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Raízes estruturais do desemprego em Pernambuco

A taxa de desemprego em Pernambuco tem sido uma das mais altas do país. Essa situação é observada há muito tempo, independente do governo de plantão

Por JORGE JATOBÁ Publicado em 02/09/2025 às 0:00 | Atualizado em 02/09/2025 às 10:22

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Ela flutua com o nível de atividade econômica, mas se situa sempre muito acima da média nacional. Mesmo com a economia pernambucana crescendo acima da do país, a taxa de desemprego cai, mas ainda se mantém acima da média nacional.

As últimas informações da PNAD/IBGE Contínua trimestral (segundo trimestre de 2025) apontam que a taxa de desocupação em Pernambuco foi 10,8%, a maior do país, contra uma taxa média de 5,8% para o Brasil. Portanto, o Estado apresenta um sério desemprego estrutural que não é muito distante daquele evidenciado pelo Nordeste que, além de apresentar a maior taxa de desemprego entre as regiões brasileiras (9,4%), tem também a maior proporção (50,4%) de pessoas na informalidade.

Quais são as causas de uma taxa de desemprego tão elevada? Há várias hipóteses que não são mutualmente exclusivas A primeira, é a relativamente baixa inserção da população em idade ativa (14 anos ou mais) na força de trabalho. Em Pernambuco, a taxa de participação, ou seja, a proporção das pessoas ocupadas ou procurando ativamente trabalho em relação ao número de pessoas em idade de trabalhar é de apenas 54,3% contra 62,1% para o Brasil. Esse indicador é uma medida da oferta de trabalho. Observa-se uma relação inversa entre a taxa de participação e o nível de desenvolvimento regional. Quanto mais desenvolvida é a região, maior é a taxa de participação. Na Região Sul, a taxa de participação é 66,07% e as taxas de desemprego (4,7%) e de informalidade (30,9%), as mais baixas entre as cinco macrorregiões brasileiras. Isso significa que quando as oportunidades oferecidas pela expansão da economia se apresentam, a oferta de trabalho aumenta, ou seja, as pessoas saem da inatividade para procurar ativamente trabalho o que eleva o desemprego que é conceituado, concomitantemente, como ausência de ocupação e , portanto, de renda do trabalho, e busca ativa por um emprego. Ou seja, quando a economia cresce há uma migração de pessoas que estão fora para dentro da força de trabalho (ocupados desempregados) à busca de emprego, elevando a taxa de desocupação.

A segunda hipótese relaciona-se e com o fato de Pernambuco ainda deter um elevado percentual de pessoas em situação de pobreza extrema (9,3% em 2023) e de apresentar alta desigualdade, a segunda maior do país, com um índice de Gini de 0,523, em 2024. Ademais, quase 75% do PIB do Estado concentra-se na Região Metropolitana do Recife e na Zona da Mata que abriga o antigo parque sucro-alcooleiro ( agora sucro energético) cujo legado multissecular se expressa nos piores indicadores socioeconômicos entre as macrorregiões de desenvolvimento do Estado. Pobreza, desigualdade e concentração econômica jogam as pessoas no mercado de trabalho tornando o indicador de desemprego elevado. A taxa de desemprego é menor nos estados mais prósperos, mas não necessariamente menos desiguais, como é o caso nos estados do Sul (4,7%), a mais baixa entre as grandes regiões do país.

Uma terceira hipótese é que a interiorização das universidades federais e estaduais e o surgimento de instituições de ensino médio e superior locais em importantes cidades de porte médio, aumentou substancialmente o número de jovens que, formados, se lançam ao mercado de trabalho buscando emprego, o que eleva a taxa de desocupação. Lembrando que desempregada, no conceito do IBGE, é a pessoa que está ativamente procurando uma ocupação no mercado de trabalho.

Uma hipótese clássica, a quarta e última, mas não a menos importante, tem a ver com a qualidade da educação básica que compromete a formação profissional média e superior dos pernambucanos em termos de quantidade e qualidade a despeito dos esforços do Sistema S de educação profissional. As pessoas frequentemente não atendem aos requisitos dos ofertadores de emprego em termos de habilidade e competências. É comum os empresários reclamarem das dificuldades de preencher postos de trabalho por causa do perfil educacional dos demandantes. Pessoas com formação incompleta e inadequada engrossam a fila dos desempregados, tornando a desocupação crônica e de raízes estruturais.

Essas causas podem ser simultâneas sendo difícil identificar o peso de cada uma. Portanto, todas podem estar contribuindo para a relativamente elevada taxa de desemprego em Pernambuco

Essas hipóteses precisam ser avaliadas por estudos mais aprofundados para que sejam revistas as políticas em curso e para que se desenhem novas que se enderecem a este desafiador problema da economia pernambucana. O crescimento econômico é a melhor política de emprego, mas pode, no caso de Pernambuco, não ser condição suficiente.

Jorge Jatobá, doutor em Economia, professor titular da UFPE, ex-Secretário da Fazenda de Pernambuco, presidente do Conselho de Honra do LIDE-PE, sócio da CEPLAN-Consultoria Econômica e Planejamento

 

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