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Ivanildo Sampaio: os separatistas

Convenhamos: ocupando a Presidência da República nomes como Romeu Zema, Ratinho Júnior ou Jorginho Mello, o País pouco teria a ganhar

Por IVANILDO SAMPAIO Publicado em 30/06/2025 às 6:16

Primeiro foi Romeu Zema, governador de Minas Gerais, quem sugeriu a criação de uma espécie de Federação, reunindo o seu Estado, o Rio de Janeiro e São Paulo – e se isolando do restante do País. E aproveitou para menosprezar e diminuir o “Brasil Profundo”. Segundo Zema, Norte e Nordeste são Regiões que “custam caro” para a União, e que outras unidades da Federação são penalizadas com essa desigualdade regional.

Pegou mal. Com a repercussão negativa, Zema, meio fraco de Q.I. – e esquecido de que o Estado que governa pela segunda vez, Minas Gerais, esteve à beira da falência e é uma das Unidades da Federação que mais devem à União, tentou consertar a infeliz fala, mas o estrago estava feito.

Agora, foi a vez de Jorginho Melo, governador de Santa Catarina, o Estado mais “separatista” e mais reacionário do País, onde Células Neonazistas proliferam desde a capital ao interior, há apologia à memória de Hitler, radicais perseguem negros, violam túmulos de judeus e cometem arbitrariedades que, até mesmo nos tempos atuais, onde a extrema direita dita regras, fica difícil acreditar.

Durante a última campanha eleitoral, ficou nacionalmente famoso um empresário catarinense que se vestia com as cores da bandeira nacional – e estava sempre na sombra de Bolsonaro, em Santa Catarina e Brasil afora. Segundo Imprensa, ele ameaça demitir quem não votasse no capitão.

Não é de agora que, em Santa Catarina, se registram tantas iniquidades; fatos como esses e outros piores já foram divulgados pela Imprensa nacional. O governador Jorginho Melo não é, portanto, uma voz isolada em sua pregação separatista – ele não pode é pensar em ser Presidente de um País que, até hoje, é respeitado mundialmente exatamente por uma democracia pluralista, um território unificado, uma diversidade de raças que convivem fraternalmente e ajudaram a solidificar nossa República.

O governador também não é um neófito nem começou ontem na política: foi deputado, vice-governador e senador, por Santa Catarina, embora jamais tenha negado o seu viés direitista, tendo votado pelo impeachment de Dilma Rousseff, pela abertura de processo contra Michel Temer e se aliado a Jair Bolsonaro desde os primeiros momentos. Hoje, continua fiel ao que diz e pensa o “capitão”, de quem certamente espera o apoio, na sua ilusão de ser candidato. Como se o ex-presidente pensasse num
candidato que não carregue o seu sobrenome.

Tive grandes amigos catarinenses, entre os quais o escritor Salim Miguel, já falecido, autor, entre outros, do premiado romance “Nur, na Escuridão”. Numa das últimas vezes em que conversamos, Salim se confessava triste e impotente diante do radicalismo à direita de Santa Catarina, Estado onde chegou com os pais, imigrantes libaneses, aos cinco anos de idade.

Conheci também outro jornalista, Wilson Libório, igualmente falecido. Filho de uma família judaica, Libório era declaradamente defensor dessa partilha e sonhava com um país formado pelos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tendo Florianópolis como Capital.

Por essas e outras, não causa estranheza saber, pela imprensa, que o governador Jorginho Melo começa a despontar como um dos pré-candidatos à Presidência da República. Assim como o governador do Paraná, o emblemático de Ratinho Junior, cujo nome, numa campanha política, seria a alegria dos marqueteiros de oposição. Ninguém de bom senso acredita hoje numa candidatura de Jair Bolsonaro, possibilidade que, silenciosamente, nem ele admite, apesar de continuar atrapalhando o processo, assim como Lula, cada vez mais rejeitado, que também não move uma palha no sentido de manifestar apoio a um possível candidato. Aliás, o PT envelheceu, assim como seus antigos líderes, e não surgiram nomes novos sequer com dimensão regional.

Mas, convenhamos: ocupando a Presidência da República nomes como Romeu Zema, Ratinho Jr. ou Jorginho Melo o país pouco teria a ganhar. São políticos provincianos, de visão curta, sem uma dimensão da importância do cargo e da responsabilidade que o Brasil tem perante o mundo. Pela posição estratégica, pela liderança continental, pelos recursos naturais, pela Amazônia, que o mundo inteiro inveja e o Brasil pouco faz pela sua preservação. O país tem tempo – mas não tem a eternidade ao seu dispor. Certamente há nomes dignos e preparados para ocupar o cargo de presidente desta nossa Nação, maltratada, pisoteada e diminuída nos últimos anos, por conta de gestões medíocres, incompetentes e descompromissadas com o presente – enquanto trabalharam, dia após dia, na desconstrução do nosso futuro. É hora de mudar isso.

Ivanildo Sampaio é jornalista

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