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Adriano Batista Dias e Tarcisio Patricio de Araújo: Embrapa Trigo, 50 anos de inestimáveis serviços

Hoje, o trigo que alimenta o brasileiro é, a menos de uma parcela diminuta, inteiramente produzido no Brasil. Confira no artigo

Por Adriano Batista Dias e Tarcisio Patricio de Araújo Publicado em 12/10/2025 às 6:13

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O centro de pesquisa Embrapa Trigo (vindo à luz em Passo Fundo, RS, em 26/09/1975) teve como berço um país que não dispunha de condições propícias à produção de trigo, matéria-prima que nos garante o bíblico pão e ampla variação de alimentos que levam trigo. A Argentina era nosso “prime” fornecedor. A empresa (EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) havia sido criada em 1973 (abril), vindo a se tornar – ao longo de anos e anos – um singular caso de estatal que deu certo. Já o pão nosso de cada dia permaneceu – por espaçoso tempo – dependente do trigo importado do vizinho ‘hermano’. Claro, pesquisa – para dar frutos – envolve tempo e circunstâncias próprias. Paga-se, em moeda chamada ‘espera’, o pedágio do investimento em criação. Por uns bons anos, aparentemente nada mudava.

Mudança no trigo per se havia tido lugar nos idos do governo Getúlio Vargas, em pleno Estado Novo, quando decretada a obrigatoriedade de complementação da farinha de trigo com 30% de farinha de milho ou de mandioca – para a produção de pães; pão palatável e aceito, em nome do benefício para a economia nacional.

Um fato consagrador para o sabor do pão veio a ser o de se poder adicionar cereais e farinhas ao pão de trigo, e se ir além, por obra do mercado. Passou-se a adicionar grãos, farinhas e componentes outros, sendo oferecidos novos tipos de pães, a preços mais altos, sem que, por óbvio, se cogitasse manter o complemento de farinha de milho ou farinha de mandioca. Qualquer destes dois componentes não “eleva” o sabor do pão – nos termos do paladar humano.

Ocorre que mudança consistente, que faça valer uma politica pública é, ou tende a ser, no Brasil, algo sempre raro. Por isso, eram alimentadas apostas de que nada mudaria no quadro do consumo de trigo importado. Mas, quem apostou em mudança efetiva no quadro global da produção brasileira de trigo viu bons resultados. Ora, pesquisa agropecuária é, por natureza, lenta. O desenvolvimento de novos cultivares, com propriedades desejadas, envolve formulação de hipóteses, e ações desenvolvidas segundo hipóteses concebidas com razoabilidade. É trabalho que requer gerações de plantas em testes, sendo limitada a velocidade de crescimento de tais cultivares, dada a natureza do vegetal – sem depender da pressa do cientista ou da angústia de quem formula a política pública. Haja tempo para conhecimento das propriedades desses cultivares, para seleção do mais ou dos mais favoráveis, no âmbito dos objetivos da pesquisa. Cultivares de trigo não seriam desenvolvidos para embelezar jardins em casas ou jarrinhos em apartamentos. Predomina, nas pesquisas, o objetivo do desenvolvimento de cultivares com potencial de absorção pelo mercado e boa produtividade – em áreas mais quentes do que espaços em que o trigo era tradicionalmente cultivado. O trabalho veio a render bons frutos.

Hoje, o trigo que alimenta o brasileiro é, a menos de uma parcela diminuta, inteiramente produzido no Brasil. Escolhe-se o tipo de trigo – inclusive o integral e o sem glúten – para a produção de massa macia, e de novos pães, a exemplo dos bem demandados pães crocantes. Enfim, há generosa margem para diversos usos culinários, o que contempla – também – receitas caseiras.

A Embrapa Trigo não parou. Hoje alimenta um centro de pesquisa avançado, longe da sede, em que são desenvolvidos cultivares visando o cultivo do trigo no cerrado e nas margens do São Francisco. Com persistência e sapiência, pode-se contar que nas próximas décadas será possível aos moradores das áreas beneficiadas espelhar os franceses: um jantar com queijo, pão e vinho, valendo-se de produtos de origem inteiramente local; ao tempo em que contribuem para a segurança alimentar humana no âmbito internacional. Em contexto ambiental que traz ampliado desafio de enfrentamento de mudanças climáticas.

É justo que, na passagem dos 50 anos da Embrapa Trigo, sejam parabenizados seus criadores e colaboradores. E todos os que contribuíram e vêm contribuindo para a existência e a continuidade do esforço de pesquisa da Embrapa Trigo.

Adriano Batista Dias é engenheiro Mecânico (Escola de Engenharia de Pernambuco - UFPE, 1964), PhD em Economia (Vanderbilt University, 1976). Tarcisio Patricio de Araújo é Economista, professor aposentado da UFPE, PhD em Economia (University College London, 1994)

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