Artigo | Notícia

Meninos, cuidado com os baobás

Guardo, como a frase mais marcante da obra, o diálogo entre o principezinho e a raposa: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

Por OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS Publicado em 28/06/2025 às 0:00 | Atualizado em 28/06/2025 às 10:44

Esta semana, rearrumando a prateleira de livros, instintivamente fui levado a folhear um exemplar antigo e já amarelado de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry.

Guardo, como a frase mais marcante da obra, o diálogo entre o principezinho e a raposa: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

Hoje, as pessoas antes de tentarem cativar exigem incondicionalmente serem cativadas. Assumem-se egoístas como se fosse um atributo natural...

Saint-Exupéry (1900-1944), desde cedo, identificou-se como escritor e aviador. Piloto do correio aéreo francês na década de 1920, enfrentava rotas perigosas entre a França, a África e a América do Sul. Em 1944, durante uma missão de reconhecimento no teatro do Mediterrâneo, desapareceu sem deixar vestígios.

Suas experiências como aviador o inspiraram a escrever o famoso livro, que mistura aventuras pessoais com reflexões sobre a vida e a condição humana.

Muitos ainda veem a obra como literatura infantojuvenil. Ledo engano. A cada leitura, nela se revela algo a reconstruir, fortalecer ou aprender.

As histórias que o principezinho — habitante do asteroide B 612 — conta ao piloto em pane, um alter ego de Exupéry, fazem-nos pensar em pessoas — boas ou ruins — e situações — simples ou complicadas — que já enfrentamos na vida.

A narrativa começa quando o piloto, após uma pane, aterrissa no deserto do Saara e precisa consertar o motor da aeronave.

Ao amanhecer, é surpreendido pela voz suave do principezinho pedindo que desenhasse um carneiro (que pedido mais infantil, será?...).

Levantou-se assustado. Estava a mais de mil milhas de qualquer civilização. O que aquele menino fazia ali?

O pequeno príncipe lhe contou que vivia em um planeta com três vulcões que mal ultrapassavam seus joelhos — um extinto, usado como tamborete; os outros, como fogão para aquecer o almoço —, com uma flor dissimulada, presunçosa e vaidosa, e com baobás, ervas daninhas que precisavam ser arrancadas todos os dias, ou cresceriam descontroladas e destruiriam o planeta.

"MENINOS, CUIDADO COM OS BAOBÁS!"

Um dia, o pequenino decidiu partir em uma revoada de pássaros selvagens, na busca por sabedoria.

Em um dos planetas visitados, encontrou um rei cioso de sua autoridade, embora carente de súditos. Era o único habitante daquele lugar.

Mas mostrava-se um rei sábio: "A autoridade repousa na razão; se eu ordeno a um general que se transforme em gaivota e ele não me obedece, a culpa não é dele, é minha. É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar."

Em outro planeta, conheceu um vaidoso, com chapéu engraçado, à espera de aplausos por tudo o que fizesse. Depois, um bêbado que bebia para esquecer a vergonha de beber.

Seguiu adiante e encontrou um homem de negócios que se dizia sério. Contava as estrelas do universo e as numerava para que fossem suas, como cédulas de dinheiro - era um ganancioso.

No planeta seguinte, um acendedor de lampiões — um sujeito obtuso, mas bem-intencionado —, escravo do regulamento.

Depois, um velho geógrafo que, sem jamais se levantar da cadeira, dependia de exploradores para falar dos mundos que registrava em seu volumoso livro.

Por fim, chegou à Terra, um planeta enorme.

Encontrou uma serpente que falava por enigmas, uma flor de três pétalas que dizia que os homens não tinham raízes, subiu uma montanha para ver o mundo e, como resposta, ecos de sua voz, descobriu em um jardim de rosas que sua flor no B 612 não era única e, por fim, deparou-se com uma sábia raposa.

A princípio, ela recusou-se a brincar com o pequeno príncipe. Ainda não haviam se cativado. Quando ele lhe perguntou o que significava "cativar", ela respondeu: "significa criar laços." Fizeram uma amizade sincera.

Andarilho, o principezinho precisava seguir viagem. Antes da partida, a raposa lhe ensinou:

"Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

O principezinho ainda encontrou um agulheiro que lhe falou: "os adultos nunca estão satisfeitos com o lugar onde estão", e um vendedor de pílulas que matavam a sede dos seus fregueses — justamente ao lado de um poço de água abundante.

Era hora de voltar ao B 612. Já cativara o piloto e fora por ele cativado. Precisava novamente revolver os vulcões, regar a flor e carpir os baobás. Precisava continuar cativando. Cativar é missão eterna.

Otávio Santana do Rêgo Barros, general de Divisão da Reserva

 

Compartilhe

Tags