Dr. Murilo Guimarães: 'Respirar durante o exercício, o corpo sabe o que faz'
Embora bem-intencionadas, algumas recomendações costumam partir de uma compreensão equivocada sobre o funcionamento do nosso corpo

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É comum ouvirmos, nos consultórios ou nas academias, orientações como: “respire fundo”, “inspire pelo nariz, expire pela boca”, “aprenda a respirar corretamente durante o exercício”. Embora bem-intencionadas, essas recomendações costumam partir de uma compreensão equivocada — e até simplista — sobre o funcionamento do nosso corpo.
O maestro interno: como seu corpo regula a respiração
Durante o exercício, o corpo humano é extraordinariamente inteligente. À medida que a atividade física se intensifica, há aumento da produção de gás carbônico e da necessidade de oxigênio. O cérebro, atento a esses sinais, envia estímulos para que os músculos respiratórios — principalmente o diafragma — se movimentem com mais frequência e vigor. O resultado? A respiração acelera e se aprofunda, sem que precisemos pensar nisso.
É claro que algumas técnicas de respiração podem ajudar na performance, especialmente em práticas específicas como o yoga ou o pilates, onde o foco é o controle corporal e mental. Mas daí a dizer que alguém precisa “aprender a respirar” é um salto perigoso — e, do ponto de vista fisiológico, incorreto. Respiramos desde que nascemos. Mantemos a respiração ao dormir, quando não estamos pensando nela. E, durante a prática esportiva, o nosso cérebro segue sendo o grande maestro desse processo.
Por que tentar controlar demais pode atrapalhar
O problema é que, ao tentar controlar demais a respiração, muitas pessoas acabam gerando ansiedade, descompassos e até hiperventilação. Nessas situações, o que era para ajudar, atrapalha. O ideal é permitir que o corpo faça o que sabe fazer: regular, com autonomia e precisão, cada inspiração e expiração.
A fisiologia respiratória mostra que o adulto, em repouso, realiza cerca de 12 a 20 incursões respiratórias por minuto. Durante o exercício, esse número pode subir para 40, 50, ou até mais, a depender da intensidade e do preparo cardiorrespiratório da pessoa. Não se trata de uma escolha consciente, e sim de uma resposta integrada, automática, orquestrada por quimiorreceptores (sensores químicos localizados nos vasos sanguíneos) e o centro respiratório (localizado no tronco cerebral) que têm milhões de anos de evolução.
Treine o físico, deixe a respiração fluir
Em vez de tentar “ensinar o corpo a respirar”, deveríamos investir em autoconhecimento, escuta corporal e sobretudo condicionamento físico. A respiração acompanha esse processo naturalmente. Treinamos músculos, resistência, força — e o sistema nervosos faz o resto. Portanto, o melhor a fazer durante o exercício é algo simples: focar na atividade, manter a constância e deixar o corpo respirar por conta própria. Afinal, ele sabe muito bem o que está fazendo.
*Dr. Murilo Guimarães, pneumologista