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45 anos conectados com o Recife

Em 2025, pela primeira vez em 45 anos, o Shopping Recife ressignifica, com o MasterPlan, a sua concepção originária, típica dos anos 1980.

Por Flávia de Gusmão Publicado em 02/12/2025 às 0:00 | Atualizado em 02/12/2025 às 12:24

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O convite feito pelo Shopping Recife para confecção de uma publicação que registrasse os 45 anos de sua história como empreendimento pioneiro em Pernambuco chegou às minhas mãos com um propósito claro. Era preciso resgatar sua trajetória, desde a origem até os dias atuais. E ir além, delineando a rota para o futuro esboçada a partir do seu MasterPlan, um conjunto de medidas renovadoras que culminará numa ressignificação estrutural e conceitual a ser completada até o ano de 2035.

Livros são objetos artesanais cuja produção envolve uma cadeia de fornecedores que precisam atuar de forma incrivelmente sincronizada. Escritores que coletam informações e as transformam em histórias; revisores que se debruçam sobre o texto final; fotografias que precisam ser feitas por profissionais ou obtidas em bancos de imagem com o devido crédito; especialistas em tratamento de imagem entram em ação para deixá-las ajustadas aos padrões de impressão em alta qualidade; designers elaboram o projeto visual, fazem a diagramação e acompanham o produto até sua saída na boca da rotativa no parque gráfico.

Tudo isso faz da feitura de um livro uma aventura única, plena de descobertas e encruzilhadas que não admitem atalhos. As informações necessárias para reconstituir as quatro décadas e meia do primeiro shopping center do estado ou estavam dispersas em notícias factuais, indisponíveis, por não terem sido registradas pelos veículos de comunicação ou, mais simplesmente, não haviam sido compiladas por escaparem a um escopo mais específico, como o de um livro.

A biografia desse empreendimento, que tomou para si a responsabilidade de agregar o nome da capital pernambucana à sua marca, necessitava de depoimentos daquelas pessoas que testemunharam seu nascimento e expansão. Foram dezenas e dezenas de relatos que, por si só, conferem a este livro comemorativo um caráter de ineditismo.

Ao se aprofundar em entrevistas e pesquisas, a equipe formada por jornalistas veteranos garimpou fatos curiosos que dizem respeito não apenas aos sócios fundadores e ao funcionamento do equipamento em si, mas à formação de lembranças impressas em um público abrangente em faixa etária. Gente que vai buscar no baú da memória o Shopping Recife como cenário de uma parte importante de suas vidas.

O projeto editorial foi montado, debatido e refinado sob supervisão da diretoria do mall. Os capítulos conduzem o leitor cronologicamente, começando pelo ano de 1976, quando o terreno de quase 300 mil m² foi comprado da família Dhalia da Silveira, três anos antes do início da construção da primeira etapa. Por pouco o desenho do bairro de Boa Viagem, que àquela altura já demonstrava aceleração no crescimento, não toma outro rumo.

A edificação inaugural não seria fincada no centro do lote, mas à sua margem, beirando a Rua Ribeiro de Brito, próxima dos acessos e facilidades já existentes: água, energia elétrica e saneamento. Foi o conselho do consultor canadense Robert Lou Cox que mudou a localização. Segundo ele, embora tal reposicionamento fosse acarretar custos mais altos, o investimento seria recompensado pela valorização do entorno.

O mergulho nas origens do empreendimento mostrou ainda como os sócios fundadores do Shopping Recife - os cariocas Sergio Carvalho, Donald Stewart, Paul Matheson, Eugenio Agostini e Waldemar Costa - atentaram de imediato para a necessidade de mediar o diálogo com o público pernambucano por meio da arte e da cultura, justificadamente um orgulho local.

A escultura em cerâmica Leda e o Cisne, de Francisco Brennand, inicialmente instalada sob a escada monumental, no espelho d'água, permanece até hoje nas recordações de quem presenciou o primeiro projeto arquitetônico do mall. Às obras inaugurais - também com peças de Corbiniano Lins, Abelardo da Hora e José Claudio - juntaram-se mais 27 exemplares, assinados por artistas como Marianne Peretti, Miguel dos Santos, Eudes Mota, Christina Machado, entre outros. Tal acervo veio a formar o Parque das Esculturas, outro catalisador de identidade.

Em suas 228 páginas, este documento agrupa, juntamente com a história do Shopping Recife, um panorama de hábitos de consumo e comportamento urbano que estão em mutação permanente, refletido na evolução das cinco etapas construídas, nos bastidores de um equipamento com dimensões de uma pequena cidade, na convivência colaborativa com a comunidade vizinha de Entra Apulso, nos eventos que fazem parte das histórias familiares.

Em 2025, pela primeira vez em sua história de 45 anos, o Shopping Recife ressignifica, com o MasterPlan, a sua concepção originária, típica dos anos 1980. O formato "caixa fechada", que subsistiu através das décadas, cede lugar às demandas de um novo tempo. O Parque Gourmet é a primeira entrega dentro desse novo modelo de futuro, com mais verde, mais convívio, mais conexão com a cidade.

Ficha técnica do livro Shopping Recife 45 Anos - Coordenação editorial e texto final: Flávia de Gusmão; entrevistas e textos: Fabiola Blah, Jorge Cavalcanti, Patrícia Fonseca; revisão Kyanja Lee e Fabiola Blah; fotografia: Thiago Medeiros; tratamento de imagens: Robson Gomes; projeto gráfico: 2abad Design

Flávia de Gusmão, jornalista

 

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