Laboratório em Pernambuco descobre espécies inéditas de formigas que só existem na Caatinga
Unidade científica Cemafauna, em Petrolina, investiga insetos do semiárido e projeta a Caatinga em pesquisas internacionais de biodiversidade

Clique aqui e escute a matéria
O semiárido nordestino, muitas vezes associado apenas à seca, guarda um tesouro biológico ainda pouco explorado. O bioma Caatinga, exclusivo do Brasil, ocupa cerca de 10% do território nacional e reúne espécies que não existem em nenhuma outra parte do mundo.
Nas paisagens de mandacarus, juazeiros e rios temporários, a vida se manifesta em estratégias de adaptação singulares.
Entre elas estão as formigas, insetos que se tornaram verdadeiros engenheiros ecológicos ao atuar na aeração do solo, dispersão de sementes e regulação de populações de outros organismos.
De Petrolina para o mundo
O Laboratório de Mirmecologia do Sertão, sediado no Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, é dedicado ao estudo da biologia, ecologia e diversidade das formigas, além de outros insetos.
Juntos, os pesquisadores e estudantes do centro percorrem as dunas de Casa Nova e Pilão Arcado (BA) e áreas ribeirinhas do Rio São Francisco.
Nessas missões, já catalogaram mais de 100 espécies de insetos, incluindo formigas e besouros, muitas delas endêmicas, ou seja, que só existem nesse bioma, e inéditas para a ciência.
Espécies inéditas registradas
Entre as descobertas mais marcantes estão o escaravelho Athyreus arretado e a joaninha Coeliaria almeidae, coletados nas dunas baianas. Já no grupo das formigas, o destaque vai para a Eurhopalothrix oxente, identificada em fragmentos de mata ciliar às margens do Velho Chico.
Para o coordenador das pesquisas, Benoit Jahyny, cada nova espécie representa mais do que um registro em catálogo.
“Descobrimos não apenas espécies inéditas, mas também ampliamos o conhecimento sobre insetos já descritos. Cada registro é um passo importante para entender o papel desses organismos no equilíbrio do ecossistema”, explica o professor Benoit.
As descobertas não se restringem às formigas. Em parceria com a Embrapa Tabuleiros Costeiros e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o grupo também descreveu novas espécies de vespas parasitoides, insetos que se desenvolvem dentro de outros animais, controlando suas populações naturais.
Entre elas estão a Gonatopus cambitos, encontrada no Serrote do Urubu, em Petrolina, e a Olixon caju, identificada no litoral sergipano.
Essas pesquisas reforçam a importância da cooperação científica e evidenciam o potencial dessas descobertas para fortalecer iniciativas de conservação e ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade do país.
Time de pesquisadores
À frente do Laboratório de Mirmecologia do Sertão, o professor Benoit Jahyny, francês radicado no Brasil, se especializou em mirmecologia, ciência especializada no estudo das formigas, e construiu sua carreira voltada à biodiversidade do semiárido.
“Essas pesquisas nos mostram que o semiárido guarda uma biodiversidade surpreendente”, reforça.
O time é formado também por estudantes e jovens pesquisadores que dão vida ao trabalho de campo. Entre eles, Gabriel Celante, Mário Gurgel, Adhan Gabriel Carvalho de Siqueira, Carleani Lima Caxias, Joyce Davilla Rodrigues de Moura, Maria Eduarda Araujo de Jesus e Samuel Morais Leite.
Caatinga, ciência e conservação
Apesar de sua riqueza, a Caatinga segue entre os ecossistemas menos estudados do Brasil, sobretudo no que se refere a invertebrados.
As formigas, no entanto, estão presentes em praticamente todos os ambientes e são consideradas bioindicadores ambientais, organismos capazes de revelar, por sua presença ou ausência, a qualidade e o equilíbrio de um ecossistema.
“O trabalho em parceria com nossos pesquisadores e estudantes tem resultado em publicações que projetam o nome do Cemafauna e da Univasf no cenário científico internacional”, ressalta Benoit.
Cada nova descoberta reforça o papel da ciência em dar visibilidade à Caatinga, um bioma que ainda guarda muitos mistérios. Os registros obtidos pelo laboratório se transformam em artigos científicos de alcance global.
Eles consolidam o semiárido nordestino não apenas como espaço de resistência humana, mas também como território de biodiversidade vital para a compreensão dos ecossistemas tropicais.
Saiba como acessar nossos canais do WhatsApp
#im #ll #ss #jornaldocommercio" />