de Transporte Escolar (PNATE), Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), Pró-Jovem Trabalhador e Bloco de Média e Alta Complexidade (Saúde).
Em setembro de 2021, porém, a Justiça Federal absolveu os acusados de integrar uma organização criminosa.
De acordo com a decisão, o juiz da 14ª Vara Federal em João Pessoa, Rafael Chalegre do Rêgo Barros, rejeitou os pedidos do MPF alegando a "inexistência de ato de improbidade administrativa" e determinou a extinção do processo.
Como afirmado acima, o Grok omite essas informações em sua resposta.
Este caso expõe os riscos de confiar em ferramentas de inteligência artificial como portadoras de verdades definitivas, sem uma análise humana dos resultados obtidos nas buscas.
No post verificado aqui mesmo, o Grok emite juízo de valor, o que também é perigoso, considerando que se trata de uma ferramenta tecnológica.
A inteligência artificial acerta apenas ao citar os processos contra Nabor Wanderley, pai de Motta.
Em 2013, ele foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa, devido a contratações irregulares com o Instituto Interset.
Wanderley recorreu e, dois anos depois, elegeu-se deputado pela Paraíba. Em 2016, foi investigado na Operação Desumanidade por desvio e propina.
Nabor foi apontado como líder de grupo criminoso e seria destinatário de 10% do valor dos contratos de terraplanagem de ruas no município de Patos, segundo proposta de delação premiada – ele negou participação no caso.
Já em 2025, o Grok cita processo do Tribunal de Contas da União (TCU) dizendo que Nabor foi alvo indireto em operação da Polícia Federal contra fraude em Patos.
Segundo a CNN, a principal investigada é uma servidora da prefeitura, comandada pelo pai de Motta desde 2021.
Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova
O conteúdo do Grok foi publicado como resposta a um post de um perfil que se apresenta como “Advogado. Jornalista. Casado. Conservador”.
O perfil manifesta apoio recorrente ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e costuma publicar críticas, insultos e sátiras direcionados a figuras da esquerda, incluindo eleitores do PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A publicação alcançou 366,7 mil visualizações, com 183 comentários, cerca de 1 mil republicações e mais de 11 mil curtidas.
Já a resposta produzida pela Grok obteve 53 mil visualizações, com 2 mil curtidas, 800 republicações e 137 comentários até a publicação deste texto.
Por que as pessoas podem ter acreditado
Cada vez mais usada pelos desinformadores, a técnica do “pergunte ao Grok” chama a atenção das pessoas, mas é prejudicial.
Como já mostrado pelo Comprova, as respostas da inteligência artificial podem ser imprecisas, provocar danos e até colocar em risco a saúde de pessoas que seguem orientações sem validá-las com fontes confiáveis.
Se, por um lado, muita gente não sabe disso, por outro, os desinformadores não só sabem como se aproveitam dessa realidade. Ao usar a técnica – fazendo perguntas ou pedidos ao Grok –, eles se eximem da responsabilidade pelo erro – podem dizer que foi a IA do X que errou, que eles apenas fizeram perguntas.
E, para quem lê, o fato de ser uma ferramenta de inteligência artificial de uma das principais redes sociais do mundo respondendo passa a ideia de autoridade.
Fontes que consultamos
Reportagens e decisões judiciais sobre os casos abordados na investigação.
Por que o Comprova investigou essa publicação
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento.
Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema
Como informado acima, o Comprova já publicou texto sobre o uso de IA como fonte de informação em posts.
Já sobre IA e Hugo Motta, a iniciativa mostrou que vídeo usou a tecnologia para simular protesto contra o político.
A checagem foi publicada em 20 de agosto de 2025 pelo Comprova — coalizão formada por 42 veículos de comunicação que verifica conteúdos virais.
A investigação foi conduzida pelo Jornal do Commercio e Folha de S. Paulo, e o conteúdo também passou por verificação de Estadão, UOL e Terra.