Intoxicação por metanol é mais perigosa que o álcool; entenda riscos e diferenças

Metanol, substância recentemente encontrada em bebidas alcoólicas, pode causar cegueira e danos irreversíveis mesmo em pequenas doses

Por Agência Brasil Publicado em 30/09/2025 às 10:13

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Apesar de quimicamente semelhante ao etanol, comumente presente nas bebidas alcoólicas, o metanol é uma substância metabolizada de forma diferente no corpo, podendo provocar danos permanentes ou morte, mesmo em doses baixas.

O etanol se transforma em acetaldeído, que é tóxico, mas o fígado geralmente consegue convertê-lo em ácido acético. O ritmo e a capacidade de metabolizar o álcool variam conforme idade, peso e saúde do fígado, podendo causar dependência, intoxicação e doenças no fígado, coração e rins.

No caso do metanol, o metabolismo gera formaldeído, que depois se transforma em ácido fórmico. Esse processo é mais lento e pode levar ao acúmulo em órgãos, sobrecarregando o sistema nervoso e, principalmente, o nervo óptico, provocando alterações na visão ou cegueira de forma temporária ou permanente.

Perigos da intoxicação severa

Em situações graves, a concentração de ácido fórmico no sangue afeta as mitocôndrias, responsáveis pela produção de energia dentro das células. O comprometimento dessas estruturas pode prejudicar todo o organismo.

Os sintomas iniciais geralmente surgem entre 12 e 14 horas após a ingestão, segundo a oftalmologista Hanna Flávia Gomes (CBV-Hospital de Olhos, DF). Podem incluir dores de cabeça, náuseas, vômitos, dores abdominais, confusão mental e alterações visuais, que não necessariamente aparecem todos ou em ordem específica.

"É importante procurar um médico logo, pois o tratamento adequado depende dos exames iniciais e da confirmação em laboratório. Doses a partir de 10 ml já podem causar cegueira", alerta Gomes.

Entre as medidas médicas estão corretores de acidez, como bicarbonato, suplementação com vitaminas (como ácido fólico), uso de antídotos como etanol venoso e, em casos graves, hemodiálise. Soluções caseiras não devem ser tentadas, pois o acúmulo de metanol no organismo pode se agravar rapidamente.

Sintomas que diferenciam o metanol

O neurocirurgião André Meireles Borba explica que, enquanto o etanol causa efeitos imediatos, os sintomas do metanol surgem de forma gradual, intensificando-se com o tempo.

"Mesmo após ingerir álcool, se horas depois aparecerem sinais diferentes dos habituais, especialmente alterações na visão, é motivo de alerta. Sintomas que pioram ao longo das horas são particularmente preocupantes". Possíveis sinais incluem cegueira, visão turva, intolerância à luz e manchas visuais.

Embora os sinais relacionados ao nervo óptico sejam mais comuns, os efeitos sobre as mitocôndrias são os mais perigosos. "O formaldeído do metanol interfere na produção de energia das células. É como encher o pistão de um motor com água: ele para de funcionar. Esse processo é difícil de tratar e, a partir de certo ponto, irreversível", explica.

Procure atendimento imediato

A recomendação é buscar atendimento de urgência sem demora. As unidades de saúde seguem protocolos de triagem que permitem diferenciar rapidamente os tipos de intoxicação e iniciar o tratamento adequado. Redes de referência podem orientar os profissionais para uma ação rápida e eficaz.

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