Educação superior: diploma que vira emprego e renda
o Brasil precisa transformar a boa notícia de que a educação superior eleva a renda e a empregabilidade em ações concretas......................

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Lançada na semana passada, a 4ª edição do Indicador ABMES/Symplicity de Empregabilidade (IASE) confirma, com a força dos dados, aquilo que há anos observa-se no Brasil: a educação superior é um diferencial decisivo de mobilidade social, empregabilidade e renda. Partindo do princípio de que políticas públicas e estratégias institucionais devem ser ancoradas em evidências, o estudo mapeia a trajetória profissional de recém-graduados, permitindo compreender tendências, corrigir rumos e estabelecer prioridades.
Em 2025, foram ouvidos 8.843 egressos de 79 instituições de educação superior de todas as regiões do país. O retrato não poderia ser mais nítido: concluir graduação aumenta em 81% a renda média de quem já trabalhava antes de cursar o ensino superior. Além disso, até 15 meses após a formatura, 85% dos egressos estavam inseridos no mercado de trabalho. Esses resultados não deixam margem para qualquer dúvida em relação à centralidade do ensino superior na agenda de desenvolvimento do país.
Apesar disso, o IASE 2025 também evidenciou a persistência de desigualdades históricas, com a existência de diferenças (algumas significativas) nos indicadores quando os recortes analisados envolvem gênero e raça.
As mulheres alcançaram 84% de empregabilidade, com melhora frente a 2024, mas ainda registram renda média inferior à dos homens (R$ 4.276 versus R$ 5.721) e leve recuo na atuação na área de formação. No recorte racial, pretos avançaram na empregabilidade geral (83% em 2025 contra 75,2% em 2024), mas a atuação na área permanece menor que a de brancos, que lideram também em renda.
Esses dados, longe de desautorizar a potência transformadora do ensino superior, indicam onde as políticas devem ser intensificadas: apoio à permanência, orientação para a carreira, articulação com o mercado de trabalho e mecanismos específicos de redução de assimetrias.
Neste ano, o estudo trouxe uma novidade: o impacto da obtenção de apoio financeiro durante a graduação na trajetória dos egressos. Entre os que consideraram o apoio como essencial para a conclusão do curso (seja via Fies, ProUni, instituições públicas, bolsas institucionais, financiamento próprio ou suporte familiar), 89% estavam atuando na área de formação. Entre os que avaliaram o apoio como muito relevante, 80,9% seguiam na área. Já os que não tiveram suporte financeiro registraram 66,5% de atuação na área para a qual se prepararam. O efeito se repete na renda: entre quem recebeu apoio, a remuneração cresceu 98% após a formatura; entre os que não receberam, o aumento foi de 60%.
Em outra frente, a relevância do apoio institucional à carreira dos egressos também ficou nítida. Entre os estudantes que relataram pouco ou nenhum apoio por parte das instituições de educação superior (orientação profissional, estágios, mentorias, conexão com empresas etc.), 82,5% estão empregados e 67,9% atuam na área de formação ou estão fora dela por opção. Quando o apoio é percebido como tendo sido muito relevante ou essencial, esses índices sobem para 89,5% e 83,7%, respectivamente.
Por fim, vale registrar que Engenharias, Computação e Saúde são as áreas do conhecimento que lideram tanto o ranking de empregabilidade quanto o de renda. Não há dúvida de que esse panorama dialoga com a estrutura produtiva do país, mas ele também acende o alerta para a necessidade de políticas de valorização para áreas estratégicas do ponto de vista social, como a formação de professores. Inclusive, Educação está ao lado de Comunicação e Humanidades como as áreas que pior remuneram os egressos recentes.
À luz desse conjunto de evidências, a mensagem é cristalina: o Brasil precisa transformar a boa notícia (de que a educação superior eleva a renda e a empregabilidade) em ações que passam pela ampliação dos mecanismos de apoio financeiro; de estímulo ao fortalecimento dos serviços de carreira e de integração com o mercado de trabalho por parte das instituições de educação superior; de incidência nas assimetrias de gênero e raça; e de valorização das outras áreas do conhecimento, também essenciais para o país.
O IASE 2025 não é apenas um relatório, mas um instrumento valioso de avaliação do retorno social e econômico do investimento em educação superior, no curto e no médio prazos. Ao quantificar ganhos de renda, inserção e aderência à área, o indicador oferece um roteiro prático de políticas e ações que já demonstram efetividade. Cabe-nos seguir ampliando o acesso, assegurando a permanência, valorizando a qualidade e conectando a formação às demandas reais do desenvolvimento nacional. É assim que a educação superior continuará sendo a via mais consistente para a transformação de vidas e para o avanço do Brasil.
Janguiê Diniz, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), secretário-executivo do Brasil Educação - Fórum Brasileiro da Educação Particular, fundador e controlador do grupo Ser Educacional, e presidente do Instituto Êxito de Empreendedorismo.