Lula defende programas sociais após pressão por redução de gastos: "Eu não fui eleito para fazer benefício para rico"
Durante agenda em Minas, petista anunciou medidas sociais para população de baixa renda e apontou resistência política a projetos no Congresso

*Com informações de Estadão Conteúdo
Em visita a Minas Gerais nesta quinta-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que pretende lançar três novos programas sociais até o fim do seu mandato, em 2026. As iniciativas incluem a Nova Tarifa Social de Energia Elétrica, uma linha de crédito para reformas de moradias e uma medida para reduzir o preço do gás de cozinha.
Lula também aproveitou o discurso para defender os gastos sociais, em meio às pressões por uma redução nos gastos públicos. O presidente também reconheceu um "clima muito ruim" na Câmara dos Deputados.
Os anúncios foram feitos durante cerimônia em Mariana (MG), onde o presidente participou de um evento relacionado ao Acordo Rio Doce, assinado para promover a recuperação da região atingida pelo rompimento da barragem de Fundão, em 2015.
Energia mais barata para os mais pobres
Sobre a nova política para o setor elétrico, Lula criticou o modelo atual que, segundo ele, beneficia os mais ricos em detrimento das camadas populares. A proposta está em tramitação no Congresso por meio de uma medida provisória.
“Nós achamos que a energia desse país está muito cara e os ricos estão pagando menos do que os pobres. Os ricos compram no mercado livre e os pobres compram no mercado regulado. Não é humano, não é justo e não é digno o pobre pagar mais que o rico”, afirmou.
Crédito para reformas e gás mais acessível
O presidente também adiantou que, ainda neste mês de junho, o governo lançará um programa de crédito voltado para a reforma de moradias. A proposta busca atender famílias de baixa renda que vivem em condições precárias.
Em relação ao gás de cozinha, Lula questionou a diferença de preços entre o valor de venda da Petrobras e o cobrado aos consumidores finais.
“Você acha normal a Petrobras entregar o gás a R$ 37 e ele chegar para esses pobres consumidores a R$ 140? Alguém está ganhando dinheiro no meio”, disse o presidente.
Política pública para entregadores de aplicativos
Lula também defendeu uma nova política pública para entregadores de aplicativos, com foco em melhores condições de trabalho e acesso a crédito.
“O coitado que entrega comida, ele não tem um banheiro para utilizar. Ele, às vezes, vai entregar comida por outros com o nariz cheirando a comida do outro e o coitado estando com fome. Então, é preciso que a gente discuta um vale refeição para esse companheiro”, disse.
Segundo ele, o governo pretende viabilizar a compra de motocicletas elétricas para esses profissionais, além de estudar a criação de um vale-refeição.
"Eu quero fazer é uma política de crédito para os coitados que ficam entregando comida nesse país em umas motinhas bem 'véia', vagabunda. Nós vamos fazer uma política de crédito para que ele tenha uma motozinha elétrica para gastar pouca energia", declarou.
Lula defende programas sociais após pressão por redução de gastos públicos
Diante das pressões para reduzir os gastos públicos, Lula rebateu críticas de setores empresariais e do mercado financeiro, ressaltando a importância dos programas sociais. “Vocês sabem quanto que nós gastamos com ricos? Vocês sabem quantos bilhões a gente dá de isenção para os ricos desse país que não pagam impostos? R$ 860 bilhões. É quatro vezes o Bolsa Família”, afirmou.
O presidente reforçou que sua gestão tem prioridade nas camadas mais vulneráveis da população.
“Eu governo para todos os brasileiros, mas eu tenho preferência e obrigação moral, ética e política de cuidar do povo que mais precisa, do povo mais pobre, povo trabalhador, da classe média. Eu não fui eleito para fazer benefício para rico.”
Lula voltou a defender a valorização do salário mínimo, com ganhos reais acima da inflação, e criticou propostas que sugerem a desvinculação de benefícios sociais do mínimo. Segundo ele, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve ser redistribuído à população.
“Quando que a gente dá aumento? Quando o PIB cresce 3% é resultado da riqueza produzida por todos vocês. Se o PIB cresceu 3%, 4%, o que que eu tenho que fazer? Distribuir esse crescimento para quem? Para o povo brasileiro que é o responsável pelo crescimento”, disse.
"Clima muito ruim" na Câmara
O presidente também comentou o ambiente político no Congresso Nacional, especialmente na Câmara dos Deputados, onde o governo enfrenta resistência à proposta de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Para Lula, há um “clima muito ruim” na Casa.
“Tem deputado que não quer falar, ele só quer pegar o celular, olhar na cara dele, falar uma bobagem e passar para frente”, criticou o presidente, em referência à atuação de alguns parlamentares nas redes sociais.
Segundo ele, desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o país passou por um processo de “decadência e destruição”, e que sua gestão tenta agora reverter.