Editorial JC: Negociar é preciso
A uma semana do início da vigência da sobretaxa geral de importação para o Brasil, a agenda da negociação é urgente para a economia do país

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Embora a pauta política tenha se sobreposto à natureza econômica de uma tarifa geral que mais se parece com sanção, o governo brasileiro não pode abdicar de todos os instrumentos de negociação e interlocutores possíveis para desmontar a bomba-relógio programada contra a nossa economia, a partir de 1º de agosto.
Mesmo que a resposta diplomática inclua, como se vê, a denúncia na Organização Mundial de Comércio (OMC), pelo Itamaraty, o Brasil não pode entrar no jogo do presidente Donald Trump, deixando a questão das tarifas apenas no plano da vinculação ao processo contra Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).
É imprescindível retomar e acelerar com urgência as negociações com a Casa Branca. Como fizeram outros países, como a China e o Japão, e até a União Europeia, com relativo sucesso, diante da radicalização inicial de Trump.
A depender das circunstâncias, o adiamento do prazo da insensatez entrar em vigor, pode ser considerado positivo, pela dimensão dos prejuízos envolvidos na desarrumação do comércio global. Em relação à China, por exemplo, os norte-americanos já admitem prolongar a pausa por mais três meses, e dar continuidade às negociações para chegarem a um acordo bilateral.
A politização imposta por Trump no caso brasileiro tem atrapalhado a construção de consensos para a balança comercial. Mas a necessidade vale para os dois lados. As populações e empresas dos dois países têm muito a perder, se os 50% de taxa de importação para produtos do Brasil passarem a valer no início de agosto.
A expectativa, de lá e de cá, é que o pragmatismo econômico fale mais alto do que a sandice política – até porque as consequências não são discerníveis neste momento, com larga margem de fuga do controle de quem pretende sabotar a economia com objetivos políticos.
A entrada de senadores brasileiros no esforço institucional de negociar junto aos norte-americanos a postergação e reversão do tarifaço, é importante demonstração, para a Casa Branca, de que o momento é de ampliar as conversas. Na agenda dos senadores, encontros com empresários e parlamentares nos EUA, com o intuito de sensibilizar o presidente Donald Trump sobre os impactos da sobretaxa.
Pelo lado do Brasil, além do Legislativo, o governo Lula deve se aproximar mais de interlocutores dispostos a conversar. Se a mesa de negociações continua disponível, como afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o governo federal poderia descer do palanque antecipado de 2026, e ir na direção de um acordo, ainda que temporário, para impedir os efeitos desastrosos para a economia nacional – que já não anda tão bem, como sabe o ministro Haddad.
Por mais difícil que seja, a despolitização do tarifaço contra os brasileiros é fundamental para recolocar o debate no eixo econômico. Para que a instabilidade política não descambe em caos na economia, negociar é preciso, sem demora.
Confira a charge do JC desta quinta-feira (24)