A reforma imprescindível
No Brasil, a primeira das reformas deveria ser a Reforma Política, com especial atenção a por fim definitivamente ao instituto da reeleição.
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Partidos de oposição ao governo cogitam ingressar na Justiça contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a denúncia de "campanha antecipada", vez que ultimamente ele tem visita a vários Estados brasileiros, procurando sedimentar sua candidatura à reeleição.
Campanha aberta e à luz do dia. Trocou ministros; ampliou gastos com propaganda; anunciou medidas que contemplam as classes menos favorecidas, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil; "escondeu-se" de temas delicados, como as relações com a Venezuela e o ditador Nicolas Maduro; não falou mais da guerra na Ucrânia, onde Putin, seu ídolo, continua bombardeando bairros residenciais e matando inocentes, assim como Israel vinha fazendo na faixa Gaza.
O presidente Lula não quer correr qualquer risco que possa atrapalhar sua candidatura, e tenta fortalecê-la a qualquer, preço, inclusive trazendo Guilherme Boulos para o ministério, que apesar de rejeitado pelos mais conservadores, tem forte apelo junto ao eleitorado mais à esquerda em São Paulo. A bem da verdade, isso não está ocorrendo agora: acontece desde o primeiro dia após a posse de Lula na Presidência, já que o instituto de reeleição permite e promove esse tipo de comportamento, ainda mais num país onde as legendas partidárias são um cobertor curto, que quando cobre a cabeça, deixa de cobrir os pés.
Legendas das quais se entra e sai sem qualquer barreira, que nunca procuraram ver o histórico ou a biografia de qualquer candidato, que têm políticos como Waldemar Luis Alves, Ciro Nogueira, Carla Zambelli, Silas Malafaia entre outros do mesmo perfil - e que têm ao seu dispor a cada exercício, bilhões de reais vindos dos Fundos Partidários. Financiados pelo povo, que vai pagar cerca de três trilhões de reais de impostos nesse exercício, com o ministro Fernando Haddad brigando no Congresso por mais dinheiro.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, quando no Poder, não trabalhou por um novo mandato através do voto: cercou-se de militares para planejar e executar um golpe de Estado, que esticaria por algum tempo no poder não apenas ele, mas sua família e seus seguidores mais radicais. Foi na gestão dele que os Fundos Partidários chegaram a valores jamais imaginados. E o Congresso continua com sua sede insaciável.
Instituições como partidos políticos, cevados com o dinheiro de cada cidadão brasileiro, não costumam primar pelos gastos. Nem pela ética. Alguns parlamentares, inclusive, torciam pelas intenções de golpe costuradas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. O presidente Lula, queira-se ou não, também é um animal político. Aproveita-se Do que está aí. E não demonstra qualquer intenção de mudança nesse processo. Com sua popularidade descendo ladeira abaixo, recebeu, de repente, a inestimável e imprevista ajuda de Donald Trump, quando este resolveu enfiar a colher em assuntos internos do nosso país, para defender Jair Bolsonaro, que acabou condenado a quase 30 anos de prisão.
Lula engrossou a voz contra o presidente norte-americano, criticou abertamente o deputado Eduardo Bolsonaro, o entreguista, e viu sua popularidade melhorar. E virou novamente "um amigo" de Trump. Trocaram telefonemas e nvão se encontrar pessoalmente.
Enfim, Lula vai disputar o quarto mandato e, se conseguir se eleger, provavelmente lançará, no final de sua gestão, a candidatura de Dona Janja da Silva para substitui-lo, já que os filhos não levam jeito para a politica. Convenhamos: entre as tantas reformas pelas quais nosso país espera e implora, a Reforma Política, sem qualquer dúvida, é uma das mais necessárias. Se o Brasil possuísse uma República séria, com políticos éticos que pensassem o País, essa Reforma já teria ocorrido.
Foi no primeiro mandato do então presidente Fernando Henrique Cardoso que o jovem deputado pernambucano, Mendonça Filho, viu aprovada sua proposta de Emenda Constitucional, permitindo a reeleição dos ocupantes de cargos executivos: prefeitos, governadores, presidentes da República. Com mandatos de quatro anos para cada eleito. Com o argumento de que, sem a reeleição, um período de "apenas" cinco anos não era suficiente para que cada eleito conseguisse cumprir as promessas de campanha. O argumento era bom e a intenção também.
A troco de uns poucos imprevistos, como a compra de votos de alguns parlamentares, depois punidos, a proposta de Mendonça Filho acabou aprovada. E vem desde aí essa longa caminhada da história de nossa desgraça republicana. Hoje, nenhum político que ocupa cargo executivo se contenta com um mandato de quatro anos e se elege já pensando no segundo mandato. E ninguém tem coragem de combater isso.
Com um Congresso fragilizado pelo radicalismo e pelas brigas internas, com um presidente da Câmara dos Deputados sem qualquer liderança e humilhado pela direita mais radical, com os líderes da oposição torcendo para "o quanto pior, melhor" - fica difícil qualquer mudança num sistema onde todos procuram ganhar e o povo perde sempre. Enquanto isso, a dívida interna cresce a cada dia, as contas públicas ultrapassam todos os limites da prudência, a Previdência Social já vive hoje a ameaça de não ter condições de pagar os aposentadorias.
E quando isso acontecer, provavelmente o povo acordará para os erros acumulados do nosso sistema e de nossa frágil República. Com isso, se houver Congresso, talvez sejam realizadas as reformas que o país cobra e carece a tanto tempo. A primeira de todas as reformas deveria ser a Reforma Política.
Ivanildo Sampaio , jornalista