George Darmiton - Inteligência Artificial: muito além dos robôs de conversação
Da Grécia antiga para os dias atuais, a IA deixou de ser um assunto apenas relacionado à ficção científica para permear nosso cotidiano

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O desbravar de caminhos para alcançar inteligência além do ser humano remonta a um passado distante dos tempos modernos. Na mitologia grega, Talos, um autômato gigante de bronze, foi concebido por um deus para proteger a ilha de Creta. Talos é provavelmente a primeira máquina inteligente documentada.
Da Grécia antiga para os dias atuais, a Inteligência Artificial (IA) deixou de ser um assunto apenas relacionado à ficção científica para permear nosso cotidiano. Ao fazer uma busca no Google, somos auxiliados por algoritmos que usam IA. Recomendações de filmes, de livros ou de músicas, nas mais diferentes plataformas, são trabalhos realizados por IA. O acesso ao celular ou aos caixas eletrônicos de bancos usando a impressão digital, a face ou a palma da mão, também é uma tarefa desempenhada por IA. A lista é longa e inclui jogos, redes sociais, sistemas de saúde e financeiro, propaganda, transporte, compras online, só para dar alguns exemplos. Ou seja, artefatos que usam IA já permeiam nosso cotidiano faz algum tempo e, em muitos casos, não estamos cientes de que existe uma IA por trás do processo.
A percepção do público sobre IA vem mudando ao longo do tempo. Embora seja unânime seu poder transformador na sociedade, alguns enxergam um imenso potencial positivo, já outros veem o copo meio vazio. Interagir com um computador super-avançado, como o HAL 9000, do filme “2001: uma Odisseia no Espaço”, despertava o imaginário popular e, esta realidade, começou a se materializar com o advento de assistentes virtuais como Siri, Cortana e Alexa.
Porém, a visão geral do que é IA começou a se modificar de maneira mais evidente ao final de 2022, com o lançamento do ChatGPT. Agora dispomos de robôs de conversação capazes de realizar diferentes tarefas que, no passado, eram atribuídas apenas a humanos, tais como: resolução de problemas, resumo de documentos, escrita de programas de computador e de cartas, análise de dados e criação de imagens e de vídeos. Tudo isso como se estivéssemos conversando, batendo um papo, com um amigo. Logo, esta forma simples de nos comunicarmos com esses robôs gera uma maior visibilidade da existência de IA, além de aproximar essa realidade da sociedade de forma mais ampla. Esta novidade provoca diferentes sensações e é motivo de debate não apenas entre especialistas, mas por boa parte da sociedade.
Depois do ChatGPT, ferramentas similares surgiram: Gemini e Deep Seek, entre outras. Esta diversificação de ferramentas amplia as possibilidades de uso e, por consequência, expande a percepção de suas capacidades. Tais ferramentas têm o propósito de processar linguagem natural, ou seja, dispõe de capacidade de "entender" um comando, seja de texto ou de voz, e de produzir uma resposta. Muitos setores da sociedade, empresas públicas ou privadas, já se beneficiam de tais ferramentas e a tendência é de maior e melhor adesão.
Mas, vale a ressalva de que IA não é apenas um robô de conversação ou um grande modelo de linguagem (LLM, do inglês). Vai muito além!
É importante estarmos cientes disso, pois só assim podemos aprofundar a discussão sobre o impacto dessas tecnologias em nossas vidas; pois existem vários aspectos éticos e legais envolvidos. Munidos de tal discernimento, podemos avançar no uso e na construção de ferramentas e de processo educacionais que nos auxiliem a extrair o que de melhor essas novas tecnologias têm a nos oferecer.
George Darmiton, Coordenador do Bacharelado em Inteligência Artificial, Membro da Academia Pernambucana de Ciências e Professor Titular do CIn-UFPE