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José Paulo Cavalcanti Filho: Conversas de ½ minuto (46) jornalistas

GERMANO SILVA, jornalista do Porto (Portugal). No Jornal de Notícias, redigiu matéria de homem esfaqueado por dama que atuava na Rua do Souto

Por José Paulo Cavalcanti Filho Publicado em 26/09/2025 às 5:00

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Lisboa. Seguem mais conversas, hoje só com jornalistas e afins, em livro que estou escrevendo (título da coluna).

BARBOSA LIMA SOBRINHO, presidente da Associação Brasileira de Imprensa. Sempre que nos encontrávamos, o diálogo era

– Como vai?, dr. Barbosa.

– Como um velho, meu filho, desejando que todos os órgãos envelheçam ao mesmo tempo.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG, jornalista. No Clube dos Ingleses (São Paulo), depois do tênis, os jogadores conversavam. Ele

– O homem precisa de mulher para tudo.

Betina, do grupo, completou

– Até pra ser corno.


DIÁRIO DE IGUAÇU (Paraná). Em 03/05/2016 deu essa manchete, na capa de sua edição,

Gerência de Saúde afirma que não vai faltar vagina.

Calma, leitor amigo; que, segundo a gerência, não vai faltar.
DUDA GUENNES, filósofo. Numa entrevista, sobre Pernambuco (onde nasceu) e o Brasil, declarou que

1. Está poeticamente provado que o Mundo começa em Pernambuco, depois é que principia o resto da Geografia.

2. O Brasil é a melhor de todas as invenções portuguesas, incluindo aí o bacalhau da Noruega.

3. O Brasil é o melhor País do Mundo pra sentir saudade.

* * *
Inauguração do supermercado Pingo Doce, no Rato, pertinho de seu apartamento na Rua da Alegria. Foi cobrir o evento, como jornalista de A Bola, e o diretor do estabelecimento

– O que está a achar?

– Muito bom, porque tem tudo que não preciso.

EVALDO COSTA, jornalista. Clonaram seu celular. E soube disso quando recebeu mensagem, no zap,

– Favor mandar 500 reais que estou precisando. Ass., Gustavo Dubeux.

Respondeu

– Agora não posso, que acabei de emprestar 50 mil a João Carlos Paes Mendonça.

FERNANDO MENEZES, jornalista. Anotou, em Lisboa, grafite comparando António Salazar com Santo António de Lisboa (e de Pádua)

– Lisboa cidade bela
Que dois Antónios disputa
Um é o filho da fé
O outro... não é.

* * *
Na fila preferencial do Bradesco, esperava sua vez. Até que uma jovem, descabelada e com olhos arregalados, entrou na sua frente com um monte de boletos para pagar. Fernando, educadamente, perguntou

Idosa, vejo que a senhora não é. Por acaso está grávida?

Sim. Estou. Não sei quem é o pai. E, se não me der sua vez, vou causar aqui um escândalo.

Ele, cauteloso, preferiu esperar mais um pouco.

* * *
Praia da Piedade. Conversava, na frente de nossa casa, com o jornalista Garibaldi Sá. Chega um jovem e pergunta

– O senhor é o gordinho que sabe nadar?

– Acho que sou.

– Aquele ali (Menezes) mandou buscar nosso amigo que está morrendo afogado.
Olhei, o rapaz estava bem longe da praia, tinha feito isso já duas vezes antes e sabia qual a técnica. Meia hora depois, afinal, cheguei de volta com o jovem quase morto (mas ainda vivo), depois de beber meio mar. E Fernando, com água na cintura (que nem nadar sabe),
– Agora, deixe comigo.

Pôs os braços do quase afogado no pescoço dele e o arrastou até a areia da praia. Uma pequena multidão bateu palmas. Agradeceu, acenando com as mãos, parecia candidato a prefeito. Corpo no chão fez massagem, braços e pernas, afinal o rapaz reviveu. Levantou e abraçou, comovido, seu salvador. Mais palmas. Após o que Fernando voltou, satisfeito, para o mar (onde permaneci). Ao chegar

– Ainda bem que salvamos uma vida.

– Salvamos?

– Foi. Se não mandasse, você não ia pegar ele.

– Tá certo.

– Melhor de tudo é que o rapaz pediu meu nome e prometeu que, até morrer, iria rezar por mim todas as noites.

– Muito bem, mas por acaso disse que houve mais alguém no salvamento?

– Esqueci. Mas, quando ele rezar, fica implícito que você está incluído.

Pois é.

 

GERMANO SILVA, jornalista do Porto (Portugal). No Jornal de Notícias, redigiu matéria de homem esfaqueado por dama que atuava na Rua do Souto, famosa por suas casas de meretrício. Pediu na redação, para ilustrar a matéria, uma foto qualquer da responsável por aquela tentativa de assassinato. Assim se deu. E nem se preocupou em conferir. Dia seguinte foi publicada, tal foto, com essa dedicatória

Ao querido Alfredo, que tanto me consolou da cinta para baixo.

