A emoção das minhas visitas à Basílica do Santo Sepulcro
É comovente observar idosos fazendo um esforço extraordinário para chegar ao local onde, segundo a fé cristã, Jesus foi sepultado e ressuscitou.
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Tive a felicidade de visitar Jerusalém cinco vezes. A Basílica do Santo Sepulcro, um dos locais mais visitados da Cidade Santa, foi um dos locais que mais me emocionaram, todas as vezes Situada no bairro cristão da cidade antiga, é o templo erguido no local onde, segundo a tradição, Jesus foi crucificado, morto, sepultado e ressuscitou ao terceiro dia.
Em um caso único no mundo, sua administração é compartilhada entre diversas igrejas: a Católica Romana, a Ortodoxa Grega, a Apostólica Armênia, a Ortodoxa Siríaca e a Ortodoxa Etíope. É também a residência oficial do patriarca grego ortodoxo de Jerusalém.
O templo original foi construído por ordem do imperador Constantino, o Grande, após sua conversão ao Cristianismo e a adoção da fé cristã como religião oficial do Império Romano. A basílica foi destruída e reconstruída duas vezes, ao longo dos séculos, mas sempre restaurada com zelo. É considerada o espaço mais sagrado do Cristianismo em todo o mundo.
A grandiosidade da igreja, tanto em sua arquitetura quanto em sua carga simbólica e espiritual, faz com que os peregrinos permaneçam horas explorando seus recantos e orando. Desde 1192, as chaves da Basílica do Santo Sepulcro estão sob a guarda de uma família muçulmana, tradição que se mantém há mais de oito séculos e é passada de geração em geração.
As constantes disputas entre as comunidades cristãs que compartilham o templo geraram episódios curiosos. Um exemplo é a velha escada de madeira que repousa em uma das janelas da fachada, desde 1852. Nenhum grupo ousa movê-la, por receio de desentendimentos com as demais comunidades. Todas as noites, representantes de cada denominação cristã dormem no interior da basílica, com o duplo propósito de proteger o santuário e garantir o respeito aos espaços de suas respectivas igrejas.
O acesso à igreja é feito por uma única porta, voltada para um pátio quase sempre repleto de fiéis. Essa entrada estreita já causou tragédias no passado - em 1840, um incêndio causou pânico e dezenas de peregrinos morreram pisoteados.
Três pontos principais merecem destaque na visita. Logo após o portão de entrada, está o Monte Calvário (ou Gólgota), acessível por uma escada íngreme de pedra. No topo, há uma grande rocha protegida por vidro, venerada como o local onde Jesus foi crucificado. Muitos peregrinos ajoelham-se para tocar o espaço em que teria sido fincada a cruz.
Na parte inferior, próxima à entrada, encontra-se a Pedra da Unção, onde, segundo os Evangelhos, o corpo de Jesus foi ungido e preparado para o sepultamento. Diariamente, centenas de fiéis se revezam diante da pedra, ajoelhando-se e beijando-a. O local é perfumado, já que muitos espalham fragrâncias sobre ela, em lembrança do ritual de preparação do corpo de Cristo.
Por fim, o local mais sagrado e importante. A Edícula, palavra que quer dizer uma casa ou santuário de tamanho pequeno. É um grande mausoléu de mármore que coroa a nave circular da igreja, onde fica o túmulo de Jesus. Para chegar a ele, é preciso passar por um corredor estreito, ter que abaixar a cabeça até chegar ao local onde Cristo foi enterrado. Quem consegue, coloca as mãos no local sagrado. Chegar ao Santo Sepulcro não é fácil. Todas as horas tem filas imensas, a demora pode ser de várias horas.
As filas para entrar são longas e a espera pode durar horas. Um frade controla o acesso, permitindo a entrada de apenas cinco pessoas por vez. Em diversos momentos, a passagem é interrompida para as procissões e ritos das diferentes denominações cristãs, ou para religiosos de várias denominações, que circulam fazendo orações pelo templo, com incensos e cânticos, cada qual com suas vestes e horários específicos de oração.
É comovente observar idosos e pessoas com dificuldade de locomoção fazendo um esforço extraordinário para chegar ao local onde, segundo a fé cristã, Jesus foi sepultado e ressuscitou.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1