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Claudionor Alves: Santa Casa do Recife: filantropia, gestão e o compromisso de cuidar de vidas

Aos 167 anos, a instituição filantrópica mais antiga de Pernambuco ressurge fortalecida, equilibrando contas e ampliando cuidados pelo SUS

Por Claudionor Alves Publicado em 15/08/2025 às 8:02

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A Santa Casa de Misericórdia do Recife atravessa um tempo de reconstrução que vai além das contas equilibradas e da redução de déficits. Trata-se de uma narrativa de resiliência, de reencontro com sua vocação mais profunda: servir. Fundada em 1858, essa instituição carrega em seus corredores as marcas de mais de um século de cuidado e esperança. Hoje, ao completar 167 anos de existência, demonstra que tradição e modernidade podem caminhar lado a lado quando há propósito.

Por muito tempo, a Santa Casa conviveu com o peso das dificuldades financeiras que ameaçavam não apenas sua gestão, mas a continuidade de sua missão filantrópica.

O déficit de R$ 25 milhões que a instituição arrastava não era apenas um número: era o retrato das angústias de profissionais, pacientes e famílias que dependem do SUS para viver com dignidade. O que se viu, no entanto, foi uma virada histórica. A instituição conseguiu reduzir esse abismo, reequilibrar as contas e devolver segurança a quem nela trabalha e a quem dela precisa.

Mas o que chama a atenção não é a matemática do ajuste, e sim a humanidade que se revela por trás dele. A Santa Casa voltou a ser espaço de confiança. Colaboradores recebem em dia, pacientes encontram mais serviços disponíveis, e o estado vê renascer uma referência que parecia sufocada pelo tempo e pelas crises.

Exemplo maior desse novo ciclo é o ambulatório de oftalmologia do Hospital Santo Amaro. Um investimento que não se mede apenas em cifras, mas em olhos que voltarão a enxergar com clareza, em diagnósticos precoces, em tratamentos que podem mudar destinos.

A estrutura, moderna e acessível, nasce para reduzir filas, acelerar atendimentos e oferecer, pelo SUS, o que muitas vezes era privilégio de poucos. Cirurgias de catarata, glaucoma, pterígio e terapias a laser deixam de ser promessa distante e tornam-se realidade possível.

O impacto vai além da saúde ocular. Ele se estende à dignidade, pois devolver a visão significa devolver autonomia, capacidade de trabalho, qualidade de vida. Em cada paciente que passa por ali, há mais do que uma consulta ou exame: há a reafirmação do direito à vida plena.

E não é só. A Santa Casa reafirma sua função de retaguarda essencial do sistema de saúde pernambucano. No ano passado, foram mais de 289 mil exames, 52 mil consultas e 6 mil cirurgias. Um mosaico de serviços que traduz a importância de uma instituição que, mesmo antiga, continua indispensável.

Agora, um novo horizonte se anuncia. O planejamento para iniciar os atendimentos em oncologia e nefrologia revela um passo decisivo: ampliar a atuação em áreas sensíveis e complexas, onde a carência ainda é enorme. Cuidar de pacientes oncológicos e renais não é apenas oferecer tratamento, mas acolher fragilidades, humanizar trajetórias e renovar esperanças.

A história da Santa Casa é, no fundo, a história do Recife e de Pernambuco. Uma instituição que resistiu ao tempo, às dificuldades e às mudanças da sociedade.

Uma instituição que não nasceu para buscar lucro, mas para estender mãos. Em cada leito, em cada sala de exame, em cada colaborador que veste o jaleco, permanece acesa a chama da filantropia que atravessa gerações.

E aqui se encontra um dos maiores desafios: fazer filantropia em tempos de recursos escassos, diante da pressão crescente do sistema de saúde e das desigualdades sociais.

Manter uma instituição viva há 167 anos não é apenas uma vitória contábil, mas sobretudo um ato de resistência. É prova de que a solidariedade, quando unida à boa gestão, pode se tornar instrumento de transformação.

Aos 167 anos, a Santa Casa de Misericórdia do Recife se mostra não como um monumento do passado, mas como um organismo vivo, pulsante, que aprende, se adapta e continua a cumprir sua missão: cuidar dos pernambucanos.

Claudionor Alves - Superintendente da Santa Casa de Misericórdia do Recife

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