Artigo | Notícia

Sabores do Nordeste e do Brasil — gastronomia como patrimônio, identidade e desenvolvimento

Festivais bem planejados tornam-se marcas fortes dos municípios: atraem mídia, estimulam a profissionalização do setor, geram empregos......

Por SERGIO AROUCHA Publicado em 24/11/2025 às 0:00 | Atualizado em 24/11/2025 às 11:45

Clique aqui e escute a matéria

A gastronomia é mais do que comida. É cultura, história, afeto e identidade. Em Pernambuco, essa verdade se manifesta de forma exuberante, com pratos típicos que contam a trajetória do nosso povo. E quando a gestão pública municipal entende esse potencial e investe nos festivais gastronômicos, o resultado é poderoso: desenvolvimento econômico, valorização cultural e fortalecimento do turismo. Falo com conhecimento de causa. Quando fui Secretário de Turismo em São José da Coroa Grande, no Litoral Sul de Pernambuco, organizamos o primeiro Festival de Gastronomia do município. Foi uma das experiências mais gratificantes da minha trajetória como gestor público.
O evento movimentou toda a cidade. Os comerciantes aderiram como verdadeiros parceiros e conseguimos atrair visitantes de diversas partes de Pernambuco e até de fora do estado. Foi um sucesso absoluto — uma prova concreta de que o investimento certo gera retorno para todos. Em Pernambuco, não faltam bons exemplos. O Festival Gastronômico de Gravatá, no Agreste, e o Festival de Comida de Boteco de Petrolina, no Sertão, mostram como unir cultura e sabor pode atrair turistas, gerar empregos e promover os talentos locais.
Em Goiana, no Litoral Norte, os sabores do mar ganham destaque, enquanto Taquaritinga do Norte mostra que gastronomia também combina com café, doces artesanais e turismo rural. O povo pernambucano tem fome de cultura. E como bem disse o cordelista Rômulo Bourbon: “A pessoa em Pernambuco tem uma fome arretada... num prato tem dobradinha, e no outro tem buchada. Sobremesa lhe dão bolo rolo com recheio de goiabada”. Essa frase traduz, com humor e verdade, a nossa relação com a comida — e com nossas raízes.
Mas, quando olhamos além das fronteiras de Pernambuco, percebemos que o Nordeste inteiro é um caldeirão de sabores, saberes e tradições. Na Bahia, o acarajé, o vatapá e o bobó de camarão mostram a força da herança africana e movimentam uma economia que envolve cultura popular, empreendedorismo feminino e turismo. No Ceará, pratos como a peixada, o baião de dois e o caranguejo reforçam a identidade litorânea e atraem visitantes em busca de experiências autênticas. Já no Rio Grande do Norte, o famoso camarão potiguar impulsiona festivais e roteiros que tornaram Pipa e Tibau do Sul destinos reconhecidos internacionalmente.
Na Paraíba, o rubacão, a carne de sol com macaxeira e os frutos do mar de João Pessoa se destacam pela mistura entre litoral e sertão. No Maranhão, o arroz de cuxá, o camarão seco e o peixe no leite de coco revelam uma gastronomia marcada pela influência indígena e africana, rica em personalidade e profundamente ligada à história local. Em todo o Nordeste, a culinária se apresenta como fonte de orgulho, pertencimento e desenvolvimento econômico, especialmente quando é valorizada por iniciativas públicas bem estruturadas.
E quando ampliamos ainda mais esse olhar, percebemos que o Brasil inteiro é uma potência gastronômica. Um país continental com identidade múltipla, onde cada região conta sua história através da comida. No Norte, ingredientes como tucupi, jambu, pirarucu e açaí formam uma das cozinhas mais originais do mundo e já levaram Belém a ser reconhecida como Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco. No Sudeste, Minas Gerais celebra o frango com quiabo, o feijão tropeiro e o queijo artesanal como símbolos de uma culinária afetiva e acolhedora. No Sul, a força das tradições europeias se mistura às carnes, vinhos e aos sabores coloniais que atraem milhares de turistas todos os anos. Já no Centro-Oeste, o pequi, o pintado e o arroz com guariroba carregam o DNA do Cerrado.
Essa variedade extraordinária mostra que a gastronomia brasileira é um patrimônio vivo, capaz de gerar oportunidades, movimentar economias e fortalecer identidades. Por isso, defendo que as prefeituras incentivem com seriedade os festivais de gastronomia. Eles são ferramentas de transformação. Capacitam, integram, movimentam o comércio e mantêm viva a nossa identidade. Além disso, aproximam produtores, chefs, artesãos, agricultores familiares, empreendedores e turistas, criando uma cadeia virtuosa que beneficia toda a comunidade.
Festivais bem planejados tornam-se marcas fortes dos municípios. Eles atraem mídia, estimulam a profissionalização do setor, geram empregos e ampliam a visibilidade local. Quando alinhados ao turismo, tornam-se motores de desenvolvimento sustentável. Com planejamento, parcerias e visão estratégica, é possível transformar sabores em desenvolvimento e orgulho local — em Pernambuco, no Nordeste e em todo o Brasil.


Sergio Aroucha, ex-presidente da Astur -PE, Administrador de empresas e Mercadólogo.

Compartilhe

Tags