OAB Nacional: 95 anos de futuro
Estamos, como no dia em que nascemos, olhando para frente. Com a convicção de que o Direito continua sendo um dos maiores patrimônios do país
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Ao pensar sobre o que escrever neste momento em que a OAB Nacional completa 95 anos, lembrei-me de uma citação feita pelo papa Francisco, ainda em fevereiro de 2020, quando recuperou o trecho de uma carta de seu antecessor Bento XVI: "O direito é condição do amor". A frase me acompanhou nos últimos dias porque, de algum modo, sintetiza o que a Ordem tem representado ao longo de quase um século. A OAB nasceu para garantir que a vida em sociedade fosse protegida por regras justas, mas também para assegurar que essas regras fossem instrumentos de cuidado e respeito. Celebrar 95 anos é reconhecer que o Direito é uma das formas mais altas de amor à sociedade e ao país.
A OAB é uma instituição que nasceu carregando o peso do tempo como impulso. Desde sua criação, em 1930, surgiu olhando para o que ainda sequer existia, para o país que seríamos, para a democracia que viria, para as garantias que um dia precisariam ser defendidas. Nossa Ordem nunca se acomodou no passado. Foi criada para provocar movimento e tensionar o Brasil a ser maior do que suas próprias crises. Somos construtores de futuro.
Nossa instituição atravessou regimes autoritários, redemocratizações, mudanças constitucionais, revoluções tecnológicas, transformações sociais das mais diversas. Em cada momento, deslocou-se com o país sem perder a espinha dorsal que nos sustenta: a defesa inegociável das liberdades e da Justiça como valor civilizatório. Foi assim, com coragem institucional e muita sensibilidade, que a OAB Nacional se tornou uma das vozes mais respeitadas da vida pública brasileira. Aprendemos a ler o país nas suas tensões e nas suas esperanças, entendendo que o Direito é, como gosto de dizer, uma forma de organizar a vida coletiva.
Não existe momento decisivo da nossa história nos últimos 95 anos em que a advocacia não tenha estado presente. Se tem uma coisa que caracteriza a nossa OAB é a consciência de que, onde há silêncio, o arbítrio prospera. E 95 anos depois, a Ordem continua sendo essa guardiã da responsabilidade pública. Não uma espectadora do país, mas parte viva do Brasil, pensando junto com a sociedade que tanto confia em nós.
Hoje, o Direito tem outros sotaques e outras cores. Há mulheres ocupando espaços que durante décadas não foram acessíveis. Há profissionais negros e indígenas que abriram portas antes fechadas. Há jovens que dominam as linguagens digitais sem perder a consciência do compromisso ético que sustenta a República. Há advogados e advogadas do interior que já não são exceção, mas alicerce da nossa profissão. A Ordem sabe que não se fortalece olhando para si, mas ouvindo a sociedade que nos legitimou e continua legitimando. Foi essa geração que trouxe a OAB para o século XXI, lembrando que uma entidade só é grande quando reconhece a grandeza de quem a compõe. Não são 95 anos de tradição e história apenas, são 95 anos de reinvenções.
A OAB Nacional, sob a presidência de Beto Simonetti, tem compreendido essa nova advocacia e conduzido a instituição com a firmeza e a visão estratégica características deste amazonense que tanto honra a nossa entidade. E Pernambuco sempre esteve presente nesse percurso. Já tivemos, à frente da OAB Nacional, o pernambucano José Cavalcanti Neves, que ocupou a presidência nos anos 1970 em um dos períodos mais exigentes da vida pública brasileira. A presença de Pernambuco no Conselho Federal nunca foi coadjuvante. A advocacia da terra dos altos coqueiros, com sua vitalidade, é uma das forças dessa construção que mantém a OAB respeitada em todo o mundo.
Para tanto, precisamos nos modernizar sempre. Se há algo que marca o tempo em que vivemos é a velocidade. As informações circulam antes mesmo de serem compreendidas, as opiniões que correm antes dos fatos. Em um ambiente de pressa permanente, a advocacia assume o papel de restituir ao debate público a precisão e a responsabilidade.
Aos 95 anos, adotamos novas ferramentas, discutimos ética digital, enfrentamos a desinformação, acompanhamos a transformação do mundo do trabalho jurídico, exigimos responsabilidade nos ambientes virtuais. É justamente nesses tempos instáveis que o país precisa de uma instituição que não se deixe seduzir pela urgência, mas que saiba escolher o que é essencial. A defesa da Constituição e da autonomia da advocacia exige preparo técnico e coragem. E a OAB permanece uma instituição que busca conduzir as mudanças com equilíbrio e compromisso público.
A OAB existe para proteger a advocacia e defender a sociedade. Pernambuco segue parte desse compromisso com a mesma seriedade de sempre. Somos uma advocacia formada por histórias de coragem, por profissionais que transformam sua própria vida em instrumento de serviço público. São mulheres e homens que acreditam na responsabilidade ética de quem escolheu defender o outro. É com essa energia que avançamos.
Estamos, como no dia em que nascemos, olhando para frente. Com a convicção de que o Direito continua sendo um dos maiores patrimônios do país e de que a advocacia permanecerá indispensável. Seguimos construindo, todos os dias, a instituição que as futuras gerações merecem encontrar. A OAB que honra sua história é a mesma que escolhe não parar no tempo. E se chegamos aos 95 anos firmes e necessários, é porque nunca esquecemos que o Direito só cumpre sua missão quando serve à vida, quando protege, quando ampara. Quando se aproxima do amor que o inspirou. É a OAB que acredita, e continuará acreditando, no futuro.
Ingrid Zanella, presidente da OAB-PE