Artigo | Notícia

A centro-cireita e a pauta de costumes como diferencial competitivo em 2026

As eleições presidenciais de 2026 desenham um horizonte promissor para uma candidatura de centro-direita no Brasil..................

Por KARIN KOSHIMA Publicado em 17/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 17/07/2025 às 10:00

Clique aqui e escute a matéria

Esta análise, fundamentada em uma observação aprofundada do eleitorado brasileiro através de pesquisas qualitativas, remete às mesmas percepções que me guiaram em 2018. Naquele ano, em fevereiro, o artigo "O eleitor de Bolsonaro", de minha autoria, ousou apontar para uma vitória que a maioria considerava improvável, até mesmo descabida. À época, a compreensão predominante confinava o eleitorado de Jair Bolsonaro a segmentos radicais. Contudo, percorrendo o Brasil realizando pesquisas qualitativas constatei uma realidade distinta: esses eleitores não eram radicais, nem meramente conservadores retrógrados e, muito menos, tapados. Eram, e continuam sendo, cidadãos comuns, assolados pela insegurança pública e apreensivos com a percepção de uma subversão dos valores familiares tradicionais. A vitória de Bolsonaro confirmou que o contingente desses cidadãos era muito mais expressivo do que se supunha e, o que posso dizer, é que suas inseguranças persistem. Sete anos depois, identifico um cenário notavelmente semelhante ao de 2018, que favorece o campo da centro-direita e a pauta dos costumes.

Não é à toa que a centro-direita parece ter compreendido parte do recado, e programas partidários já levantam a bandeira do enfrentamento contundente à violência como foco. Não vejo o mesmo em relação a pauta dos costumes.

O eleitor da centro-direita, não está preocupado apenas com os riscos evidentes de viver numa sociedade dominada pelas facções e pela corrupção. Ele está preocupado com o que entende como subversão dos valores que sustentam o conceito de família. São pais e mães comuns assustados com a velocidade com que se impõe a aceitação de um novo "politicamente correto", sem se sentirem prontos para absorver e transmitir com segurança para seus filhos a necessidade de um olhar sem preconceito para tudo aquilo que antes era tabu. Bolsonaro, à época, trazia alívio e gerava identificação, quando demonstrava que eles não estão sozinhos nas suas dificuldades e incertezas, determinando-se a defendê-los.

Para além desses aspectos, deve-se lembrar que o Brasil contemporâneo é marcado por uma intensa polarização política e já se nota uma crescente fadiga do eleitorado com essa dicotomia extrema. Essa conjuntura sugere uma demanda latente por uma liderança menos confrontadora e mais unificadora, oportunizando que uma candidatura de centro-direita capitalize esse sentimento. As pesquisas eleitorais recentes, como a Quaest divulgada em junho de 2025, indicam um cenário de competitividade acirrada, com a centro-direita demonstrando considerável potencial para as eleições de 2026. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de sua base de apoio, enfrenta um cenário de empate técnico em um eventual segundo turno contra diversos nomes da direita e centro-direita, como Michelle Bolsonaro (PL), Ratinho Jr. (PSD), Eduardo Leite (PSD) e Tarcísio de Freitas (Republicanos). A alta taxa de rejeição de Lula (57% segundo a Quaest) o torna particularmente suscetível em um segundo turno. Essa consistência nos resultados sugere um espaço eleitoral mais amplo para a oposição, sem depender da força de um único desafiante. O objetivo principal da centro-direita, portanto, deveria ser consolidar o voto anti-Lula em torno de um único candidato competitivo. Mas, por ora, devem ainda se digladiar nessa escolha por um bom tempo.

Outro ponto importante que favorece a direita é que esta não se define mais exclusivamente pela herança da ditadura militar ou por uma agenda econômica neoliberal. Não é isso o que o eleitor médio que se auto-denomina "de direita" expressa. Em vez disso, sua identidade está prioritariamente associada a posições conservadoras no campo dos costumes (como a oposição à união homoafetiva e à discussão de teorias de gênero nas escolas) e na área de segurança pública (incluindo a defesa da redução da maioridade penal, da extensão do porte de armas e da pena de morte).

Continua na próxima página

 

Compartilhe

Tags