Inspirando jovens a empreender
O Brasil possui um capital humano extraordinário. Sua juventude pulsa criatividade, sensibilidade e desejo de transformação.........

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Em um mundo que exige soluções criativas para desafios cada vez mais complexos, formar jovens com mentalidade empreendedora é um investimento estratégico para o futuro. E poucos lugares simbolizam tão bem esse espírito de inovação quanto o Vale do Silício.
Nos anos 1970, o mundo não imaginava que o coração da inovação surgiria em uma região agrícola da Califórnia. Esse ambiente foi forjado por uma combinação rara e poderosa: liberdade acadêmica, cultura de risco, acesso a financiamento e conexão com universidades de excelência como Stanford e Berkeley. O Vale do Silício não é fruto do acaso, mas de um ecossistema que valoriza o conhecimento, celebra a experimentação e estimula a criação. Foi essa atmosfera que permitiu o surgimento de empresas que moldaram o mundo como o conhecemos. O sucesso do Vale é, acima de tudo, resultado de uma aliança entre universidade, governo e mercado. O Estado investiu em pesquisa básica, criou infraestrutura científica e garantiu acesso à educação de qualidade. A iniciativa privada, por sua vez, captou esse conhecimento e o transformou em produtos, serviços e soluções que impactaram a vida das pessoas.
Não se trata de Estado versus mercado, mas de colaboração. A inovação floresce quando o conhecimento circula, quando há liberdade para criar e coragem para errar. No Vale do Silício, errar não é fracassar — é parte do processo. É nesse ambiente que germina a mentalidade empreendedora. E é exatamente essa mentalidade que precisa ser cultivada entre jovens de todo o mundo.
Mais do que uma abordagem de negócios, a mentalidade empreendedora é uma forma de ver e transformar o mundo. Significa agir com autonomia, aprender com os erros, buscar soluções novas para problemas antigos e gerar impacto com propósito. Essa atitude não surge espontaneamente — ela precisa ser provocada, incentivada e vivenciada.
É justamente esse o propósito do programa "Acelera no Vale do Silício", uma iniciativa que proporciona a jovens brasileiros uma imersão real no ecossistema de inovação mais vibrante do planeta. Desde 2019, 86 jovens já participaram da experiência, conhecendo de perto empresas, universidades e profissionais que lideram a transformação tecnológica global. A jornada é estruturada em três pilares: negócios, educação e cultura.
No eixo de negócios, os jovens visitam empresas como Meta, Apple, Intel, Tesla, Oracle, Nvidia, Google, Amazon, NASA, Uber, Brex, Electronic Arts, entre outras. Mais de 45 organizações já foram visitadas, com interações que envolveram mais de 120 profissionais — de engenheiros a vice-presidentes, de gestores de talentos a fundadores. Esses encontros vão além de apresentações institucionais: são diálogos autênticos sobre trajetórias, propósito, desafios e aprendizados.
No pilar educacional, os participantes vivenciam a rotina acadêmica de Stanford e Berkeley, participando de workshops e palestras. A proposta é conectar teoria e prática, expondo os jovens a dinâmicas como design thinking, pitch de ideias e validação de soluções. Também é um espaço de reflexão sobre ética, impacto social e liderança responsável. Ao vivenciar o ambiente universitário, os jovens são estimulados a expandir seus horizontes e a repensar seus projetos de vida com mais ambição e propósito.
No pilar cultural, os jovens exploram museus, centros de inovação e marcos históricos. Conhecem a diversidade californiana, a história da inovação americana e o modo de vida de uma região que respira tecnologia, mas valoriza o humano. Compreendem que inovação não se faz apenas com algoritmos e capital de risco, mas também com sensibilidade cultural, empatia e diversidade de pensamento.
A edição de 2025 traz uma inovação marcante: a inclusão de estudantes de escolas públicas na comitiva. Trata-se de um passo essencial rumo à democratização do acesso a experiências formativas de alto nível. O Acelera mostra que o talento está em todos os lugares — o que falta, muitas vezes, é a ponte. Os resultados são visíveis. Muitos participantes retornam ao Brasil com novas perspectivas, mais autoconfiança e disposição para empreender em suas comunidades. Alguns criam startups; outros se engajam em projetos sociais ou tornam-se multiplicadores da experiência vivida. O programa transforma não apenas carreiras, mas visões de mundo
Por isso, é um modelo que merece ser replicado e ampliado. O Brasil possui um capital humano extraordinário. Sua juventude pulsa criatividade, sensibilidade e desejo de transformação. O que falta, com frequência, são oportunidades. Iniciativas como o Acelera cumprem esse papel: conectam jovens brasileiros ao que há de mais avançado no mundo e os desafiam a sonhar maior.
Mais do que um programa de viagem, o Acelera é uma plataforma de formação de lideranças. É um lembrete de que não há inovação sem diversidade, sem coragem, sem pessoas. É também uma provocação: por que o Brasil ainda não discute com seriedade um modelo de desenvolvimento que coloque o conhecimento, a ciência e a criatividade no centro?
O exemplo do Vale do Silício mostra que é possível articular liberdade para criar, infraestrutura para pesquisar, cultura de colaboração e espírito empreendedor. Celebrar cinco anos do Acelera é celebrar uma visão de futuro. Um futuro em que jovens brasileiros sejam protagonistas da inovação, da sustentabilidade e da transformação social. Onde empreender seja sinônimo de servir, de construir, de impactar positivamente. Onde a educação empreendedora seja parte do currículo da vida.
Esse futuro já começou — com dezenas de jovens que atravessaram fronteiras para descobrir que podem, sim, transformar o mundo. Em tempos de incerteza, o Acelera é uma aposta na esperança. E, como toda boa inovação, começa com um sonho que encontra coragem, parceria e ação.
Eduardo Carvalho, Harvard University Fello, autor do livro "Agente Transformador"