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Racionalidade em Conflito: o que Israel, Irã e EUA realmente querem

O cenário mudou bruscamente após os ataques israelenses. A ofensiva criou um novo dilema para a administração Trump......................

Por VINICIUS CEZAR SANTOS DA CRUZ Publicado em 27/06/2025 às 0:00 | Atualizado em 27/06/2025 às 10:57

Desde 13 de junho de 2025, quando Israel lançou ataques aéreos de grande escala contra instalações nucleares iranianas, o Oriente Médio voltou ao centro das tensões internacionais. As ofensivas sobre locais estratégicos como Natanz, Esfahan e Arak desencadearam retaliações iranianas com mísseis e drones, arrastando os Estados Unidos para o conflito. Em 22 de junho, bombardeiros norte-americanos atingiram instalações subterrâneas em Fordow e Isfahan. Dias depois, com mediação do Catar, foi anunciado um cessar-fogo provisório, cuja estabilidade segue incerta diante da continuidade das hostilidades e da retórica de confronto.

O que parecia ser apenas mais uma escalada regional tornou-se, em poucos dias, um episódio-chave da política internacional contemporânea. A intensidade dos ataques, a ruptura dos canais de negociação e o risco de envolvimento de aliados como Hezbollah e grupos houthis revelam um cenário de instabilidade, mas também de decisões calculadas.

Quanto a isso, mais do que relatar os eventos, também é importante compreender as lógicas estratégicas que orientam as ações de Israel, Irã e Estados Unidos. Nesse contexto, a ideia de racionalidade de resultado torna-se uma ferramenta analítica útil. O conceito não descreve como as decisões são tomadas, mas quais objetivos pretendem alcançar. Mesmo quando envolvem riscos elevados, essas escolhas podem ser consideradas racionais se estiverem alinhadas a metas como segurança, sobrevivência do regime, contenção de ameaças ou preservação da influência regional.

Israel: impedir o avanço nuclear iraniano a qualquer custo

A política externa israelense em relação ao Irã não é reativa nem improvisada. Trata-se de uma estratégia de longo prazo, sustentada pela ideia central de que um Irã nuclearizado representaria uma ameaça existencial à segurança nacional de Israel. A partir desse diagnóstico, sucessivos governos israelenses têm operado com uma racionalidade de resultado bastante clara: impedir, por qualquer meio necessário, que o Irã alcance capacidade nuclear militar.

Essa racionalidade se manifesta em um padrão de ações contínuo, que combina diplomacia ofensiva, operações clandestinas e sabotagem tecnológica. Ao longo das últimas duas décadas, Israel tem sido amplamente associado a uma série de operações de assassinato seletivo contra cientistas ligados ao programa nuclear iraniano, incluindo, de forma notória, Mohsen Fakhrizadeh, considerado o cérebro do projeto atômico iraniano, morto em 2020 em uma ação atribuída ao Mossad.

No campo diplomático, Israel sempre se posicionou de forma crítica ao JCPOA, o acordo nuclear assinado em 2015 entre Irã e as potências do P5 1, que previa restrições severas ao programa nuclear iraniano em troca do alívio de sanções. Considerando-o insuficiente, articulou forte lobby em Washington e foi um dos principais incentivadores da saída dos EUA do pacto em 2018, sob o governo Trump.

Essa trajetória expressa uma lógica constante: Israel não confia na contenção multilateral e prefere agir diretamente para limitar as capacidades técnicas e políticas do Irã. A racionalidade de resultado israelense, portanto, está ancorada na ideia de que ações proativas, mesmo que unilaterais e de alto risco, são preferíveis à incerteza de um Irã nuclear.

Esse cálculo tornou-se ainda mais urgente em 2025, diante de dois fatores: de um lado, o fracasso das novas rodadas de negociação entre EUA e Irã; de outro, uma percepção crescente de fragilidade interna do regime iraniano, pressionado por protestos e incertezas sucessórias em torno de Khamenei.

Com os canais diplomáticos aparentemente esgotados e o programa nuclear iraniano avançando, Israel optou por uma escalada militar aberta. Foi o maior ataque do tipo já registrado, mirando diretamente a capacidade nuclear do Irã. Porém, após dias de conflito, o governo israelense aderiu ao cessar-fogo proposto por Washington, mas mantém forças em alerta e reafirma que tomará "novas medidas" caso o Irã retome seu programa em níveis considerados inaceitáveis.

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