Cai o pano - o julgamento final
Bolsonaro é hoje apenas mais um presidiário em Brasília, à espera de uma improvável anistia concedida pelo futuro presidente da República
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Jamais imaginei que pudesse ver, neste nosso País de tantas surpresas e desigualdades, militares de alta patente sentados nos bancos de réus, sendo julgados e condenados pela justiça comum - de lá saindo para cumprir a sentença. Isso só costumava acontecer com os mais pobres e desfavorecidos, que muitas vezes sequer tiveram direito a um Defensor Público, e que morreram na prisão sem que jamais fossem julgados.
Jamais vi, sentados no banco de réus, militares de qualquer das Três Forças sendo julgados por prisões ilegais, por sequestros de adversários do Regime, por tortura e morte de civis, que tiveram a má sorte de serem denunciados como adversários do Regime Ditatorial que tomou o Poder em 1964 - e dele só se afastaria mais de duas décadas depois.
Tive colegas e amigos que padeceram nas mãos de torturadores, que viveram no exílio por mais de uma década, que não puderam se despedir de entes queridos que morreram naquele período de trevas - e nenhum dos responsáveis por essas adversidades, comuns em todas as ditaduras, jamais foi punido com um único dia de prisão por esse rosário de crimes que cometeram. Rubens Paiva, Fernando Santa Cruz, Padre Henrique, Gregório Bezerra, Wladimir Herzog e Carlos Marighella são apenas uns poucos nomes de uma longa relação de vitimas da violência, que tiveram sua história posteriormente tornada pública após o fim da ditadura.
Vi, também, o deputado da bancada fluminense, Jair Messias Bolsonaro, no Plenário da Câmara Federal, no processo de votação que pedia o impeachment de Dilma Roussef, enaltecer e homenagear o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais célebres e mais sádicos torturadores do Regime, responsável pelas sessões de tortura da ex-presidente. Até mesmo adversários de Dilma se sentiram constrangidos com o ato inaceitável e covarde do deputado Jair Bolsonaro. Num regime democrático, que ele tentou usurpar, todos aqueles envolvidos na tentativa de Golpe e agora punidos peja Justiça brasileira, tiveram amplo direito de defesa, contrataram os melhores profissionais do mundo jurídico, jamais sofreram qualquer tipo de coação.
Se foram vitimas de alguma delação, esta foi feita por um tenente-coronel que era ajudante-de-ordens do próprio presidente, que esteve envolvido também numa tentativa mal-sucedida para vender algumas joias que pertenciam ao acervo da Nação, e não a Jair Bolsonaro, como ele quis fazer crer.Esse ajudante-de-ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, também trabalhou para falsificar certificados de vacinas, para o presidente e seus familiares, como ele mesmo confessou.
Sabe-se que Jair Bolsonaro é, hoje, um homem de saúde fragilizada, que a agressão que sofreu na campanha eleitoral que lhe garantiu a presidência, deixou, também, inúmeras sequelas, que só fizeram crescer ao longo do tempo. Por conta daquele atentado, Jair Bolsonaro já se submeteu a varias intervenções cirúrgicas, esteve internado diversas vezes, correu risco real de não resistir. Tudo isso é verdade - e nenhum bom cristão pode lhe querer mal, mesmo que ele tenha sido omisso diante de uma pandemia que provocou a morte de cerca de 650 mil brasileiros, segundo números dos órgãos oficiais; que tenha feito galhofa com a da dor alheia, dizendo que "era Messias, mas não fazia milagres"; que teve uma gestão fraca, em todas as áreas.
Exemplos: colocou no Ministério da Saúde um general intendente que jamais havia tido contato sequer com um auxiliar de enfermagem; escolheu e errou sempre nos nomes para o Ministério da Educação, sendo que um deles não falava corretamente o português; outro falava, mas não escrevia; um terceiro teve o currículo questionado, acusado de colocar ali informações não comprovadas. Sabe-se que durante seu Governo o Brasil tornou-se uma Nação que não merecia respeito nas relações internacionais, por conta de um chanceler Inepto e desconhecido; que todos os órgãos de cultura do país viveram quatro anos na escuridão.
Há inúmeras restrições e criticas à gestão do Presidente Jair Bolsonaro e a sua família, com acusações e suspeitas sobre o comportamento ético dos filhos, todos envolvidos direta ou indiretamente com a gestão do pai, sendo que três deles são políticos com mandatos parlamentares - e em alguns casos, parceiros na construção do processo que condenou Bolsonaro. Um deles, deputado pelo Estado de São Paulo, asilou-se nos Estados Unidos e passou a trabalhar contra o Brasil, ajudando Donald Trump a punir nosso país com tarifas exorbitantes par as exportações brasileiras.
Tudo isso, queira-se ou não, foi anexado ao portfolio do ex-presidente, hoje apenas mais um presidiário no sistema carcerário de Brasília, à espera de uma improvável anistia concedida pelo futuro presidente da República, no caso de Lula da Silva não conseguir a sonhada reeleição. Como se vê, o povo brasileiro carrega poucas esperanças para voltar a sorrir. Vai decidir, nas próximas eleições, sobre a recondução de Lula, um político idoso, de saúde frágil, que termina o Governo sem ter muito o que comemorar.
Empresas estatais, como os Correios, estão falidas e parecem irrecuperáveis; as relações com o Congresso são ruins; a inflação volta a ameaçar; a dívida pública está perto de colocar mo País num caminho sem volta; algumas declarações públicas de Lula constrangem quem escuta; os números são negativos na saúde, na educação, nas finanças públicas, há ministros demais para resultados de menos Do outro lado, um bom número de candidatos da direita e da extrema-direita, agora que o líder maior está preso, se colocam como seus herdeiros, todos temerosos de que sua mulher, a pastora evangélica Michelle Bolsonaro, não seja candidata. Nesse caso, todos iriam "beijar as tranças da mulher de Potifar".
Enquanto perdura a incerteza, o Congresso Nacional coloca bilhões reais dos Fundos Partidários nas mãos de políticos como Waldemar Costa Neto, Ciro Nogueira e outros mais, verbas essas bancadas pelo povo e, no meu entender, o maior assalto à luz do dia que se faz à Nação. talvez a única esperança do nosso povo ainda seja a Seleção Brasileira de Futebol, que vai disputar ano que vem mais uma Copa do Mundo, nos Estados Unidos, Canadá e México. Porque já é hora de se sonhar com alguma coisa menos triste.
Ivanildo Sampaio, jornalista