A varicela, o cobreiro e as doenças cardiovasculares
A maneira mais eficaz de prevenir as complicações graves do cobreiro, é por intermédio da vacinação

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Tem sido registrado, em vários estados, surtos de catapora. Na semana pretérita, 500 alunos de uma determinada unidade de ensino localizada no município de São Cristóvão, Sergipe, foram afastados, temporariamente, das aulas, após a confirmação de 16 casos da doença. Fato semelhante aconteceu no início da semana em Salvador, Bahia, com o diagnóstico da referida virose em quatro detentos de uma cadeia pública, sendo, portanto necessária a suspensão das visitas por uma semana e a restrição temporária de atividades educacionais e religiosas nos pavilhões afetados. Esses acontecimentos, servem de alerta importante, para os riscos da doença, também em adultos e idosos.
A catapora, também conhecida por varicela, constitui doença infecciosa, altamente contagiosa, mas geralmente benigna, causada pelo vírus Varicela-Zoster, que se manifesta, frequentemente, na idade escolar o que facilita a sua disseminação. A principal característica clínica é o polimorfismo das lesões na pele, que exibem diversas formas evolutivas (máculas, pápulas, vesículas, pústulas e crostas), acompanhadas de uma irritante coceira. Em crianças, geralmente é benigna e autolimitada. Em adultos, apesar de mais raro, o quadro clínico tende a ser mais exuberante podendo complicar com pneumonia, sobretudo nos imunocomprometidos.
O tratamento da catapora se fundamenta no combate aos sintomas: analgésicos e antitérmicos (evitar a aspirina, porque pode provocar problemas graves), para aliviar a dor de cabeça e baixar a febre; antialérgicos, para aliviar a coceira, e os cuidados de higiene, apenas com água e sabão, para minimizar a transmissão. Todavia, a conduta mais eficaz é a prevenção, mediante a vacinação, para todas as crianças, adolescentes e adultos suscetíveis (que não tiveram a virose).Uma vez adquirida a catapora, a pessoa fica imune à doença. No entanto, o vírus responsável permanece, o resto da vida, no corpo do indivíduo e pode ser reativado, causando o Herpes-Zoster, também conhecido, como cobreiro.
Acredita-se que mais de 95% dos brasileiros, apresentem o vírus Varicela-Zoster “adormecidos”, preferencialmente, nos olhos e no cérebro, sem fazer alarde. Porém, uma em cada três pessoas, geralmente na idade adulta, pode manifestar a doença, que ataca os gânglios nervosos. Isso ocorre, sobretudo, naqueles com imunidade comprometida, como os portadores de doenças crônicas (como a hipertensão arterial e a diabetes), câncer, aids, transplantadas, dentre outras. A doença comumente se manifesta, mediante o surgimento de erupções cutâneas, unilaterais, bastante características: pequenas vesículas com líquido, sobre a pele avermelhada, que seguem o trajeto de um nervo, geralmente, na face, tronco e membros. Cerca de 30% dos acometidos pelo vírus, evoluem com neuralgia (dor) pós herpética, que é bastante limitante, especialmente em idosos.
Vale ressaltar, ainda, que nas quatro semanas seguintes ao surgimento do cobreiro, existe um aumento de 30% a 35% do risco de sofrer um infarto agudo do miocárdio (IAM) ou um acidente vascular cerebral (AVC). Os mecanismos pelos quais essa infecção aumenta os eventos cardiovasculares são complexos, abrangendo ativação do sistema imunológico, inflamação sistêmica, estados pró-trombóticos, ativação do sistema simpático e aumento da demanda miocárdica de oxigênio. O tratamento do Herpes-Zoster, se baseia em medicamentos sintomáticos e o uso de antivirais específicos para o vírus, que irão reduzir a multiplicação dele no organismo.
Um estudo global apresentado esta semana, no Congresso Europeu de Cardiologia, em Madri, aponta que a vacinação contra o Herpes-Zóster, está associada a uma redução significativa, tanto no risco de IAM, como do AVC.A investigação avaliou dados de quase duas décadas e encontrou uma diminuição de 18% nos eventos cardiovasculares em adultos acima de 18 anos e de 16% entre pessoas com mais de 50 anos.
Portanto, a maneira mais eficaz de prevenir as complicações graves do cobreiro, é por intermédio da vacinação: a) contra a catapora, na infância, conforme evidenciado acima e, b) contra o próprio cobreiro, é indicada a vacina recombinante, em duas doses com intervalo de dois meses, a partir de 50 anos de idade, para todos; e de 18 anos de idade, para os imunodeprimidos.
A vacinação constitui tópico crítico na formulação de políticas e estratégias de saúde, todavia, ações de “gangues” cibernéticas, têm se utilizado das redes sociais para disseminar inverdades (conhecidas como fake News), com relação ao seu uso. A consequência dessas condutas irresponsáveis é a proliferação de infecções e suas consequências, que poderiam ser evitadas. Parafraseando o médico canadense, considerado “o pai” da medicina moderna, Sir William Osler, afirme-se que o bom médico trata a doença, mas o grande médico orienta a prevenção da doença.
Antônio Carlos Sobral Sousa, Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras, de Educação, Estanciana de Letras e Riachuelense de Letras, Ciências e Artes.