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Sérgio Gondim: Tentativa de golpe no Gov.br

Certo de que se tratava de mais uma ousada tentativa de golpe, dessa vez usando o Gov, a vida seguiu sem clicar em nada. Até precisar acessar o app...

Por SÉRGIO GONDIM Publicado em 26/09/2025 às 5:00

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“Olá, esta é uma notificação de que houve um atendimento presencial e sua conta agora é nível bronze. Caso não reconheça esse atendimento, recomendamos os seguintes passos: Registre um BO, altere a senha da sua conta, habilite a verificação em duas etapas”.

Certo de que se tratava de mais uma ousada tentativa de golpe, dessa vez usando o Gov.br, a vida seguiu sem clicar em nada, até precisar acessar o aplicativo e constatar que a conta estava mesmo bloqueada. Para voltar a ter acesso, foi necessário apelar para a justiça eleitoral e seu banco de imagens que olhou para mim pelo celular e disse que eu sou eu (“acesso validado na base de dados da Justiça Eleitoral”).

 O invasor trocou a senha, modificou o e-mail e rebaixou a conta para nível bronze. Foi um susto para quem até agora não sofreu fraude na internet e que resiste a usar até o WhatsApp para ficar livre da adrenalina desnecessária e de um pedido falso de dinheiro. A sensação foi pior por se tratar do Gov.br onde estão a assinatura eletrônica, documentos e dados pessoais, imposto de renda, toda a vida e por isso se espera que haja segurança máxima. Uma agonia prestar queixa à polícia, corrigir os dados, recuperar o nível ouro, sem saber se continuava sendo bisbilhotado, se o hacker assinaria uma receita, um atestado, uma delação, um empréstimo consignado ou uma escritura.

Um calafrio e leve sudorese frontal como se tivesse contraído um vírus desconhecido, potencialmente letal.
Senha renovada, fortíssima: vergonha do congresso em minúsculo, seguido por careca do INSS@+ em maiúsculo e uma minuta de apelo ao golpista para abortar. Impossível desvendar uma senha assim e, além disso, foi implantada a necessidade de uma segunda etapa de verificação para ter o acesso.

Que nada! Dias depois houve nova invasão, compreensível se o hacker estivesse navegando na conta o tempo todo. Dessa vez só rebaixou para nível prata e nada mais. Ainda zombou com um terceiro acesso, apenas trocando o e-mail. Os 3 episódios foram prontamente comunicados pelo Gov.br gerando imediatas providências e novas senhas.

Achando que havia passado da conta, se é que existe limite para golpista, um apelo para o “reclame aqui” do governo através de longa e improdutiva conversa com um robô que acabou direcionando para o “órgão competente” onde depois de muito esforço chega-se a um ser humano que informou tratar-se de um problema para a polícia. Como já havia registrado o B.O. deveria aguardar as providências.

Foi pouco. Era esperado que, diante de tão grave ocorrência, fossem mobilizadas as forças aérea, marítima e terrestre, para o caso de alguma isoladamente titubear. Que fosse disparado um alerta geral até deter os golpistas. Que nada. Até parecia o que ocorreu no 8 de janeiro, como se certas invasões fossem esperadas e normais.

Dito isso, aviso dado, se alguém receber documento assinado falando mal de um amigo, confessando um pecado, reconhecendo uma dívida, adianto que deve questionar a autoria, mesmo que assinada eletronicamente.

O último episódio do seriado foi um comunicado, em tudo semelhante aos 3 anteriores, informando que a conta fora novamente bloqueada por excesso de tentativas, oferecendo um link para corrigir. Sem clicar, uma nova corrida para o aplicativo, mas dessa vez o aviso era falso e nada havia acontecido, tratando-se, pois, de um crime menor, sem invasão, sujeito a dosimetria mais leve.

É um desassossego viver permanentemente sob ameaça de golpes e perceber a ousadia dos golpistas. Não se consumou, pelo menos até agora, mas que sejam identificados e punidos exemplarmente de acordo com a lei, pois como iniciaram a execução, não era só pensamento. Não venham pedir perdão nem antes nem depois de julgados, até porque impunidade tem limites que só congressista não vê.

Que tentativas de golpe não se repitam nem no Gov.br, nem em lugar nenhum.

Sérgio Gonfim, médico

 
 
 
 

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