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João Paulo critica relação entre PT e PSB em Pernambuco e diz que João Campos "não ama a cidade e nem o povo"

Deputado estadual e ex-prefeito do Recife classificou como "submissão" e "dependência" relação do PT com o PSB em Pernambuco e no Recife

Por Pedro Beija Publicado em 20/06/2025 às 20:18 | Atualizado em 20/06/2025 às 21:29

Em entrevista ao videocast Cena Política, do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, nesta sexta-feira (20), o deputado estadual e ex-prefeito do Recife João Paulo (PT) fez críticas ao atual gestor da capital pernambucana, João Campos (PSB), e apontou como "submissão" e "dependência" a relação entre o PT e o PSB em Pernambuco. 

Uma das principais críticas de João Paulo a João Campos foi de que o pessebista "não ama a cidade e nem o povo", apontando que não vê ações em áreas de morros e em periferias para cuidar da população.

"Acho que o segredo para governar o Recife é ter, primeiro, um amor incondicional pelo povo, e segundo ter prioridades, governar para a cidade como um todo, mas ter prioridade para os mais pobres. [...] Eu acho que está faltando duas coisas essenciais para governar uma cidade como Recife: está faltando amor pelo povo e amor pela cidade", afirmou.

"Eu não acho que ele ame a cidade e nem o povo, é um sentimento que eu tenho, posso estar totalmente equivocado. Porque eu não vejo isso através das ações, principalmente nas áreas mais de periferias", complementou.

Ex-prefeito de dois mandatos no Recife, o petista também comentou sobre a alta aprovação de João Campos, apontando que a avaliação é resultado de dificuldades enfrentadas pela governadora Raquel Lyra (PSD), em especial no início de sua gestão. 

"Acho que hoje, aprovação é um elemento de conjuntura, até porque o prefeito não tinha essa aprovação toda antes do Governo do Estado ser assumido pela governadora Raquel Lyra, que, em tese, veio de uma eleição que não se esperava a vitória dela. Acho que as dificuldades dela ajudaram um pouco o desempenho do prefeito", disse.

Veja, na íntegra a entrevista de João Paulo ao videocast CENA POLÍTICA, do SJCC

João Paulo vê falta de coragem política em João Campos e objetivo eleitoral à frente de diálogo

Ainda de acordo com o petista, falta "coragem política" para resolver problemas como o transporte coletivo. João Paulo destacou que a "ausência de diálogo" entre João e Raquel se dá por "objetivo eleitoral".

"Acho que está faltando coragem política também. Nós não podemos viver problemas desses como o uber moto na cidade, a quantidade de acidentes. Acho que o problema do transporte coletivo tem que ser enfrentado. E falta coragem. E a ausência de diálogo do prefeito com a governadora, em função de um objetivo eleitoral, isso não é prova de amor pela cidade e amor pelo povo", destacou.

João Paulo apontou que o diálogo passou a ser ainda mais dificultado no momento em que João teria começado a se lançar como candidato ao Governo do Estado, ainda que o pessebista não tenha declarado publicamente uma candidatura. 

"Na medida em que ele se lançou candidato, isso dificultou o diálogo, com toda a certeza. Antes da reeleição dele, inclusive, acho uma precipitação, um erro político, é o que eu acho, agora cada um faz a sua análise. Porque aí você já colocou uma ameaça. Mas acho que quem tem uma visão republicana, não pode colocar o interesse eleitoral acima dos interesses da cidade"

"Como é que em uma cidade como Recife, o prefeito não dialoga com a governadora?", questionou.

O petista reforçou a necessidade de um diálogo entre João e Raquel para sanar problemas recorrentes de Pernambuco, como a mobilidade. João Paulo trouxe como exemplo parcerias feitas com o ex-governador Jarbas Vasconcelos (MDB), à época de sua gestão no Recife.

