O ninho da Cotovia
A primeira e mais urgente providência do tirano quando alcança o poder é perseguir e destruir a cultura...............................

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Não posso fazer faxina porque sou alérgico a poeira e livro parado na estante acumula muito pó, veneno para rinite. Recentemente, peguei uma tosse de 41 dias ininterruptos. Curei-me bebendo água e tratado pelo renomado pneumologista José Ângelo Rizzo.
Teimoso, resolvi enfrentar novamente minha pequena estante e me lasquei. Quando vi O último dos moicanos, de meu querido e inesquecível James Fenimore Cooper, não resisti e mergulhei nele, relembrando a mocidade. A cena principal do livro, o massacre no Forte William Henry durante a Guerra Franco-Indígena, nunca me saiu da cabeça. Nessa notável obra, Cooper, o primeiro romancista americano de fama internacional, desenvolve uma história irresistível de aventura selvagem, cuja atmosfera eu adorava nos meus 15 anos de idade. Li O último dos moicanos, à sombra do bambuzal da Praça 2 de Julho, data da independência da Bahia, o popular Campo Grande. Antecedendo ao que acontece hoje, na Amazônia, o autor lamenta a destruição da floresta e o assassinato dos índios pelos colonos. Importante relembrar que, além de matar os peles-vermelhas, o exército americano dizimou os búfalos, alimento básico dos nativos.
Com saudade do meu pai Carlos Koch de Carvalho, resolvi seguir seu conselho: "Meu filho, ler é bom, Miguel de Cervantes já dizia que até os textos ruins tinham sua relevância porque nos serviam de comparação para admirar os bons." Mas só há salvação nos clássicos" - completava Dr. Koch! E fui reler O vermelho e o negro, presente do amigo Tomaz Seixas. Na época, eu estava estudando para o vestibular de direito, onde caía redação. E o estilo narrativo do francês, um tanto pesado, gongórico e rebuscado na tradução da língua portuguesa, incentivou sua leitura.
Depois constatei que o marinheiro polonês Joseph Conrad era muito mais hermético do que ele - que o diga Mario Helio, versado em Victor Hugo, segundo o qual "a coruja evita o ninho da cotovia." Às vezes, tenho vontade de contrariá-lo, mas como enfrentar o escritor mais prolífico e versátil da escola romântica francesa, tanto em poesia quanto na prosa?
A primeira e mais urgente providência do tirano quando alcança o poder é perseguir e destruir a cultura. Manuel Bandeira achava Victor Hugo o maior poeta francês.
Arthur Carvalho , da União Brasileira de Escritores - UBE-PE.