Pré-candidaturas de Anderson Ferreira e Gilson Machado ao Senado indicam que racha no PL Pernambuco não acabou
Chapas próprias reforçam que diretório estadual do Partido Liberal segue dividido desde as rusgas expostas nas eleições municipais de 2024

Rachado desde as eleições municipais de 2024, o diretório pernambucano do Partido Liberal passará por uma nova batalha interna para compor a chapa que disputará o pleito de 2026, especialmente para o cargo de senador da República.
Isso porque o presidente estadual da legenda, Anderson Ferreira, e o ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, já aparecem oficialmente entre os apoiadores como pré-candidatos ao Senado, e terão que disputar a atenção dos bolsonaristas.
Os dois possuem caciques de peso para fazer suas respectivas defesas: o presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, prefere Anderson, enquanto Jair Bolsonaro defende Gilson Machado com unhas e dentes.
O problema é que nem Anderson nem Gilson querem abrir mão da disputa, especialmente por estarem sem mandato.
Anderson Ferreira foi deputado federal de 2011 a 2017 e prefeito de Jaboatão dos Guararapes por dois mandatos, até 2022, quando renunciou ao cargo para disputar o governo do estado, em que ficou em terceiro lugar.
Já Gilson foi ministro do Turismo do governo Bolsonaro entre 2020 até o final do mandato do ex-presidente, em 2022.
Apesar de ter declarado que as tratativas sobre 2026 ficariam para o ano que vem, Anderson vem circulando pelos municípios para buscar alianças ao lado do irmão, o deputado federal André Ferreira, que já vem bradando aos quatro cantos que o gêmeo é pré-candidato ao Senado.
“Estamos aqui para somar forças para construir um Pernambuco mais forte e justo para todos”, disse Anderson Ferreira já em tom de campanha no último fim de semana, durante visita à cidade de Machados, no Agreste.
Por outro lado, Gilson Machado tem como principal cabo eleitoral o próprio herdeiro, o vereador do Recife Gilson Machado Filho, que lançou oficialmente a candidatura do pai após a prisão dele, semanas atrás, como parte de ação penal da trama golpista que corre no Supremo Tribunal Federal
“Vou lutar com todas minhas forças para te eleger Senador de República em 2026. Precisamos de homens de coragem e leal ao presidente Bolsonaro para combatermos as injustiças de um STF político”, disse Gilson Filho na tribuna da Câmara Municipal.
Intrigas dentro do PL Pernambuco
Apesar de Anderson e Gilson estarem disputando as atenções da extrema-direita pernambucana, a escolha deve reacender uma rusga que nunca foi totalmente apagada no partido.
A rusga ficou evidente na eleição municipal passada, quando Gilson disputou a prefeitura do Recife. Na época, vereadores em mandato se sentiram desprestigiados após Bolsonaro publicizar apoio a um grupo específico de candidatos ligados ao ex-ministro. O clã dos Ferreira chegou a boicotar a presença de Bolsonaro no estado devido à preferência pelo grupo de Gilson.
A definição da chapa de Ipojuca também foi motivo de discordância entre os dois grupos no ano passado. Enquanto Anderson declarou apoio ao nome de Patrícia de Leno (Podemos), o diretório municipal — liderado pelo irmão de Gilson Machado — rumou com a candidata da situação, Adilma Lacerda (PP). Na época, o clã do sanfoneiro chegou a indicar boicote ao partido em outras praças.
A insatisfação de Gilson com a direção de Anderson é tanta que por diversas vezes ele cogitou mudar de partido e se filiar ao Partido Progressistas, de Eduardo da Fonte, mas a permanência de Jair Bolsonaro no PL segurou o ex-ministro na legenda, pelo menos até agora.
Em abril, o próprio Bolsonaro reconheceu a rusga no diretório pernambucano, mas se manteve ao lado de Gilson. “Por enquanto, ele [Gilson] é nosso candidato [ao Senado] lá. Vamos tentar pacificar porque é complicada a situação política lá", afirmou.
A prisão relâmpago de Gilson Machado colocou o ex-ministro em evidência em todo o país, fato que pode ser explorado pelo PL no ano que vem, como já vem sendo avaliado internamente entre os líderes do partido.
Em 2022, vale lembrar, Gilson também foi candidato ao Senado e ficou em segundo lugar, obtendo 1,29 milhão de votos. Contudo, a proximidade de Anderson com Valdemar coloca em xeque a indicação do sanfoneiro.
É bem verdade que o Partido Liberal pode lançar os dois nomes — algo que o próprio Gilson já cogitou. "São duas vagas pro Senado. Ele [Anderson] pode vir candidato de Valdemar da Costa Neto e eu venho candidato de Bolsonaro. Não impede”, disse ao JC em fevereiro.
Entretanto, numa eleição em que duas vagas estão em jogo, dividir os votos entre os próprios bolsonaristas pode acabar ceifando as chances de o partido conseguir oito anos pisando na Casa Alta.