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Histórias de contar (IV): O sete místico

Assim apuramos o Sete (7) como o resultado em si mesmo, místico nessa soma e, por sua natureza intrínseca, somático em seu realismo mágico

Por JONES FIGUEIRÊDO ALVES Publicado em 06/10/2025 às 6:00

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Porque o sete (7) é considerado o número da perfeição e de significado espiritual, de caráter místico e sagrado? Nada menos porque três (3) mais (+) quatro (4) somam sete (7), na melhor simbologia do numeral mais harmônico. Precisamente, em razão de reunir:

O Três (3), a representação da Santíssima Trindade, a tríade sagrada constituída pelo Pai, Filho e Espírito Santo, a fórmula do Deus feito Único. Está expresso que "Deus é Espírito", contudo o Filho se tornou homem. O Número Trindade, também representa as fases do Filho de Deus: encarnado, crucificado e glorificado. O Três compõe o tempo (passado, presente e futuro) e o espaço (comprimento, largura e profundidade); desenvolve a própria lógica hegeliana de solução (tese, antítese e síntese) e dimensiona nossa visão da terra, sob os ângulos do céu, da terra e do mar.

E o Quatro (4), a soma dos elementais que são a terra, o ar, a água e o fogo. Mais do que referir, simplesmente, a uma operação matemática de somar números, constitui um conceito espiritual que une todas as energias fundamentais para criar a totalidade da existência. Significativo representar uma essência básica do mundo.

Assim apuramos o Sete (7) como o resultado em si mesmo, místico nessa soma e, por sua natureza intrínseca, somático em seu realismo mágico. Esse realismo está na simbologia da pirâmide, observada, de lado, com seu perfil triangular mas, a um só tempo, de cima, vista com quatro lados.

O sete é articulado na própria natureza das coisas, a exemplo das cores primaciais, das notas musicais da escala completa, dos dias da semana, das cores do arco-iris, das sete artes. Sete são os símbolos para os algarismos romanos: I (1), V (5), X (10), L (50), C (100), D (500) e M (1000). Purificação do espírito, o sétimo dia é dia de reenergização, nele Deus descansou; o sétimo céu budista é o nirvana absoluto; e a realidade terrena de nossa finitude humana (os sete palmos abaixo da terra) é revista nas missas de sétimo dia. Sete dias (Semana Santa) antecipam a celebração da Páscoa, entre o Domingo de Ramos e o domingo seguinte.

Na sua acepção crística, o sete é presente, com força dos atos e fatos da agonia de Cristo. Em suas palavras terminais, Jesus Cristo falou sete vezes do alto da cruz. Essas palavras são o seu último legado à humanidade:
(i) - "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem". (Lucas, 23, 24);
(ii) - "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso". (Lucas 23, 43 );
(iii) - "Se alguém fizer a vontade de meu Pai está no céu. Este é meu irmão, e irmã, e mãe". (Lucas, 12, 50);
(iv) - "Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?” (Lucas 27, 46);
(v) - "Tenho Sede". (João 19, 28).
(vi) - "Está cumprido". (João 19, 30)
(vii) - "Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito". (Lucas 23, 46).

O sete também é binômio, palavra de sete letras, como verdade e mentira; e aí se diz que sete é conta de mentiroso, porque mentira tem sete letras. Mas é o número também da verdade, a tanto binômio como amizade e saudade.

Os antigos veneravam o sete em listagens feitas, como sete foram os sábios da Grécia (séculos VII e VI a.C.), segundo o texto de Platão, no seu Diálogo “Protágoras”. Estão na relação platônica: Tales de Mileto, Pitaco, Bias de Pirene, Sólon, Cleóbulo de Lindos, Mison de Queneia e Quilon de Esparta. Os gregos formularam o rol das “Sete Maravilhas do Mundo Antigo”, incluindo a Pirâmide de Gizé, os Jardins Suspensos da Babilônia, o Templo de Ártemis, a Estátua de Zeus, o Mausoléu de Halicarnasso, o Colosso de Rodes e o Farol de Alexandria. Na Antiguidade, sete também era a soma dos cinco planetas então conhecidos, o Sol e a Lua, conferindo-lhe caráter universal.

A filosofia antiga indicou as sete virtudes, configuradas pelas quatro virtudes cardeais (gregas), as da prudência, justiça, temperança e coragem (fortitude); adiante somadas com as três virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade, vindo a Igreja Católica consagra-las como as sete virtudes celestiais. Bem é certo que foram adredemente completadas, nos esforços cristãos, durante a Idade Média, para se contrapor direta e objetivamente aos sete pecados capitais. Na sua catalogação, situam-se a soberba (orgulho), inveja, ira, indolência (preguiça), avareza, gula, e luxúria, feita pelo Papa Gregório I (século VI), inspirado nas Epístolas de São Paulo. É reconhecida a soberba, como o pecado mais grave, porque nele se enquadra, teologicamente, o pecado original. No século XIII, São Tomás de Aquino em sua Summa Theologica, sistematizou a lista, tornando-a oficial na doutrina da Igreja. Dante Alighieri em sua “Divina Comédia”, descrevendo os círculos do Inferno, associou-os a cada um dos pecados.

Na narrativa da criação, Deus fez o mundo em sete dias (Gn. 1, 1-31; 2, 1-2), indicando perfeição e totalidade. "Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou," (Êxo. 20:11). Interessante que o primeiro livro da Bíblia (Gênesis), tem sete letras e começa com a 7.ª letra do alfabeto. Quando Pedro perguntou a Jesus se deveria perdoar o irmão até sete vezes, o Senhor respondeu-lhe: - "Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete" (Mt. 18, 21-22), significando o perdão ilimitado e contínuo (490 ou 77, a depender da tradução bíblica).

Sete são os sacramentos:
(i) os de iniciação cristã: Batismo, Confirmação (Crisma), Eucaristia (Comunhão), considerado o sacramento dos sacramentos;
(ii) os de cura: Penitência (Confissão) e Unção dos Enfermos;
(iii) os de serviço, o de Ordem (Ordenação sacerdotal) e o Matrimônio.

Existem apenas sete cores (vermelho, amarelo, azul, laranja, verde, preto e o branco. Com elas, poderemos produzir todas as demais e serão milhares de outras tonalidades. Milhares são as células do corpo humano, aliás, trilhões; desprovido de fundo científico que, na intensa renovação celular, nosso corpo mude integralmente a cada sete anos, como supõe a crença popular. Suficiente, porém, ao homem poder ser constituído por seus sete grandes princípios primordiais.

Jones Figueirêdo Alves é Desembargador Emérito do TJPE. Advogado e parecerista

 

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