"O problema da mobilidade em Recife, que nós temos a pior mobilidade do Brasil, isso tem que ser enfrentado. Veja o quanto nós mudamos só com a retirada das kombis e a inversão do trânsito em Boa Viagem. Acho que tem que se resgatar esse espírito republicano e sim pensar no povo, que é quem tá pagando a conta no final", disse.

Polarização e antecipação de 2026 na Alepe jogam contra Pernambuco, diz João Paulo

Deputado estadual pelo quinto mandato, João Paulo também avaliou o momento atual da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), que vive clima de crise com o Executivo.

De acordo com o petista, a polarização eleitoral mudou o clima na Casa, que passou da aprovação de todos os projetos enviados pelo Governo do Estado, para questionamentos e condicionamentos de novos projetos.

João Paulo também apontou uma aliança entre o PSB e bolsonaristas na Casa, em alusão ao apoio dos socialistas ao nome de Coronel Alberto Feitosa (PL) para presidência da Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCLJ), mesmo com o partido tendo condições de indicar o presidente da comissão.

"Antes dessa disputa, todos os projetos foram aprovados. A partir da polarização eleitoral, condicionamentos estão sendo feitos ao Governo do Estado que não foram feitos em governo nenhum. Nós sempre aprovamos todos os empréstimos lá sem nenhum questionamento", afirmou.

"Agora, com essa aliança do PSB com os bolsonaristas, porque o PSB tinha condição de indicar o presidente da comissão de Constituição, Legislação e Justiça, isso está emperrando o Estado", acrescentou.

Apesar das críticas ao momento atual vivido na Alepe, João Paulo acredita que existe uma tendência de arrefecimento da crise na Casa. Após um período de travamento de pauta, os deputados voltaram a votar  e aprovar matérias, com exceção dos pedidos de empréstimo enviados pelo Governo, que foram alvo de questionamentos da oposição, que preside as principais comissões. 

"A tendência agora é arrefecer a crise na Alepe. Até porque os únicos projetos que estão travados, e acho que é um travamento político, são os que viabilizam o governo do Estado", disse.

O petista destacou que barrar os empréstimos é "insanidade" da oposição, afirmando que a ação pode até prejudicar um eventual mandato de João Campos, caso seja candidato e venha a derrotar Raquel em 2026.

"Uma coisa é questionar que não está sendo ainda aplicado, mas até na perspectiva de eleger um eventual novo governador, caso Raquel venha a perder, esse dinheiro estaria lá no governo para investir, com tudo pronto. É muito estranha essa posição", criticou.

"O direito de questionar faz parte do jogo. Mas impossibilitar o empréstimo é jogar contra o Estado", acrescentou.

João Paulo vê "submissão" na relação entre PT e PSB em Pernambuco

Figura histórica do PT em Pernambuco, João Paulo não poupou críticas à relação atual entre PT e PSB no estado. Para o ex-prefeito, o partido vem abrindo mão do projeto estratégico para manter uma aliança onde vem sendo preterido nos últimos pelos socialistas. 

"Existe um clima de desconfiança na relação do PT com o PSB", afirmou.

"O papel do partido político é assumir o poder para implementar sua forma de governar, seu plano de trabalho. Quando você não tem condição sozinho, você faz uma parceria. Mas você preserva determinadas coisas. O que é que acontece: o PT vem abrindo mão desse projeto estratégico do partido", acrescentou.

João Paulo citou como exemplo as eleições de 2022 e 2024, onde o PT não teve candidatos majoritários para o Governo e para a prefeitura do Recife, optando pelo apoio a candidaturas do PSB. 

De acordo com o petista, a base do PT não foi convencida do apoio a Danilo Cabral em 2022, que terminou a eleição em quarto lugar, com pouco mais de mil votos à frente de Miguel Coelho (MDB) e 45 mil votos atrás de Anderson Ferreira (PL), enquanto Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra ultrapassaram a marca de 1 milhão de votos. 

Já na eleição de 2024, João Paulo classificou como "extremamente humilhante" a posição em que o partido foi colocada para apoiar a reeleição de João Campos. À época, o PT chegou a indicar Mozart Sales para a vice na chapa com o PSB. Ao final, o prefeito optou por Victor Marques (PCdoB), citado por João Paulo como "barriga de aluguel" de João Campos.

