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Ricos X Pobres

A pobreza não será combatida colocando o problema embaixo do tapete, com repressão, vigilância armada e cadeia..........................

Por SÉRGIO GONDIM Publicado em 18/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 19/07/2025 às 9:20

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O embate Ricos X Pobres é covardia. Até poderia ser convocado o Ricos pelos Pobres ou Todos pelos Pobres, se bem que seria muito otimismo esperar o envolvimento da classe média nessa parada, pois já está sufocada para pagar a faculdade do filho e o plano de saúde da família, em pânico com sua previdência. Muitos têm outra agenda como a prestação para a viagem dos sonhos à Disney, a roupa de grife, o carro novo acima de suas possibilidades ou a pensão dos filhos do terceiro casamento. Outros estão desfazendo a cabeça, seguindo influenciadores com ideias esquisitas o que, segundo as pesquisas, resulta em votos sem compromisso com a redução das desigualdades.

Todo respeito ao voto, mas tem deles que são um horror.

Pouco também se pode esperar de certos políticos porque é sabido que têm interesses que passam longe das necessidades dos mais pobres. Teriam poder e competência para ajudar, como demonstram ao melhorar a renda da família e dos protegidos, mas só deles. É a turma que gosta de tirar dos pobres para dar aos ricos.

Resta mesmo apelar para os ricos de boa vontade. Ricos de verdade, aqueles que se estressam para saber o que fazer com tanto dinheiro. Que trabalham, são empreendedores, figuras necessárias na sociedade capitalista, desde que a prosperidade não seja às custas da miséria de outros, da exploração da mão de obra, sonegação de impostos, maracutaia em licitações ou corrupção descarada. Que seja inclusiva.

Recentemente alguns muito ricos de outros países fizeram doações de bilhões para combater a fome no mundo. Essa não é uma tradição aqui, mas algumas empresas já destinam parte do lucro para obras sociais, escolas, valorização dos funcionários, planos de saúde e nem por isso vão a falência. Ao contrário, melhoram o faturamento e crescem. Se dinheiro traz felicidade é discussão antiga, mas distribuir um pouco em obras sociais, sem esperar nada em troca, certamente faz bem.

Não é sobre jogar os pobres contra os ricos ou vice-versa, mas pensar sobre o que pode ser feito para viver em um país onde as pessoas possam andar nas ruas sem perder o celular ou a vida, sem precisar gradear as janelas nem desviar o olhar para não se sentir agredido, envergonhado e culpado pela miséria sob as marquises.

Dos mais pobres, quando desesperados vendo os filhos chorando de fome, a reação lógica é a violência, a invasão ou a revolução. É assim em todo lugar e na história. A pobreza absoluta é um fato e quem ignora essa realidade sofre com o terror, a guerrilha e o crime. Os movimentos de sem-terra, sem teto, sem nada, pelo menos têm identidade e representantes, pode-se ouvi-los, negociar e atender reivindicações ou julgar se agirem fora da lei. É melhor do que nos países em que estão na clandestinidade usando a tática de guerrilhas com resultado ruim para todo lado.

A pobreza não será combatida colocando o problema embaixo do tapete, com repressão, vigilância armada e cadeia.

Da cruzada Ricos pelos Pobres espera-se sabedoria e justiça fiscal e não continuar fazendo de conta que não tem nada com isso, até ser atingida por uma bala perdida com direito a um rico funeral.

Sérgio Gondim, médico

 

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