Aeronave governamental em pane...
Estive na comitiva do governador Carlos Wilson Campos à Missa do Vaqueiro de Serrita no dia 22 de julho de 1990, há 35 anos..............

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O governador me pegou em casa, junto com o filho Rodrigo, e chegamos ao hangar da Weston no Aeroporto dos Guararapes às 6h30. Já estavam lá, Romeu Neves Baptista, secretário da Casa Civil, Samuel Oliveira, presidente da Empetur, e o major Ramos, ajudante de ordens do governador. O "Leajet 60" decolou do Recife às 7h e era comandado pelo piloto Nestor da Silva Júnior, uma figura muito conhecida, amigo pessoal do governador, o comandante Nestozinho, pois seu pai também era piloto. Conhecia muito ele, inclusive porque uma de suas irmãs, Anne Elizabeth Brasileiro da Silva, tinha sido a candidata do Aeroclube do Recife no concurso Miss Pernambuco do ano anterior.
A viagem até Serrita, a 390 quilômetros da capital pernambucana, durou uma hora e meia e foi tranquila, com um "Céu de brigadeiro", como diz uma gíria usada pelos pilotos. Na chegada, a comitiva foi recebida por vereadores e o prefeito de Serrita. O jornalista Luiz Faria, secretário de imprensa do estado, que tinha ido na véspera, juntou-se à comitiva.
O grupo seguiu para a casa do prefeito, onde foi oferecido um completíssimo café da manhã regional. Depois, o grupo seguiu para o Sítio Lages, onde aconteceu a tradicional Missa do Vaqueiro, que naquele ano teve a participação musical de Dominguinhos, Gonzaguinha e Joquinha Gonzaga. No palanque oficial, um grande número de políticos, a começar de muitos candidatos na eleição que aconteceu em novembro daquele ano.
Depois da missa, tivemos um lauto almoço na casa de um empresário local, com a presença de muitos e muitos políticos da região. Como o aeroporto local não podia operar à noite, seguimos para lá em torno das 16h30. Recordo bem que no trajeto até a aeronave havia um pedinte. Eu fui o único a lhe dar uma cédula.
No avião, os mesmos passageiros da vinda. A decolagem se deu normalmente, mas com 15 minutos de voo, o piloto Nestozinho abriu a porta e disse a Carlos Wilson que o avião estava com um problema e ele tentaria ir para Petrolina, pois em Serrita não havia estrutura para um pouso de emergência. Carlos Wilson deu a notícia aos outros passageiros e, claro, surgiu um clima de apreensão. Um dos passageiros quis brincar, dizendo que Samuel Oliveira, dono de vários apartamentos de hotel, poderia fazer testamento doando alguns para seus companheiros de voo, brincadeira que irritou muito Carlos Wilson. Que, como tinha como hábito, começou a benzer, uma por uma, as medalhas de santos na corrente que sempre usava.
A porta da cabine permaneceu aberta e foi possível ouvir as mensagens passadas para outras aeronaves que voavam na região, inclusive de dois aviões da Varig. Era uma preocupante "Aeronave governamental em pane", mensagem que ouvimos várias vezes. Vi muitos outros passageiros começando a rezar. Menos um, Rodrigo, filho de Carlos Wilson, no final do avião, que dormia, depois de ter paquerado muito uma moça bonita durante o almoço.
Depois de meia hora dando voltas, o piloto decidiu que iria pousar em Serrita. Pediu para a gente ficar na posição com o rosto entre as pernas. Para felicidade geral, a aterrissagem foi tranquila, descemos aliviados. E fiz uma confissão: meu medo tinha sido menor ao lembrar da esmola que tinha dado ao pedinte antes do embarque, ia me ajustar ao chegar ao juízo final, caso o pior acontecesse.
Não chegamos a comemorar, apenas um cumprimento entre todos, aliviados. Depois, fomos informados que o avião não tinha tido qualquer problema, apenas um mostrador tinha dado problema.
Chegou a hora de decidir como voltar para o Recife, pois o avião teria que esperar pela vinda de um técnico. A viagem de carro duraria muitas horas, quando surgiu a opção de um avião que tinha chegado e que pertencia ao empresário Romero Maranhão, cedido para Roberto Magalhães fazer campanha a deputado federal e que voltaria ao Recife. Depois de ouvir os outros, Carlos Wilson decidiu aceitar a oferta e voltar a ele. Como tinha menos lugares, alguns tiveram mesmo que enfrentar as muitas horas de estrada. Como tinha compromisso no Recife, voltei com ele. A viagem foi um pouco maior, em torno de duas horas, com direito a muitos balanços, mas que felizmente terminou muito bem.
Para terminar, na tarde do dia 20 de setembro daquele ano, recebi um telefonema de Carlos Wilson perguntando a hora daquele episódio em Serrita, e disse que em torno das 17h. Exatamente a hora em que naquele dia caiu, em Fernando de Noronha, um avião Bandeirante que pertencia à Sudene e estava sendo usado em comodato pelo governo do estado. Matou os 14 passageiros, inclusive o comandante Nestozinho, que havia nos salvo em Serrita. Antes, o avião tinha feito o trecho Recife-Noronha com Eduardo Jorge Pragana, que era o administrador da ilha.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1