Bebidas adulteradas: Polícia Civil investiga se casos suspeitos em Pernambuco têm relação com os de São Paulo
De acordo com o delegado de Lajedo, ainda não é possível detalhar origem das bebidas. Apevisa fará fiscalização e força-tarefa para prevenir casos

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Em meio à crise nacional de intoxicações por bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, Pernambuco informou que há três casos suspeitos em investigação, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE).
A atualização sobre os casos foi feita nesta quarta-feira (1º), durante coletiva de imprensa no Recife, com participação da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) e da Polícia Civil.
Dois dos casos investigados ocorreram em Lajedo, no Agreste, onde um homem morreu e o outro perdeu a visão. O terceiro caso, em João Alfredo, também no Agreste, deixou uma vítima fatal. A SES confirmou os registros na terça-feira (30).
A Prefeitura de Lajedo, no entanto, informou que há um quarto caso suspeito, envolvendo a morte de um jovem que bebia com as demais vítimas. Esse episódio ainda não foi oficialmente notificado à Apevisa, o que impede a abertura de investigação pela vigilância estadual.
Casos em investigação
Em Lajedo, as vítimas foram identificadas como Jonas da Silva Filho, 25 anos, que morreu após ingerir a bebida; Celso da Silva, 43, também morto; e Marcelo dos Santos Calado, 32, que sobreviveu, mas perdeu a visão.
Em João Alfredo, a Secretaria de Saúde confirmou outro óbito associado ao consumo de bebida adulterada. O nome da vítima não foi informado.
O delegado de Lajedo, Cledinaldo Orico, conduz as apurações sobre os episódios ocorridos na cidade. Ele afirmou que ainda não é possível detalhar a origem das bebidas consumidas pelas vítimas, para não atrapalhar as investigações.
“Por enquanto, não sabemos se esses casos têm conexão com os de São Paulo. As investigações estão no início, estamos coletando informações, ouvindo testemunhas, requisitando perícia. Precisamos primeiro confirmar tecnicamente a presença de metanol nesse material”, disse.
Segundo o delegado, uma das hipóteses é que a bebida tenha sido adquirida para revenda, mas sem conhecimento dos riscos da adulteração.
“A nossa preocupação primeira é evitar novos casos. De imediato, fizemos as comunicações necessárias para outros órgãos de segurança e solicitamos informações à Polícia Civil de São Paulo. Estamos apurando as possíveis conexões”, acrescentou Orico.
Risco maior em destilados
A diretora-geral da Apevisa, Karla Baêta, destacou que ainda não há confirmação laboratorial de metanol nos casos de Pernambuco, mas reforçou que a substância costuma estar associada a bebidas destiladas, como vodca, gin, cachaça e uísque.
“É mais comum nos destilados, mas qualquer bebida pode ser fraudada. O que chama atenção é que os sintomas iniciais se confundem com os de uma embriaguez comum, mas podem evoluir rapidamente”, afirmou.
Entre os sinais de intoxicação estão sonolência, dor de cabeça, náusea e vômitos nas primeiras horas. Após cerca de seis horas, podem surgir sintomas neurológicos e visuais, como visão turva, convulsões e até cegueira temporária ou permanente.
Orientações aos consumidores e comerciantes
Durante a coletiva, a Apevisa e a SES reforçaram cuidados básicos para prevenir novos episódios. Entre as recomendações aos consumidores estão:
- comprar bebidas em estabelecimentos licenciados pela Vigilância Sanitária;
- observar se o lacre da garrafa está intacto;
- conferir se o rótulo apresenta fabricante, composição, teor alcoólico, datas de fabricação e validade;
- verificar o registro de 13 dígitos do Ministério da Agricultura.
A diretora também alertou para preços muito abaixo do mercado, que podem indicar adulteração.
“Se uma garrafa que custa R$ 40 aparece vendida a R$ 15, é preciso desconfiar. Essa diferença pode ser indício de ilegalidade”, disse Karla Baêta.
Para comerciantes, especialmente os que compram em grande quantidade para revender em bares, restaurantes e praias, a Apevisa reforçou a necessidade de adquirir produtos apenas de fornecedores idôneos.
“Nossa preocupação é também com o consumo de drinks já prontos na praia. Como o cliente vai saber se aquilo não foi adulterado? Por isso, os pequenos comerciantes precisam redobrar o cuidado com a procedência do que compram”, alertou.
Fiscalização e força-tarefa
A Apevisa informou que vai realizar uma reunião com os municípios para harmonizar procedimentos de fiscalização. O trabalho contará com apoio do Procon, Ministério Público, Ministério da Agricultura e Polícia Civil.
“Se houver suspeita de produto fraudado, ele será coletado para análise em laboratório de referência”, disse Baêta.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) emitiu nota nacional e local reforçando que a maioria dos estabelecimentos associados adquire bebidas de fornecedores regulares.
Metanol e antídoto disponível
Karla Baêta também explicou que, no processo normal de destilação, é possível haver resíduo mínimo de metanol, em quantidades indetectáveis e sem risco à saúde. O perigo ocorre quando o composto é adicionado em volume maior para baratear a produção.
Em caso de intoxicação, o tratamento utiliza etanol como antídoto, distribuído pelo Ministério da Saúde aos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox). Em Pernambuco, o CIATox funciona 24 horas no número 0800 722 6001.
“Todos os CIATox do Brasil possuem esse antídoto. O serviço de saúde deve acionar imediatamente diante de uma suspeita de intoxicação para que o atendimento seja oportuno”, explicou.
Também é possível denunciar ou obter orientações pela Ouvidoria da SES, no número 136
Notificação tardia
Um dos pontos destacados pela Apevisa foi a demora na notificação de um dos casos, ocorridos no início de setembro.
“Acreditamos que o hospital tenha informado ao município, mas, como ainda não havia um alerta nacional, a vigilância local não interpretou como suspeita relacionada ao metanol. Isso retardou a investigação”, afirmou Baêta.
A diretora reforçou que a notificação é fundamental para que os casos sejam investigados e acompanhados oficialmente.