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O Brasil e seus institutos nacionais de ciência e tecnologia

A ideia geral dos INCTs é permitir o desenvolvimento de grandes projetos de pesquisa de longo prazo em redes nacionais e internacionais

Por Helinando de Oliveira Publicado em 01/12/2025 às 7:06

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Os institutos nacionais de ciência e tecnologia (INCTs) surgiram como continuidade do programa Institutos do Milênio, a partir de 2008, e representam a principal fonte de incentivo ao fortalecimento de redes de pesquisa integradas e capilarizadas em todo o país. Dado o perfil heterogêneo de desenvolvimento das instituições de pesquisa no Brasil, com instituições centenárias e outras criadas há poucos anos, os INCTs são estruturados a partir de uma instituição-sede que seja referência de excelência no tema e que agregue grupos de pesquisa em diferentes níveis de maturidade acadêmica (emergentes, em consolidação e consolidados). A ideia geral dos INCTs é permitir o desenvolvimento de grandes projetos de pesquisa de longo prazo em redes nacionais e internacionais, com foco no estado da arte, resultando na formação de recursos humanos altamente qualificados.

O INCT de fotônica (INFO), em funcionamento desde 2008, e sediado na UFPE (Departamento de Física) vem sendo uma referência em aplicações com luz e tem abordado a multidisciplinaridade do tema, explorando o potencial da fotônica desde os estudos fundamentais em física e química até o desenvolvimento de novos materiais e aplicações em saúde (diagnóstico, fototerapia e tratamentos em odontologia).

No novo INFO, iniciado em 2025, o desafio é expandir as fronteiras do conhecimento pela integração de 17 instituições de ensino superior (entre grupos de pesquisa emergentes e consolidados) das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-oeste e construir uma grande rede de colaboração que consolide a pesquisa e a formação de mestres e doutores na temática e atuando na fronteira entre a academia e a indústria, resolvendo problemas que afligem o povo brasileiro.

Como membro da rede desde os tempos da rede Nanofoton, posso testemunhar o quanto tem sido importante para a Universidade Federal do Vale do São Francisco ter sido abraçada desde os seus primeiros passos. Quando a colaboração foi iniciada, a universidade ainda não contava com pós-graduação, e esta parceria permitiu que várias portas se abrissem para ações científicas. Anos depois, surgiu o mestrado em ciência dos materiais e na sequência, o doutorado. Vieram os primeiros doutores formados na Univasf, os estágios no exterior de doutorandos e as parcerias com universidades estrangeiras. Se o Brasil demorou a trazer as instituições de ensino superior para o interior, ao menos foi em um momento em que os INCTs puderam atuar como agentes catalisadores do crescimento.

E, por serem de longa duração, permitem que ações mais ambiciosas sejam planejadas e executadas. Como um dos destaques desta edição para o INFO podemos citar as aplicações em fotônica ambiental, quando se espera com que em poucos anos se tenha uma tecnologia genuinamente brasileira para detectar traços de metais pesados em água, solo e alimentos. Neste esforço que envolve física, química e ciência dos materiais, ganham os Yanomami e todos os afetados pela contaminação das águas, com os frutos de uma pesquisa financiada por brasileiros e voltada para o Brasil. Vida longa aos INCTs brasileiros.

Helinando de Oliveira é físico, professor da Univasf e vice-presidente da Academia Pernambucana de Ciências

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