Desafios do Brasil, Inspirações do Canadá
Transformar o Brasil é uma necessidade urgente. Isso exige ética, vontade política e conhecimento. Aprender com outras nações é fundamental

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Vivemos em um mundo profundamente desigual. Ao comparar dois países como o Brasil e o Canadá, encontramos realidades contrastantes que podem servir como espelho, alerta e inspiração. O Brasil, com suas riquezas naturais, diversidade cultural e imenso potencial humano, enfrenta desafios estruturais graves: corrupção sistêmica, múltiplas desigualdades, insegurança pública e déficits históricos na educação e na saúde. Já o Canadá, embora não esteja isento de problemas, construiu instituições sólidas, priorizou a educação, apostou na inovação e desenvolveu um modelo democrático que equilibra liberdade individual com justiça social.
Transformar o Brasil é uma necessidade urgente. Isso exige ética, vontade política e conhecimento. Aprender com outras nações é um exercício fundamental, e o Canadá — país diverso, com área territorial equivalente à do Brasil, democrático e economicamente desenvolvido — oferece um contraponto inspirador. Sua trajetória é marcada por decisões estratégicas, políticas públicas consistentes e uma cultura cidadã sólida. O Brasil, por sua vez, vive em contradições: é uma potência natural e criativa, mas ainda está prisioneiro de desigualdades históricas e instituições frágeis.
A comparação entre os dois países deixa claro o tamanho do desafio brasileiro, mas também seu potencial de transformação. No Índice de Percepção da Corrupção, o Brasil aparece na 107ª posição. O Canadá ocupa o 15º lugar. A corrupção no Brasil corrói os investimentos em saúde, educação, infraestrutura e segurança. No Canadá, a transparência sustenta a cultura política e fortalece a confiança social.
Na segurança pública, os contrastes são alarmantes. O Brasil registra 22,5 homicídios por 100 mil habitantes, um dos índices mais altos do mundo. No Canadá, o indicador é 2,1. A violência no Brasil resulta de uma combinação trágica: desigualdade, ausência de políticas públicas eficazes e impunidade. O Canadá aposta na prevenção, no policiamento comunitário e em políticas sociais sólidas.
Na educação, a diferença é profunda. A média brasileira no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) é de 397 pontos — muito abaixo da média da OCDE. O Canadá alcança 506. Essa disparidade se traduz em oportunidades desiguais. Enquanto o Canadá forma cidadãos críticos e preparados para a economia do século XXI, o Brasil ainda enfrenta evasão escolar, baixos salários docentes e infraestrutura precária. O investimento canadense é consistente e planejado, com foco na equidade.
O índice de Gini, que mede a desigualdade de renda (quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade), mostra: Brasil = 0,506 | Canadá = 0,33. Isso significa que o Brasil está entre os países mais desiguais do mundo. O Canadá adota políticas de redistribuição de renda — como impostos progressivos e serviços públicos universais — que reduzem significativamente as disparidades sociais.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia progresso em saúde, educação e renda, apresenta: Brasil = 0,786 | Canadá = 0,939. Uma diferença significativa, que revela a lacuna entre os dois países em termos de qualidade de vida.
No Índice de Democracia, o Brasil é classificado como “democracia falha”, enquanto o Canadá figura como uma “democracia plena”. No Brasil, expressa deficiências no funcionamento das instituições, no sistema eleitoral, na cultura política, liberdade de imprensa e na efetividade da participação cidadã.
No Índice Global de Inovação, o Brasil aparece na 50ª posição; o Canadá, em 14º. Apesar do talento criativo, o Brasil investe pouco em pesquisa e desenvolvimento, sofre com a fuga de cérebros e carece de políticas para conectar ciência e mercado. O Canadá investe em educação de ponta, valoriza o conhecimento, apoia startups e estimula parcerias entre universidades e setor produtivo.
Esses indicadores não são apenas números: revelam escolhas — ou a ausência delas. Mostram que é possível conciliar crescimento econômico, justiça social e qualidade de vida. A ideia não é comparar para copiar, mas para inspirar. Entender que a mudança começa com a consciência. As lições não são fórmulas prontas, mas provocações para refletir criticamente: O que impede o Brasil de alcançar patamares mais altos de desenvolvimento e bem-estar? Quais reformas são urgentes? Que papel cabe a cada cidadão, especialmente aos jovens, nessa construção? O que o Brasil pode aprender com o Canadá? O que deve ser preservado, reformado ou reinventado?
O Brasil precisa, urgentemente, de um projeto nacional consistente, que enfrente reformas estruturais nos campos da educação, justiça, economia, política e governança. Um projeto que transcenda os ciclos eleitorais e seja liderado por um estadista, que precisa surgir como candidato à presidência do país— alguém com equilíbrio emocional, visão sistêmica e compromisso com valores universais. Alguém capaz de tomar decisões fundamentadas, com coerência entre discurso e prática, e cuja liderança inspire os cidadãos a transcender interesses pessoais por propósitos coletivos para o país e o mundo.
O futuro do Brasil depende da capacidade de líder que transforme frustração em ação, indignação em projeto e sonho em realidade. É essencial para que o Brasil encontre seu rumo de justiça, dignidade e prosperidade. Um Brasil à altura de quem ainda acredita e sonha com um país melhor.
Eduardo Carvalho, Autor do livro “Por um Brasil digno”