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A estreita relação entre IA e a gestão da educação superior

É essencial lembrar que, apesar de toda a tecnologia envolvida, o fator humano continua sendo central. A IA não substitui a sensibilidade

Por JANGUIÊ DINIZ Publicado em 16/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 16/07/2025 às 8:59

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Na última terça-feira (8), durante o seminário "IA aplicada à gestão das IES", promovido pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), compartilhei com os participantes algumas reflexões que venho desenvolvendo nos últimos meses sobre a utilização e, principalmente, os impactos da inteligência artificial no universo empresarial.

Embora já acompanhasse com grande interesse os debates sobre o tema há alguns anos, foi a escolha de um grupo de mentorandos do meu projeto Million Business Networking que o trouxe definitivamente para o centro da minha agenda. Ao optarem por abordar a inteligência artificial em nosso próximo livro (em breve nas melhores livrarias), deram o empurrão que faltava para que eu mergulhasse fundo nessa relação cada vez mais próxima, e promissora, entre tecnologia e mundo dos negócios.

Tomando o cuidado de não antecipar as principais análises do livro, mas sem abrir mão da profundidade que a situação exigia, destaquei alguns dos inúmeros benefícios que a inteligência artificial tem proporcionado em praticamente todos os setores da sociedade: da saúde às políticas públicas, do meio ambiente ao transporte e à mobilidade, passando pelo entretenimento e, como não poderia deixar de ser, pela educação, foco central do seminário. É claro que também abordei os desafios e os riscos inerentes a esse cenário, que exigem atenção, regulação e preparo por parte de todos os agentes envolvidos.

O fato é que, quando se fala em inteligência artificial no contexto da educação superior, muitos ainda se prendem aos riscos que a tecnologia pode representar para o futuro do trabalho e a empregabilidade humana. Outros se limitam a discutir o uso de ferramentas de IA generativa por estudantes na elaboração de provas e trabalhos. Por outro lado, a compreensão da inteligência artificial como uma aliada estratégica para a escalabilidade, a profissionalização da gestão e o uso eficiente dos recursos institucionais ainda é pouco explorada por muitas instituições de ensino.

O avanço tecnológico é uma realidade irreversível, e temê-lo não é uma estratégia eficaz. O caminho precisa ser outro: compreender seu potencial transformador e assumir uma postura proativa diante do novo tempo que já começou. No caso das instituições de educação superior, isso implica tanto o aprimoramento de currículos e práticas pedagógicas, capazes de formar alunos para um mercado em constante transformação, quanto a modernização da gestão institucional e acadêmica, com o objetivo de tornar os processos mais inteligentes, eficientes e alinhados às demandas e possibilidades contemporâneas.

A ascensão da inteligência artificial, sobretudo dos sistemas generativos como o ChatGPT e o Gemini, marca uma nova era para a humanidade. O que antes era ficção científica, hoje está presente em assistentes virtuais, diagnósticos médicos automatizados, produção de conteúdo, logística, segurança e até mesmo na arte.

Na esfera educacional, ferramentas baseadas em IA já são capazes de apoiar na análise de indicadores acadêmicos, prever comportamentos de evasão, sugerir intervenções pedagógicas e otimizar processos internos, gerando eficiência administrativa e redução de custos. Nesse cenário, o gestor educacional deixa de atuar apenas como um executor e passa a exercer um papel mais estratégico, utilizando dados para tomar decisões com base em evidências.

E isso demanda mudanças também na cultura institucional: mais abertura à inovação, mais investimento em capacitação e mais disposição para experimentar soluções tecnológicas. O que se impõe, portanto, é a necessidade de uma nova mentalidade tanto por parte das instituições quanto da comunidade acadêmica.

Há que se observar que essa transformação tecnológica impõe desafios imediatos. Algumas profissões e funções, inclusive no setor administrativo das IES, tendem a ser automatizadas ou radicalmente modificadas. Tarefas repetitivas e analíticas, que antes exigiam recursos humanos dedicados, agora podem ser realizadas por sistemas inteligentes em questão de segundos. Brigar contra isso é como exigir o retorno do fax ou das fichas telefônicas, por exemplo.

Nesse sentido, o temor de que a inteligência artificial causará desemprego em massa não é totalmente infundado, mas precisa ser compreendido sob uma perspectiva diferente. O desafio não reside na tecnologia em si, mas na falta de qualificação dos profissionais para conviver, interagir e colaborar com ela. Em outras palavras, não será a IA que "roubará" empregos, e sim a incapacidade de adaptação dos trabalhadores à nova lógica do mercado.

Essa mesma lógica se aplica às instituições de educação superior. As que resistirem às transformações tendem a perder relevância diante de um cenário em rápida evolução. Por outro lado, aquelas que acolherem a inteligência artificial como uma parceira estratégica estarão mais bem posicionadas para oferecer uma educação alinhada às demandas do século XXI, além de se destacarem em pilares fundamentais a todo empreendimento, como sustentabilidade, eficiência e escalabilidade.

Por fim, é essencial lembrar que, apesar de toda a tecnologia envolvida, o fator humano continua sendo central. A inteligência artificial pode ser capaz de processar dados, responder perguntas e sugerir caminhos, mas não substitui a escuta atenta, o acolhimento, a sensibilidade e o olhar transformador de um gestor comprometido. É nesse equilíbrio entre inovação e propósito que a educação superior encontrará sua relevância duradoura no novo mundo que se desenha.

Janguiê Diniz, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), secretário-executivo do Brasil Educação - Fórum Brasileiro da Educação Particular, fundador e controlador do grupo Ser Educacional, e presidente do Instituto Êxito de Empreendedorismo.

 

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