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Setembro Amarelo e o que ninguém fala sobre prevenção ao suicídio

Seja presença, ofereça apoio sem julgamentos e ajude a buscar recursos adequados, como atendimento psicológico e psiquiátrico ..................

Por GLEINE LIMA Publicado em 10/09/2025 às 0:00 | Atualizado em 10/09/2025 às 11:20

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Chegou setembro e, desde agosto, já circulam na internet alguns memes ironizando a campanha, sugerindo que as pessoas podem magoar ou ferir alguém, porque, em seguida, chega o Setembro Amarelo e todos "são obrigados a ter empatia". Esse tipo de postura sempre me causa espanto, pois o Setembro Amarelo é apenas uma campanha, um chamado de atenção para um tema urgente: a prevenção ao suicídio. No entanto, tentativas e mortes por suicídio acontecem diariamente.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo. No Brasil, de acordo com dados da Fiocruz, entre 2000 e 2019 a taxa de suicídio cresceu 43%.

Certa vez, ouvi de uma pessoa que tentou o suicídio: "É uma angústia enorme que eu nunca imaginei que fosse possível sentir". Essa frase sempre me remete ao nível extremo que o sofrimento emocional pode alcançar e à urgência de oferecer ajuda.

Estamos falando de saúde pública e de saúde mental, de questões complexas que não se resolvem apenas com frases de efeito, laços amarelos em perfis ou broches. Precisamos, urgentemente, falar sobre saúde mental de forma clara e aberta. Pois, diferente do que muitos acreditam, falar sobre suicídio não incentiva a prática — ao contrário, promove conscientização e conhecimento, permitindo que mais pessoas reconheçam sinais de alerta e possam intervir.

Você já parou para pensar que, muitas vezes, a dor não grita? Ela silencia. Nem sempre vem em forma de choro, desabafo ou pedido explícito de ajuda. Muitas vezes, está escondida em sorrisos automáticos e silêncios pesados. É justamente esse silêncio que precisamos aprender a ouvir e acolher.

Frequentemente, após uma tentativa ou morte por suicídio, fica a impressão de que a pessoa "não deu sinais", de que "foi de repente". Mas, na maioria das vezes, havia indícios, alguns discretos, outros bastante evidentes. Também é importante desconstruir o mito de que "quem ameaça não faz". Quando falamos de saúde mental, cada pessoa reage de um jeito: alguns pedem socorro, outros escondem. Por isso, é fundamental estarmos atentos às diferentes formas de expressão do sofrimento.

No mundo em que vivemos hoje, marcado pela busca incessante por perfeição, pela necessidade de aceitação social acima da pessoal, pela fragilidade dos laços familiares e afetivos, e pela baixa tolerância à frustração, a depressão surge como um dos principais fatores de risco para o suicídio.

Por isso, ao perceber sinais de tristeza profunda, desesperança, desamparo ou desespero em alguém, evite frases prontas como "a vida é boa" ou "vale a pena viver". Não questione a fé nem minimize a dor. Seja presença, ofereça apoio sem julgamentos e ajude a buscar recursos adequados, como atendimento psicológico e psiquiátrico que são fundamentais em casos de ideação suicida. Mais do que palavras motivacionais, a verdadeira prevenção acontece na disponibilidade para estar junto e na escuta e na acolhida qualificadas.

Gleine Lima, psicóloga clínica na Entrelaces Psicologia. Especialista em Saúde Mental, em Psicologia Clínica e em Psicanálise com Bebês.

 

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