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Um ateu religioso

Preocupado com Trump e suas loucuras, sonhei hoje com Jaroslav Hasek mestre da sátira política........................................................

Por ARTHUR CARVALHO Publicado em 16/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 16/07/2025 às 8:57

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Jaroslav Hasek foi chamado de o Mark Twain da literatura Tcheca, um dos autores de minha juventude. A crítica ácida da monarquia e os relatos bem-humorados sobre a vida dos tchecos do Império Austro-húngaro estão impregnados em esquetes de histórias. Suas narrativas são estudos profundos da personalidade humana dos dirigentes e signatários com DNA ditatoriais e fico pensando que se ele fosse contemporâneo desse porra louca do Trump, figura cagajosa, o que diria dele e como o classificaria. Irônico e sarcástico como era, ele perguntaria quando Trump iria prender Xandão, zombando com seu nacionalismo exacerbado e doentio com sua boquinha de imbecil.

Acordei, tomei o café da manhã com cuscuz e tapioca e resolvi me distrair um pouco. Botei O canto da ema, com Jackson do Pandeiro, na vitrola, fui ler Ezra Pound e me deleitei com Lustra (1916), considerado um marco em sua carreira e na poesia modernista. Fui a Katherine Mansfield que invejava os textos de sua amiga Virginia Woolf (Quem tem medo de Virginia Woolf?), e reli T. S. Eliot, adorando Crime na Catedral.

Matei a saudade de Jean Cocteau, almocei, cochilei na rede e mergulhei em Par Lagerkvist. Adoro Lagerkvist, autor que recomendo aos acadêmicos da APL. Ele foi socialista, feroz oponente do fascismo e "um ateu religioso." (Falar nisso, uma piedosa imortal da APL anda espalhando na praça que não estou bem da cabeça. Por essas e outras, um famoso delegado de polícia, mui amigo dela e do falecido padrinho dela, disse que se ela tivesse sido ministra de Hitler, a Alemanha teria ganho a Segunda Guerra Mundial. Pare com isso, professora). O seu padrinho, homem do "eu diria," que apesar de político poderosíssimo nunca fez nada por Pernambuco.

Lanchei, fui tomar uma sopa com Henry Miller. E me recordei de um saudoso e cultíssimo poeta amigo meu que achava Miller superior a Conrad. Aí, não! Superior ao marinheiro Joseph Conrad, comandante do veleiro Libertad, ninguém. Quando um ensaísta célebre se queixou que ele era tão hermético que algumas vezes não entendia seu texto, Conrad respondeu: "nem eu." E quando ele estava em casa conversando com Albert Camus e elogiando o Libertad, sua esposa ponderou que o veleiro era pequeno. E ele não gostou.

Arthur Carvalho, da Academia Recifense de Letras - ARL

 

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