A inesquecível canonização de Carlo Acutis
Estar na Praça de São Pedro não foi fácil. Conhecido como o Padroeiro da Internet, muitos jovens, além de alguns adultos, presentes à cerimônia....
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VATICANO - Nestes muitos anos de jornalismo, tive a oportunidade de assistir a muitos eventos importantes, religiosos ou não. Nenhum superou a emoção que senti ao participar, pela primeira vez, de uma canonização dos novos santos da Igreja Católica, Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati, no Vaticano. As primeiras oficiadas pelo Papa Leão XIV.
Estar na Praça de São Pedro durante a cerimônia, não foi fácil. Devido à influência de Carlo Acutis, conhecido como o Padroeiro da Internet, muitos jovens, além de alguns adultos, chegaram na noite anterior e dormiram no chão, a fim de garantir um bom lugar para assistir à cerimônia.
Ao chegar a Roma, integrei-me ao grupo da Obra de Maria, com 40 integrantes, de vários estados do país, hospedado na simpática “Casa Al Casaletto”, comandada por freiras brasileiras, Depois do café da manhã, o grupo pegou um ônibus às 7h, para seguir para a cerimônia. Nas ruas, um movimento enorme. Ao chegar ao Vaticano, observei filas quilométricas para entrar na Praça de São Pedro. Graças a um acesso ao estacionamento dos ônibus, o grupo pôde chegar a uma porta com menos movimento. Foi preciso passar por uma rigorosa segurança, com aparelho de Raio-X e abertura das bagagens de mão.
A Praça de São Pedro, que é enorme, já estava cheia, com as milhares de cadeiras ocupadas. Consegui chegar a uma área junto à passagem do Papa, com visão total da frente da Catedral de São Pedro, onde aconteceu o evento. Eram exatamente 8 horas e, pouco depois, uma multidão começou a se colocar no espaço. Fazia um calor enorme, em torno dos 30 graus. Pela passarela, passavam padres, freiras e algumas pessoas que conseguiram ter acesso ao espaço. Muitos jornalistas e fotógrafos, estes sempre procurando focalizar jovens, que eram muitos.
Funcionários do Vaticano distribuíam a oração da missa, santinhos e até água mineral, que era recebida com muita alegria pelos fiéis, para aliviar o calor intenso. Os enormes telões mostravam imagens dos dois novos santos.
Exatamente às 10h, conforme o previsto, o Papa Leão XIV apareceu e fez sua primeira mensagem, expressando sua felicidade diante da multidão e ressaltando as figuras dos novos santos. Além de Carlo Acutis, Pier Giorgio Frassati, um jovem italiano, praticante de alpinismo, ficou conhecido por ajudar os necessitados e que morreu de poliomielite nos anos 20. As fotos gigantes dos dois estavam na fachada da Basílica de São Pedro. Leão XIV disse que Acutis e Frassati eram exemplos de santidade e de auxílio aos necessitados.
Carlo Acutis, principal personagem do evento, nasceu em Londres, em 1991, filho de pais ricos. Quando ele tinha três anos, a família se mudou para Milão. Lá, começou passou a se interessar por computadores, tornou-se um expert no assunto e criou vários sites divulgando a religião católica, sempre destacando sua adoração por Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora de Lourdes.
Ele morreu, com 15 anos, vítima de leucemia aguda, no dia 12 de outubro de 2006, exatamente o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Atendendo a um pedido seu, o corpo foi levado ao Santuário de Santa Maria Maggiore, em Assis, onde atrai milhares de visitantes. Estive lá há dois anos e fiquei impressionado com a imagem, com o santo vestido com moletom, calça jeans e tênis Nike.
Os pais do santo, Andrea Acutis e Antonia Salzano, estavam presentes na canonização, quando ela lembrou as últimas palavras de Carlo Acutis, antes de falecer: “Mãe, não tenha medo. Desde que Jesus se fez homem, a morte se tornou a passagem para a vida, e não precisamos fugir dela. Preparemo-nos para experimentar algo extraordinário na vida eterna.”
Em frente ao templo, estava o palco principal e, nas laterais, 36 cardeais, 280 bispos e centenas de padres, todos inscritos para celebrar a Missa junto com o Papa. No meio do público de 90 mil pessoas, muitas bandeiras. Vi pelo menos cinco do Brasil e, como sempre acontece em grandes eventos, duas de Pernambuco. Em um clima de muito respeito, todos os presentes acompanharam a Missa e as mensagens do Papa. No final, dezenas de sacerdotes distribuíram a comunhão. Passava do meio-dia quando a cerimônia terminou.
Porém, os fiéis não foram embora. Ficaram para esperar a passagem do Papa Leão XIV no Papamóvel. Distribuindo simpatia, cumprimentava a todos, colocava nos braços algumas crianças e recebia os muitos presentes jogados pelos fiéis. Finalmente, tudo terminou: foram quase cinco horas debaixo de um sol inclemente, mas que valeu a pena. Para resumir, foi uma experiência inesquecível.
Era hora de voltar para o ônibus, em meio à multidão que superlotava as lojas de lembranças dos novos santos. Todos cansados, mas devidamente compensados pela oportunidade de testemunhar um evento tão grandioso.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1