Fake news: uma ameaça silenciosa à saúde bucal
A desinformação faz com que a confiança nos profissionais de saúde seja abalada quando alguém toma como verdade um vídeo viral nas redes sociais
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A Odontologia ao longo dos anos viveu inúmeras modas e segue sendo vítima de “dicas milagrosas”, “tratamentos rápidos”, “soluções de outro mundo” que prometem soluções rápidas e baratas para resolver os problemas bucais. A maioria dessas informações não têm base científica, são as chamadas fake news, e podem comprometer seriamente a saúde das pessoas, não apenas a saúde bucal. Com o avanço do uso das redes sociais, isso tem se tornado cada dia mais comum. As mentiras mais comuns são: receitas caseiras para clarear os dentes com carvão ativado ou bicarbonato, promessas de tratamentos naturais que podem substituir a ida ao dentista, e a mais difundida de todas é em relação ao uso de flúor, seja na fluoretação das águas ou no uso de creme dental fluoretado.
Ainda que pareçam inofensivas, essas desinformações podem causar danos sérios como desgaste no esmalte dos dentes, lesões na mucosa oral, retração gengival, hipersensibilidade e até, em último caso, a perda dental. A fluoretação das águas é reconhecida por mais de 70 anos como uma das formas mais eficazes e seguras de prevenir cáries em todo o mundo, mas nos últimos anos, vários médicos e alguns dentistas têm difundido informações, sem comprovação científica, que o flúor causa danos, seja na água ou nos dentifrícios (produtos usados para limpar os dentes). Em 1988, apenas 20% dos dentifrícios no Brasil eram fluoretados, e tínhamos um elevado índice de cáries na população, a partir daí houve a introdução dos dentifrícios fluoretados e o que aconteceu foi uma redução expressiva no número de cáries em todas as classes sociais.
A desinformação faz com que a confiança na ciência e nos profissionais de saúde seja completamente abalada, quando alguém toma como verdade um vídeo viral nas redes sociais, em vez de confiar na orientação do profissional da Odontologia, há atrasos no diagnóstico, abandono dos tratamentos e prejuízos que podem levar a perda dos dentes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou que as fake news são uma das maiores ameaças à saúde pública global.
Se informar através de fontes confiáveis, conversar com os profissionais habilitados e evitar os conselhos das pessoas sem formação na área são medidas essenciais para evitar problemas. Além disso, Dentistas e instituições tem um papel de grande importância para o combate à desinformação. Por isso é necessário explicar com clareza, produzir conteúdos de qualidade e ajudar pacientes a distinguir os fatos dos boatos.
A saúde bucal e suas repercussões vão muito além da escovação dos dentes, envolve informação de qualidade, e cada dia mais se evidencia como a saúde bucal tem influência na saúde geral. Se você tiver dúvidas, sempre confie em profissionais de saúde e em fontes oficiais, não se deixe levar por dicas virais em redes sociais.
Renata Cimões, Membro da Academia Pernambucana de Ciências, Doutora em Odontologia e Professora da UFPE