"Você pode sentar com PSB, PSDB, qualquer que seja a política de aliança, mas em uma correlação de forças, onde você está de cabeça erguida, você vai negociar de parceiro para parceiro. Mas o que foi feito com o PT aqui, na eleição passada, foi uma coisa extremamente humilhante. Você fazer uma disputa interna para estar na vice que o prefeito nem quer, nem falou", criticou.

"O prefeito criou uma 'barriga de aluguel', pegou uma pessoa totalmente da confiança dele, que ele tem o direito, lógico, mas botou no PCdoB para dar um verniz de esquerda", complementou.

João Paulo também criticou a queda nos números do PT em eleições, desde que ele deixou a prefeitura do Recife, em 2008. 

"Quando eu deixei a prefeitura, nós tivemos de legenda mais de 45 mil votos. Para na eleição passada, em 2024, termos 2.700 votos de legenda", disse.

Ainda de acordo com o ex-prefeito, o PT vive uma relação de "submissão" e "dependência" com o PSB em Pernambuco, em especial no Recife.

De acordo com João Paulo, em caso de uma vitória do vereador Osmar Ricardo nas eleições do diretório municipal do partido, o PT ficará nas mãos de João Campos, em alusão a uma manobra feita pelo pessebista para viabilizar um mandato para Osmar na Câmara Municipal, quando colocou Marco Aurélio Filho (PV) no secretariado e abriu uma vaga da Federação Brasil da Esperança (PT-PCdoB-PV). 

"Veja bem o nível de dependência que o PT vai ficar se Osmar ganhar a eleição. O prefeito vai ficar com um vereador presidente do PT, que a hora que ele quiser tira o mandato dele. Isso é uma relação de muita submissão", criticou

Para João Paulo, o melhor cenário em Pernambuco, atualmente, é de que Lula (PT) tenha dois palanques no estado em 2026, possibilidade já verbalizada pelo presidente da República. Ainda de acordo com o deputado, a prioridade do partido em Pernambuco para 2026 é a reeleição de Lula e do senador Humberto Costa.

"O melhor cenário aqui para Lula, se o prefeito (João Campos) vai ser candidato, eu acho que é ter os dois palanques mesmo, é o melhor cenário para o PT. Pelo clima, acho que é muito difícil acontecer", disse.

Presidente estadual do PSB sai em defesa de João Campos e rebate João Paulo: "dor de cotovelo"

O presidente do PSB em Pernambuco e deputado estadual, Sileno Guedes, rebateu as críticas do colega de Alepe, em nota divulgada na noite desta sexta-feira

De acordo com Sileno, João Paulo tem uma "grande dor de cotovelo e vaidade vencida" e apontou "desconhecimento" do petista sobre ações de João Campos na prefeitura da capital pernambucana.

Sileno também apontou "sinais controversos" de João Paulo, em alusão ao alinhamento do petista com Raquel Lyra. Líder do PSB na Alepe e linha de frente da bancada oposicionista na Casa, Sileno estendeu as críticas à governadora.

"Falta de amor devem estar sentindo os 700 alunos com sonhos ameaçados pela incapacidade gerencial do atual governo em fazer a licitação do programa Ganhe o Mundo. Descaso vivem as mães com filhos na fila por um leito de UTI enquanto o Governo do Estado fecha a estrutura do Hospital Correia Picanço sem concluir a ampliação do Hospital Barão de Lucena", criticou.

Sileno também enfatizou que João Paulo "ruge como um leão" contra João Campos e "ronrona como um gatinho manhoso" para Raquel Lyra.

"Rugir como um leão contra o prefeito do Recife e ronronar como um gatinho manhoso para receber afagos da governadora de Pernambuco é uma escolha do deputado. Seria algo mais honesto, porém, se não recorresse a dois pesos e duas medidas", criticou.

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