IMPRENSA PORTUGUESA. Algumas manchetes estranhas, só uns poucos exemplos

No Jornal de Notícias

Carro capota com quatro pessoas e uma mulher.

Morreram 430 mortos nas estradas portuguesas.

Legendas na televisão CMTV

Acidente na A1, três viaturas feridas.

Dois mortos em fuga.

Na CMTV, essa notícia

– “Português em Braga engravidou a esposa e a sogra”.

Comentário, na matéria, de um telespectador

– Foda-se!!! Ele agora vai ser pai, avô, marido, genro e sogro!

Também nela, para encerrar, esse comentário

– Portugueses, a pedidos de muitas famílias preocupadas, decidem estender a lista de palavrões oficialmente proibidos, passando a incluir: breca, caga-foices, caraças, coa, credo, cruzes, cuncatano, fónix, macacos me mordam, raios e coriscos, trambelóquio, Naturalmente essas regras não se aplicam ao Norte do país, onde podem continuar a dizer que caralho vos apetecer.


JORNAL DO COMMERCIO do Rio de Janeiro, edição de 18/03/1931, pág. 4. Num tempo em que falsear a verdade valia dinheiro

Fugiu no dia 17 do corrente, da chácara da Barreira, no caminho da Glória, ao pé do chafariz, um molecote de nação monjolo, por nome Digue, acostumado a vender quitanda da chácara; é espigado, magro, anda ordinariamente com a boca aberta e mostra os dentes, que são grandes e muito brancos; é muito ladino, fala e mente perfeitamente.

JOSÉ NÊUMANNE PINTO, jornalista, do Penn Club. Chegou para conversar com o paraibano (como ele) José Amer... Aqui um problema, que todos se referem a esse grande escritor apenas como Zé 3 Pancadas, dado que pronunciar seu nome completo é prenúncio de catástrofe. Toda gente conhece a praga. Se o amigo leitor ainda não sabe de quem se trata basta procurar, na internet, o autor de A bagaceira. Nêumanne

Como nasceu essa relação entre você e o azar?

Acho até graça. O avião caiu no mar e eu já quase cego, e aleijado, fiquei sentadinho na asa. Enquanto Antenor Navarro, campeão de natação, afundou (na verdade nadou, na direção contrária à praia, sem que seu corpo tenha sido jamais encontrado). E o povo diz, ainda, que sou azarado...

Não, Zé, dizem que você dá é azar aos outros.

Aí pode ser.

MARIA LUIZA BORGES, jornalista. No Vaticano, sala Paulo VI, ela e a mãe, a grande Marieta Borges (em sua cadeira de rodas). Para ver Francisco. Um funcionário da Cúria informou que os cadeirantes iriam para a primeira fila. Seus acompanhantes receberiam laços vermelhos e ficariam de lado. Dando-se que o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco apossou-se da cadeira de Marieta e disparou, até a frente, na esperança de bater foto com o Papa. Foi quando Maria Luiza saiu desesperada correndo atrás dele, aos berros,

– Devolva minha mãe!, devolva minha mãe!!

Condessa MAURINA DUNSHEE DE ABRANCHES PEREIRA CARNEIRO, dona do Jornal do Brasil (depois da morte do marido, em 1954, o conde papal pernambucano Ernesto Pereira Carneiro). No Campo das Princesas o comendador Jordão Emerenciano, secretário do Governo (Cordeiro de Farias), tentava adular a grande dama da imprensa brasileira. Quase um tonel e horrorosa, bom lembrar. Com aquela voz dele, bem fininha, começou

Que fazeis, divina Condessa, para manter tanta formosura?

Ela, irada com o que considerou fosse gozação, não contemporizou

Três coisas, senhor comendador: beber todo uísque do mundo, não deixar merda azedar e manter escovado o bucetão.

Perdão, amigo leitor, mas foram precisamente essas as palavras – a partir do depoimento de muitos que presenciaram a cena.

NELSON CUNHA, jornalista. Na praia, foi testemunha da cena. Criança, com mais ou menos cinco anos, pergunta a um salva-vidas

– O senhor não viu por aí uma mulher gorda sem uma menina como eu de lado?

OLBIANO SILVEIRA, jornalista e editor. Seu avô, Vicente Januário, tinha uma bodega na periferia de Mossoró (RGN), especializada em fumo de rolo. Certo dia chegou por lá dona Etelvina, cliente antiga,

– Seu Vicente, o sinhô tem fumo dos forte?

O velho entregou um pedacinho para ela provar

– Descurpe, tem mais forte?

Outro

Só que, depois de mastigar, soltou um pum daqueles históricos, monumentais. Como se não fosse a responsável, continuou

– Será que tem ainda mais forte?

– Não, senhora, o de cagar já acabou.

José Paulo Cavalcanti Filho, advogado

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