Pernambuco no centro da revolução digital
O Nordeste — e Pernambuco em particular — dispõe de ativos raros. Temos energia renovável em abundância, um polo consolidado como o Porto Digital.

Clique aqui e escute a matéria
A presença de Fábio Coelho, presidente do Google Brasil, em Recife pode ser lida como um gesto simbólico: Pernambuco não está fora do radar da transformação tecnológica global. Mas o que deve importar mais do que a visita em si é a reflexão que ela provoca — estamos preparados para ocupar um papel de protagonismo nessa nova economia? A Inteligência Artificial deixou de ser promessa para se tornar parte da rotina de empresas e governos. De fábricas a hospitais, de marketing a logística, já se vê a diferença que essas ferramentas geram em produtividade e competitividade.
O risco é claro: quem ficar para trás, ficará definitivamente excluído. E isso é apenas o começo. Nos próximos anos, a evolução tecnológica aponta para cenários ainda mais disruptivos, em que a IA generativa deixará de ser apenas experimental e passará a constituir uma infraestrutura cotidiana, capaz de criar conteúdos, códigos e soluções em escala industrial. A computação quântica, por sua vez, deve começar a impactar áreas como finanças, energia e saúde, oferecendo poder de cálculo muito além do que conhecemos hoje. Setores inteiros caminham para altos níveis de automação, como transporte e logística, com impacto direto sobre empregos e modelos de negócio.
Ao mesmo tempo, países e regiões que dispuserem de cabos submarinos, data centers e conexões de baixa latência terão vantagens competitivas claras no mercado global, enquanto a pressão por sustentabilidade tecnológica exigirá soluções de baixo impacto ambiental e maior uso de energia limpa. Nesse contexto, o Nordeste — e Pernambuco em particular — dispõe de ativos raros. Temos energia renovável em abundância, um polo consolidado de inovação como o Porto Digital e até uma vantagem geográfica estratégica para a infraestrutura global da internet. A possibilidade de ramificações do cabo submarino Firmina na costa pernambucana poderia transformar o estado em um hub digital para toda a região. O ponto central é que a revolução tecnológica não será apenas sobre máquinas mais inteligentes. Ela redesenha cadeias produtivas, distribui empregos de maneira desigual e redefine quem detém poder econômico.
Se Pernambuco não se mover rápido, corre o risco de assistir à revolução de fora, como consumidor, e não como produtor de tecnologia. Por isso, é urgente que governos, universidades e setor privado alinhem estratégias. Não basta celebrar a visita de líderes de big techs como Fábio Coelho: precisamos traduzir esse momento em políticas de incentivo, formação de talentos, infraestrutura digital robusta e atração de investimentos que deixem legados concretos. O futuro digital do Brasil pode — e deve — passar pelo Nordeste. Mas isso só acontecerá se transformarmos simbolismos em ação coordenada. A janela está aberta, e Pernambuco tem tudo para atravessá-la.
Bruno Almeida, presidente do LIDE Digital Pernambuco