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Notícias alvissareiras, ou não...

Caminha-se, ainda que a passos lentos, para um acordo de paz que interrompa o conflito entre a Rússia e a Ucrânia......................

Por OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS Publicado em 23/08/2025 às 0:00 | Atualizado em 25/08/2025 às 10:21

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A despeito dos esforços do presidente Trump, tudo dependerá dos humores de Putin.

A trágica guerra, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, ceifou a vida de milhares de civis, destruiu belas cidades, abalou alicerces da geopolítica mundial, debilitou em meios bélicos e recursos humanos as forças armadas de ambos os contendores, entre outras consequências.

Como resultado mais provocante, redefiniu a postura "pacifista" da Europa Ocidental, herdada do pós-segunda guerra mundial, despertando-a para a dura realidade de que o mundo já não se regula pela boa vontade kantiana, mas sim pela lei do mais forte hobbesiana.

Esse triste reconhecimento se desvenda no aumento significativo dos orçamentos de defesa de países como Alemanha, Reino Unido e Polônia, conscientes de que o guarda-chuva militar americano não continuará aberto para protegê-los contra as investidas dos herdeiros da velha "União das Repúblicas Socialistas Soviéticas".

Não sem frágil otimismo, reafirmo que as condições para que as negociações avancem e se concretizem as cláusulas para uma paz duradoura parecem estar se conformando.

A Ucrânia cede território, mas a Rússia se contenta com menos. Com as linhas de fronteira redefinidas, as regiões de Donbass, Donetsk e Lugansk se configuram uma "nova cortina de ferro" entre a OTAN e o Império Russo. Europa e Estados Unidos assinam como fiadores neste contrato por estabilidade, mesmo temendo calote.

Contudo, observo com profunda preocupação um detalhe pouco iluminado pelos analistas de conjuntura nesse processo de construção da paz entre Rússia e Ucrânia.

"Rússia é uma potência, eles não".

A frase, formulada pelo presidente Trump, sinaliza como doravante as grandes potências agirão diante de antagonistas e antagonismos aos seus interesses.

O mundo, na adolescência do século XXI, abandonou o romantismo da Carta da ONU — até então farol definidor de comportamento nas relações entre países —, afastou-se das decisões consensuais que permitiam a atores com diferentes envergaduras de poder dialogarem em condições de igualdade e incorporou o individualismo e nacionalismo como posturas prioritárias, em contraposição ao coletivismo e multilateralismo do "liberdade, igualdade e fraternidade".

Hipoteticamente, quando a China, saindo de sua paciência secular, decidir resolver a questão política da ilha de Taiwan e empregar seus poderosos meios militares para invadi-la, como reagirão as demais nações diante da agressão?

Hipoteticamente, quando os Estados Unidos optarem por assegurar militarmente áreas vitais para concretização de seus objetivos geopolíticos, invadindo países soberanos sob a bandeira do America First, como reagirão as demais nações diante da agressão?

Hipoteticamente, quando a Rússia deliberar testar os limites da resiliência europeia e voltar a invadir a Ucrânia ou até um país báltico, a fim de ampliar a zona tampão que protege o coração do poder russo das ações da OTAN, como reagirão as demais nações diante da agressão?

Hipoteticamente, quando potências regionais de médio porte, atiçadas pelo descontrole das relações internacionais, resolverem expandir seus domínios físicos, econômicos e psicossociais para solucionar conflitos históricos esquecidos nas gavetas da diplomacia, como reagirão as demais nações diante da agressão?

Hipoteticamente, ...

Defrontado com esse cenário global marcado pela prevalência da lei do mais forte, o Brasil não pode se iludir com a ideia de que apenas o discurso diplomático será suficiente para resguardar seus interesses.

Embora a nossa tradição de mediação herdada de Rio Branco seja ativo relevante, é o poder militar que, hoje em dia e em última instância, garantirá credibilidade à palavra e assegurará respeito às posições de nosso país.

A consolidação de capacidades dissuasórias torna-se, portanto, imperativo para que o Brasil esteja preparado para enfrentar adversários e proteger seus recursos naturais, seu território e sua gente.

Um País militarmente frágil corre o risco de ver sua voz emudecida nos fóruns internacionais e seus soberanos interesses ameaçados por potências que não hesitarão em agir pela força.

Certamente, não o queremos assim.

A propósito, segunda-feira, 25 de agosto, o Exército brasileiro homenageia Caxias, o Pacificador: #ObrigadoSoldado.

OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS, general de Divisão da Reserva

 

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