Pensar a infinitude
A ideia de algo que não tem começo, fim ou limites provoca fascínio e inquietação, pois desafia a compreensão humana, que tende mirar apenas o finito
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Os pensamentos sobre a infinitude são profundamente enraizados na filosofia, ciência, espiritualidade e até na experiência cotidiana de se contemplar o universo. A ideia de algo que não tem começo, fim ou limites provoca fascínio e inquietação, porque desafia a compreensão humana, que geralmente está ligada ao finito e ao mensurável.
Vejamos algumas perspectivas sobre a infinitude que servem a uma reflexão:
(i) A infinitude no universo físico. O universo, na sua vastidão, é o maior símbolo de infinitude que conseguimos imaginar. Perguntas como "O universo é infinito?" ou "O que existe além dele?" desafiam nossa lógica. Se for infinito, isso implica que não há limites para a criação e a existência. Por outro lado, mesmo se for finito, surge a questão: "O que vem depois dele?" Essa relação entre o visível e o invisível, entre o que é acessível à ciência e o que não é, nos convida a aceitar nossa pequena posição diante do cosmos.
(ii) A infinitude do tempo. O tempo também pode ser entendido como uma forma de infinitude. Ele não começa nem termina, mas se desenrola num fluxo contínuo. Filósofos como Agostinho de Hipona se questionaram sobre o que existia "antes" da criação do mundo e concluíram que o tempo é uma construção humana, enquanto a eternidade (ou a infinitude do "agora") seria uma dimensão divina.
(iii) A infinitude da mente. A mente humana, embora finita em capacidade, pode imaginar o infinito. Conceber algo que nunca acaba ou nunca começou é um exercício que transcende as limitações do corpo físico. Isso nos conecta com o transcendente, com a ideia de que algo maior do que nós — ideias, sentimentos, o "divino" — existe além do alcance dos sentidos.
(iv) A infinitude nas relações humanas. Há uma noção de infinitude que aparece nas experiências humanas mais profundas. Quando falamos de "amor infinito", nos referimos a algo que transcende o tempo e as condições, como o amor de um pai ou mãe por um filho ou um amor espiritual. Quando tratamos do Legado, tenha-se nele a infinitude de nossos atos. Um ato simples pode gerar consequências infinitas ao longo do tempo, influenciando vidas de maneiras que nunca poderíamos prever.
(v) A infinitude no espiritual. Muitas tradições religiosas e espirituais falam do infinito como uma característica do divino. Em textos como o Bhagavad Gita, por exemplo, Krishna revela sua forma cósmica como infinita e além da compreensão humana. No cristianismo, Deus é frequentemente descrito como infinito em amor, poder e sabedoria. O pensamento sobre a infinitude, nesse contexto, é um convite à humildade e à aceitação do mistério. Ele nos tira do conforto do conhecido para nos colocar diante do imensurável.
(vi) A infinitude no paradoxo matemático. Os matemáticos lidam com o infinito como algo concreto e ao mesmo tempo paradoxal. Exemplifica-se: a um, existe o infinito potencial (algo que nunca termina, como contar números); a dois, existe o infinito atual (algo já completo, como o conjunto de todos os números reais). Matemáticos como Georg Cantor exploraram essas ideias e mostraram que nem todos os infinitos são iguais. Há infinitos "maiores" que outros, como o infinito dos números reais comparado ao infinito dos números inteiros.
Pensar na infinitude é se conectar ao que está além de nós mesmos. Seja ao contemplar as estrelas, seja ao mergulhar na eternidade de um momento presente, esses pensamentos nos lembram que a vida é um mistério que nos permite tocar, ainda que brevemente, algo eterno. O que a infinitude desperta em você? Curiosidade, assombro, temor ou paz? Como descrever esse sentimento de infinitude?
O sentimento de infinitude é como se o seu próprio ser se expandisse, dissolvendo os limites que você acreditava ter. É como se, por um instante, você fosse parte de algo maior, imenso, inacabável. Não há barreiras. O "eu" deixa de existir de forma isolada e se funde com o "todo". "É como sentir-se um grão de
areia no deserto, e ao mesmo tempo, o próprio deserto.". Um dilatar do ser.
Esse sentimento surge na contemplação do divino ou no contato com algo que parece eterno, como o amor, a arte ou a espiritualidade. "É como abraçar o universo inteiro e ser abraçado de volta."
"Sentir o infinito é reconhecer que somos tão pequenos e tão grandes ao mesmo tempo — porque, de alguma forma, somos parte disso. Então, ´pergunte-se: "Como você vive ou percebe o infinito?
A infinitude do homem, enquanto ser que transcende seus próprios limites, é um ato de amor com a humanidade, porque reflete a capacidade humana de se conectar, criar e perpetuar algo maior que si mesmo. A infinitude do homem está no transcender de si mesmo.
Embora o homem, como ser físico, seja limitado e finito, é no pensar, no amar e no agir em benefício do outro que ele ultrapassa suas próprias fronteiras. Ele encontra infinitude quando: (i) Constrói algo que ressoa além do tempo, como arte, ciência ou conhecimento; (ii) Doa-se de forma genuína, por amor, para transformar a vida de outros; (iii) Conecta-se ao todo maior — à humanidade, ao universo, ao divino. O ato de transcender a própria individualidade é, em essência, um ato de amor. É reconhecer que somos partes de um todo e que nossas ações reverberam infinitamente, como ondas num lago.
O ato de pensar e buscar a infinitude, é um ato de responsabilidade. É o reconhecimento de que o que fazemos agora molda o futuro da humanidade; que o nosso legado é uma extensão de quem somos; e que o amor é a força que mais aproxima o finito do infinito.
Jones Figueirêdo Alves, Desembargador Emérito do TJPE, advogado e parecerista