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Histórias de contar (V): uma didática cristã

A cristandade tem seus primórdios enraizados na história, na cultura e na fé que se formou a partir da vida, morte e ressurreição de Jesus.

Por JONES FIGUEIRÊDO ALVES Publicado em 21/10/2025 às 0:00 | Atualizado em 21/10/2025 às 9:59

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Uma cosmovisão cristã, seja em contextos educacionais formais (como escolas e seminários) ou informais (como igrejas, grupos de estudo, ou no discipulado pessoal), sugere a aplicação dos princípios e valores cristãos no processo de ensino e aprendizagem. Mais precisamente, cuida-se de uma didática cristã, cujos conteúdos e métodos são fundamentados nas Escrituras.

Em ser assim, alinhem-se, no propósito informativo, alguns elementos essenciais dessa didática, aqui expostos, a seguir:

O termo "Cristão" surge, pela primeira vez, na Antióquia, aproximadamente no ano 40 d.C. Ali, ainda quando não completados dez anos da morte de Jesus, os seus moradores passaram a denominar os fiéis de "cristãos" (do grego "christos") que significava "ungidos", assim chamando-os para torná-los identificados na cidade, a essa altura em crescente desenvolvimento. Antióquia, na atual Síria, era a terceira maior metrópole do mundo antigo, depois de Roma e Alexandria do Egito.

Anote-se que difusão do cristianismo começou a ser feita, pela pregação de Tiago Maior, em toda a Palestina (33 d.C.), proclamando a ressurreição de Cristo. Ele dirigiu a comunidade cristã em Jerusalém, por quase trinta anos. A doutrina foi, então, difundida em todo o Mediterrâneo. Sua morte, decretada pelo sumo sacerdote Hanan bem Hanan, em 62, é referida pelo historiador judeu Flávio Josefo, como "uma grande infâmia".

Estevão, um judeu da diáspora, que não conheceu Jesus e teve uma formação helênica, foi o primeiro mártir do cristianismo (34 d.C.), apedrejado em Jerusalém, por pregar a divindade de Jesus, ao afirmar que o vira, "à mão direita de Deus."

A propósito, a expressão "mártir" tem sua origem, em Lyon (Lugdunum), no ano 177 d. C., quando no dia de sua festa oficial anual, onde se prestava juramento ao imperador, no anfiteatro da colina de Fourvières, a multidão assistiu ao sacrifício de cristãos, jogados às feras. Naquele dia, antes de condená-los, o governador interrogou-os para confirmá los se eram cristãos. Com a resposta positiva, eles se tornaram "mártires", em grego "martur" (testemunha); mais precisamente: "testemunhas da fé em Deus". Este é o significado cristão do vocábulo.

A perseguição aos cristãos tem seu início em 64 d.C., determinada pelo Imperador Nero Cláudio César (37-68 d.C.), que os acusou de colocar fogo em Roma simplesmente para responsabilizá-los pelo incêndio. O sacrifício dos cristãos, transformados em tochas humanas, foi, portanto, por suas crenças religiosas. As demais perseguições (81-96, 113, 250, 257-258, 303-311) foram efetuadas aos cristãos, após a de Nero, pelos Imperadores romanos Domiciano, Trajano, Décio, Valentiano e Diocleciano.

Pedro e Tiago lideraram o cristianismo antigo, em sua corrente judaizante (34-70 d.C.), limitando suas pregações aos judeus, e com obediência às leis judaicas. Em 70, na revolta nacionalista, com a destruição do Templo de Jerusalém pelos romanos, a

corrente foi extinta. Preferiu-se, daí, separar o cristianismo e sua igreja primitiva do nacionalismo judaico.

Segue-se uma corrente não judaizante ou paulina (34 d.C.). A pregação de Paulo de Tarso (São Paulo), considerado como o verdadeiro fundador do cristianismo, defendeu uma ruptura completa com o judaísmo, a tanto desconsiderando as leis mosaicas. Prega para os gentios, os que não eram etnicamente judeus, e sustenta pela divindade de Cristo. O cristianismo tem sua identidade própria, somente a partir da chamada Revolta Judaica (66-73), quando os judeus retomaram Jerusalém, assumindo maior visibilidade em sua distinção do judaísmo.

O cristograma, combinação de letras para o nome de Jesus Cristo, como o seu símbolo, foi usado pelas legiões de Constantino na Batalha da Ponte Mílvia (28.12.312 d.C.), em Roma. A imagem fora vista em seus sonhos, um dia antes da batalha, que ele mandou pintar nos escudos do seu exército que, embora menos numeroso, veio derrotar Maxêncio. Essa providência simboliza a sua conversão ao cristianismo. O símbolo é formado pelas duas primeiras letras da palavra Cristo, em grego (qui) (x) e rô (p) e foi gravado em moeda romana (sec. IV).

Um édito do Imperador Constantino proclamou o cristianismo como religião do Império (Édito de Milão, 313 d.C.). Em seguida, a ortodoxia cristã tem sua origem no Concílio de Nicéia, em 325 d.C., convocado por Constantino. Ali foram definidas questões basilares. A primeira define que Jesus "é verdadeiro homem e também Deus, da mesma substância que o Pai"; a segunda, o cânon do Novo Testamento, com os vinte e sete livros atuais.Ao final daquele século, o cristianismo assume o monopólio da religião (392

d.C.). Em data de 08.11.392, o Imperador Teodósio promulgou decreto, determinando:

"Absolutamente ninguém, qualquer que seja sua ascendência ou sua classe nas dignidades humanas, em absolutamente nenhum local ou nenhuma cidade, oferecerá sacrifícios para estátuas destituídas de sentimentos. Se alguém venerar imagens feitas pelas mãos do homem, oferecendo-lhe incenso, esse homem culpado, de violar a religião será punido com a perda de sua moradia."

No caso, tornou-se considerado o cristianismo a única e verdadeira religião. Interessante anotar, enquanto isso, a origem do termo "pagão", em latim "paganus" significando "do campo", ou "camponês", querendo referir aqueles adeptos de religiões não adotadas nos centros urbanos (como judaísmo e o cristianismo), cultuando vários deuses (politeísmo).

Em outro Concilio, o de Éfeso (431 d.C.) foi declarado o termo "Mãe de Deus", constituindo um dos quatro dogmas marianos, e como tal, também Mãe da Igreja. E foi precisamente próximo à cidade de Éfeso, na Turquia, onde a Virgem Maria viveu seus últimos anos, para ali levada pelo Apóstolo João, após perseguição aos cristãos em Jerusalém.

Desse histórico didático, a cristandade tem seus primórdios, profundamente enraizados na história, na cultura e na fé que se formou a partir da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Jones Figueirêdo Alves, dsembargador Emérito do TJPE. Advogado e parecerista

 

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