Giovanna Machado: Questões de gênero e a participação feminina na ciência, o papel transformador do programa Futuras Cientistas
Estatísticas revelam que presença das mulheres diminui significativamente à medida que se avança na carreira, resultado de combinação de fatores

A presença feminina na ciência ainda é marcada por desafios estruturais, históricos e culturais que limitam o pleno acesso das mulheres às oportunidades acadêmicas, tecnológicas e de inovação. Embora avanços importantes tenham sido conquistados, a desigualdade de gênero ainda persiste em diversas etapas da carreira científica, especialmente nas áreas de ciências exatas, engenharias e computação, onde o número de mulheres ainda é significativamente menor do que o de homens. Essas disparidades não se explicam pela falta de talento ou capacidade, mas sim por um conjunto de barreiras invisíveis que se impõem desde cedo: estereótipos que associam ciência à masculinidade, ausência de representatividade, falta de estímulo nas escolas e ambientes acadêmicos pouco acolhedores. Muitas meninas crescem sem ver mulheres cientistas como referência e, com isso, não se percebem como possíveis protagonistas no universo da ciência.
As estatísticas revelam que, apesar de as mulheres representarem cerca de metade dos estudantes de graduação e pós-graduação em diversas áreas, sua presença diminui significativamente nos níveis mais altos da carreira científica, como a obtenção de bolsas de produtividade, cargos de liderança em instituições de pesquisa e autoria em publicações de alto impacto. Este fenômeno, conhecido como "efeito tesoura", indica que há uma perda progressiva da presença feminina à medida que se avança na carreira, resultado de uma combinação de fatores que dificultam o protagonismo feminino.
Nesse contexto, torna-se fundamental a implementação de políticas públicas e programas que atuem desde a base, estimulando vocações científicas em meninas ainda no ensino médio. É nesse cenário que se insere o Programa Futuras Cientistas, uma iniciativa inovadora que visa despertar o interesse pela ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) entre alunas e professoras da rede pública de ensino médio e que alcançou todas as unidades da federação brasileira.
Criado pela Dra. Giovanna Machado com o objetivo de promover a inclusão e a equidade de gênero nas ciências, a pesquisadora entende que mais do que formar futuras profissionais, é necessário formar cidadãs críticas, curiosas e engajadas, capazes de transformar a realidade ao seu redor. Ao incluir também professoras, o Programa Futuras Cientistas valoriza o papel da educação e do cuidado na construção de trajetórias científicas femininas, reconhecendo que a transformação só acontece com o envolvimento coletivo. Ao investir no potencial das meninas o Programa Futuras Cientistas não apenas combate às desigualdades de gênero na ciência, mas também contribui para o desenvolvimento de uma ciência mais diversa, inovadora e alinhada com os desafios do século XXI.
Afinal, ampliar a participação feminina nas ciências é não só uma questão de justiça social, mas também de qualidade e excelência na produção do conhecimento. Cada menina que entra no laboratório, que faz sua primeira pergunta científica, que escreve seu primeiro relatório, está abrindo caminho para uma ciência mais plural, inclusiva e inovadora. O Futuras Cientistas é um convite à descoberta, ao empoderamento e ao sonho. É uma resposta concreta a um país que precisa ver mais mulheres liderando a produção de conhecimento. Afinal sabemos que lugar de mulher é onde ela quiser.
Giovanna Machado é doutora em Química, pesquisadora Titular do CETENE e Membro da Academia Pernambucana de Ciências