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Primeiras-damas pernambucanas entram no jogo político e miram vagas na Alepe em 2026

Pelo menos duas esposas de prefeitos pernambucanos serão candidatas em 2026. Michelle e Janja são exemplos da participação das cônjuges na política.

Por Rodrigo Fernandes Publicado em 08/07/2025 às 6:01

As eleições de 2026 podem redesenhar a composição da Assembleia Legislativa de Pernambuco com a entrada de primeiras-damas de municípios pernambucanos na disputa.

Com a busca por visibilidade e capital político próprio se intensificando neste período de pré-campanha, algumas delas despontam como nomes viáveis para conquistar cadeiras no Legislativo estadual.

Nesta segunda-feira (7), por exemplo, a primeira-dama de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, Andrea Medeiros, assinou a ficha de filiação ao PSD em evento que contará com a presença da governadora Raquel Lyra, presidente estadual da sigla.

Andrea escolheu o partido da governadora para participar da disputa — e não o PL do marido Mano Medeiros — como forma de acenar à gestão Raquel, parceira do prefeito de Jaboatão.

Mano Medeiros foi reeleito prefeito da cidade em 2024 com 180 mil votos, mais que o dobro da segunda colocada. A transferência desses votos para a esposa, portanto, pode favorecer Andrea na busca por uma cadeira na Alepe. O PSD, vale lembrar, não tem nenhum representante na Assembleia na atual legislatura.

Outro nome que ganhou holofotes recentemente foi a primeira-dama de Gravatá, Viviane Facundes, que além de esposa do prefeito Padre Joselito (Avante), é secretária de Obras e Serviços Públicos do município e também pré-candidata a uma cadeira na Alepe no ano que vem.

No ano passado, ela esteve nos noticiários por uma denuncia de suposto nepotismo, afastada após recurso na Justiça. No período junino deste ano, ganhou as redes sociais ao cantar no palco do São João da cidade ao lado de Wesley Safadão, recebendo elogios do forrozeiro pela voz afinada, o que só fez aumentar a popularidade dela nas redes sociais.

As duas pré-candidatas vêm participando ativamente de atos públicos como entregas de obras e encontros partidários nos últimos meses. O objetivo é ganhar a confiança dos aliados políticos e, principalmente, ter os rostos conhecidos pela população para chegar em 2026 com a popularidade em alta. As duas, coincidentemente, são aliadas da governadora do estado.

Mas esse não é um fenômeno que surge somente quando se olha para a próxima eleição. Pelo menos três deputadas estaduais da atual legislatura também eram primeiras-damas e hoje atuam na Assembleia Legislativa de Pernambuco.

É o caso da líder do governo na Alepe, Socorro Pimentel (União Brasil), esposa do ex-prefeito de Araripina, no Sertão, Raimundo Pimentel; de Roberta Arraes (PP), esposa do também ex-prefeito de Araripina Alexandre Arraes; e de Simone Santana (PSB), esposa de Carlos Santana, prefeito de Ipojuca, no Grande Recife. As três foram eleitas com apoio dos respectivos maridos e agora escrevem suas próprias histórias na política dentro da Assembleia.

Atualmente, vale destacar, a Alepe conta com 7 mulheres de um total de 49 cadeiras. Ou seja, somente 14% do parlamento pernambucano é representado por parlamentares femininas.

O exemplo de Michelle e Janja

Embora a atuação ativa de primeiras-damas seja mais antiga, especialmente nos municípios, essa mudança de comportamento começou a ser percebida no cenário nacional de forma contundente com Michelle Bolsonaro, esposa do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL).

No início do mandato de Jair, em 2019, Michelle se dedicou à defesa dos direitos das pessoas com deficiência, em especial a auditiva, mas no decorrer do tempo conseguiu escalar sua imagem até se tornar presidente do PL Mulher, braço feminino do Partido Liberal, em 2023.

A atuação dela é voltada à defesa de um feminismo conservador, que empodera as mulheres ainda que dentro das limitações impostas pela religião e pelos dogmas seguidos por este campo político.

Com esse posicionamento, se tornou a maior liderança entre as mulheres bolsonaristas, chegando a despontar como um dos nomes mais competitivos da extrema-direita contra Lula na eleição presidencial de 2026 diante da inelegibilidade do marido, como revelam várias pesquisas.

Em 2023, com a eleição de Lula, Janja passa a ocupar o posto de primeira-dama. Assim como Michelle, ela também se destaca pelos posicionamentos, embora com diferenças significativas na personalidade.

A socióloga possui perfil ativo dentro das ações do governo federal, se destacando pela influência no Executivo e pela capacidade de comunicação com a massa petista.

Essa postura, a propósito, chega a desagradar parte do entorno do presidente, que defende uma imagem mais silenciosa da primeira-dama. Janja já afirmou que não vai ceder à pressão e disse que não vai mudar.

Interesses políticos e familiares

A entrada de primeiras-damas na política abre o debate sobre o real significado do protagonismo feminino na gestão pública e sua relação com a manutenção de estruturas tradicionais de poder.

Para a cientista política Fernanda Negromonte, as candidaturas dessas personagens, de forma geral, utilizam o discurso da representatividade para sustentar interesses políticos.

"A relação direta, conjugal, dessas personagens nos dias de hoje não efetiva garantias de representatividade feminina, levando em conta informações como raça, cor, faixa etária, e até os grupos políticos e sociais aos quais estas primeiras-damas pertencem", analisou.

O também cientista político Ernani Carvalho diz que há uma ampliação do papel das mulheres na política impulsionada pela exigência legal de percentual mínimo de candidaturas femininas. Atualmente, a Lei das Eleições determina que as candidaturas registradas pelos partidos devem ser de 30% a 70% de um mesmo sexo.  

Contudo, o professor ressalta que, no contexto geral da política brasileira, é comum que esse espaço seja ocupado por figuras vinculadas à família de políticos. "O uso de pessoas vinculadas à família, a esposa de um político, termina sendo um elemento corriqueiro hoje em boa parte das prefeituras brasileiras", apontou.

Segundo ele, a popularidade das primeiras-damas nas redes sociais também podem potencializar os interesses políticos em torno delas. "Você termina por dar mais visibilidade, isso impacta esse novo papel que vem se tendo das primeiras-damas. Uma dinâmica de empoderamento e de oportunidades políticas", pontuou. 

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