Terezinha Nunes: Candidatos ao Senado se equilibram entre os palanques de Raquel e João, únicos nomes definidos para 2026
Se a profusão de candidatos ao Governo há quatro anos embolou a disputa pelo Senado, a eleição de 2026 só vai ter dois nomes viáveis

Com exceção do ex-governador Carlos Wilson, que se elegeu senador em 1994 disputando de forma avulsa, Pernambuco carrega a tradição de, no caso dos anos em que estão em jogo duas vagas para o Senado, dar a vitória aos dois candidatos apoiados pelo governador eleito. Isso virou tradição ao ponto de a propaganda eleitoral exibir jingles dos três juntos para reforçar a união na urna. Ficou na cabeça da população que saía para votar cantando o refrão, a música que embalou a vitória de Jarbas, Marco Maciel e Sérgio Guerra em 1998.
Quando há uma só vaga em disputa, o governador eleito consegue, da mesma forma, eleger seu companheiro de chapa. Só em 2022 isso não aconteceu, porque tinha tantos candidatos a governador que, com honrosas exceções, alguns políticos disputaram o Senado para cumprir tabela e acabou a vitória ficando com Teresa Leitão, que usou a frase “senadora de Lula” e não foi tragada pela rejeição ao PSB cujo candidato a governador acabou em quarto lugar. Raquel, a vencedora no segundo turno, não conseguiu no primeiro eleger seu candidato Guilherme Coelho.
Disputa para o Governo definida
Mas se a profusão de candidatos ao Governo há quatro anos embolou a disputa pelo Senado, a eleição de 2026 só vai ter dois nomes viáveis pelo comando do Palácio do Campos das Princesas: a governadora Raquel Lyra, candidata à reeleição, e o prefeito do Recife, João Campos. A lista de candidatos ao Senado, porém, chegou ao recorde de oito nomes para apenas dois palanques, o que significa que quatro vão sobrar, a não ser que se aventurem à disputa avulsa.
- “Estão mais perdidos do que cego em tiroteio”– comparou esta semana um deputado estadual referindo-se à luta nos bastidores dos oito pré-candidatos para agradar um ou mesmo dois lados da balança, no caso, Raquel e João. No provável palanque do PSB há nomes em profusão; no de Raquel, ainda não, mas convictos de que a governadora pode surpreender, como o fez em 2022, ninguém quer perder contato com ela. Se João faz segredo dos nomes que pretende escolher para o Senado, com receio de perder apoio dos que ficarem de fora, os que pretendem estar com ele roem cada vez mais as unhas e não escondem o nervosismo e uma fundada incerteza sobre o futuro.
Oito disputam duas vagas
No tabuleiro do jogo pelo Senado estão os atuais senadores Humberto Costa (PT) e Fernando Dueire (MDB), que têm o apoio dos seus partidos e são candidatos naturais, segundo a regra vigente na Justiça eleitoral; o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (UB); o ministro Sílvio Costa Filho (Republicanos); a ex-deputada federal Marília Arraes (Solidariedade); o deputado federal Eduardo da Fonte (PP) e os pré-candidatos do PL, o ex-ministro Gilson Machado e o ex-prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira.
Na certeza de que não há lugar para um nome da direita na disputa pelo Governo do Estado, o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista ao Blog do Magno que seu nome preferido para o Senado é Gilson Machado, pregou a união e reconheceu que não se sabe ainda onde o candidato a senador pela direita vai estar. Arriscou que gostaria de apoiar um candidato de “centro-direita”.
Direita sem Governador quer ter um Senador
Mas o PL, pelo visto, vai precisar se contentar com a disputa avulsa, a não ser que muita coisa mude daqui para lá. No palanque de Raquel, é voz corrente que se Eduardo da Fonte for mesmo candidato, uma vaga será dele. Eduardo, porém, vai precisar se entender com Miguel Coelho, pois os dois vão estar na Federação do PP com o União Brasil, que só deve lançar um nome.
Como ninguém tem certeza de nada até agora, todos têm jogado com o objetivo de ficar bem com os dois. O PT de Humberto Costa e o MDB, de Fernando Dueire, já decidiram apoiar o candidato que garantir vaga para eles. O União Brasil, de Miguel Coelho, está dividido e o ex-prefeito de Petrolina torce por João mas, embora tenha fechado uma porta para Raquel quando reagiu mal à iniciativa dela de convidá-lo para um almoço e propor aliança, ele disse, na mesma entrevista sobre o assunto, que “não vou fechar as portas para ninguém”.
Silvio Filho e acenos a Raquel
O ministro Silvio Costa Filho, outro bem mais ligado a João, tem acenado para Raquel além do que exige o caráter republicano do seu cargo. Os dois já tiveram um encontro no gabinete dele a sós e o prefeito mais importante do Republicanos, partido de Sílvio, Diego Cabral, de Camaragibe, declarou-se esta semana como “da base de Raquel”. Seu deputado estadual João de Nadeji, do PV , faz parte da bancada governista na Assembleia.
Quem só tem acenado para João Campos é sua prima Marilia Arraes, que também pretende disputar o Senado e não saiu bem da campanha de 2022 em relação a Raquel porque teria falado coisas no calor do debate que magoaram a governadora. Gilson Machado, por enquanto, não se manifesta, mas o ex-prefeito Anderson Ferreira, que se afastou da governadora quando seu partido perdeu o Detran, apareceu inesperadamente no ato de filiação dela ao PSD e falou defendendo o diálogo.
Priscila Lapa explica conjuntura
A cientista política Priscila Lapa acha que na próxima eleição não há espaço para uma terceira via e explica o motivo: “do ponto de vista nacional, persiste uma polarização direita x esquerda que pode afetar as disputas estaduais, com o eleitor querendo fazer a conexão entre as candidaturas locais e seus respectivos líderes nacionais”. Já no âmbito estadual, segundo ela, “não está posto de forma clara se há uma conjuntura de mudança ou de continuidade”.
Para ela, “a boa performance de João Campos à frente da Prefeitura do Recife e, consequentemente, nas pesquisas de intenção de voto; e a avaliação positiva crescente da governadora e seus movimentos políticos recentes a colocam em uma estratégica condição de candidata competitiva. Nesse quadro, não há muitas chances para viabilizar candidaturas alternativas”.
Ela diz que, diferente de 2022, quando havia um grupo político desgastado no Poder e gestores municipais bem avaliados em busca de protagonizar um novo projeto político para o Estado, ensejando a apresentação de muitos candidatos a Governador, agora as condições são outras: “olhando para isso- conclui- lideranças políticas com capital eleitoral ainda estocado de 2022, vislumbram o Senado com uma alternativa cabível, viável e mais atrativa que a disputa ao Executivo Estadual, o que explica os muitos pretendentes para a eleição de Senador”.
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