Os bunkers que salvam vidas em Israel
Vivi a experiência de estar num bunker, na minha primeira viagem a Israel, em 1974, quando fui a convite da colônia israelita de Pernambuco,

A Guerra do Irã e Israel mostrada ao vivo pelos canais de televisão, com muitas mortes, especialmente de civis, incluindo mulheres e crianças, coloca em destaque os bunkers que salvaram muitas vidas, mais em Israel do que no Irã, onde esses espaços de segurança são privilégio dos poderosos. Já estive no Irã, há muitos anos, e cinco vezes em Israel, sendo duas mais recentemente.
Vivi a experiência de estar num bunker, na minha primeira viagem a Israel, em 1974, quando fui a convite da colônia israelita de Pernambuco, organizada pelo saudoso Salomão Jaroslavsky, que era uma espécie de cônsul do país em Pernambuco. Como não havia (e ainda não há) voos diretos do Brasil para Israel, fui para Madri, de onde embarquei para Tel Aviv, num avião da El-Al, a empresa aérea de Israel. Já no aeroporto da capital espanhola, passei por uma fiscalização rigorosa. Viram meu passaporte várias vezes, fizeram muitas perguntas. E até tive que ir para uma área junto do avião, onde identifiquei minha mala, que foi aberta e passou por outra e ainda mais rigorosa revista.
Finalmente liberado, embarquei para Tel Aviv, onde fui recebido por um guia e encaminhado ao Hotel Shalom, à beira-mar. Dei uma rápida circulada pelo hotel, jantei e fui dormir. Às 22h, fui acordado com o som estridente de sirenes e pessoas batendo na minha porta. Não entendia nada do que diziam, mas como todo mundo estava correndo, vesti a roupa rapidamente e segui os outros hóspedes. Felizmente, estava no 2ª andar, e pelas escadas cheguei ao bunker do hotel, no subsolo. Uma sala imensa, com uma ótima estrutura contendo camas, lençóis, ventilação, com café e sucos.
Encontrei um casal de judeus argentinos, que falava hebraico, e que foi traduzindo as informações. Seria contra um possível ataque de Monhamed Kadaf, o líder da Líbia, em guerra com Israel. Como estava cansado da longa viagem, consegui dar alguns cochilos. O grupo, com umas 150 pessoas, ficou até às cinco horas da manhã, quando foi liberado para sair e seguiu para o café da manhã do hotel. Foi um enorme susto, felizmente logo resolvido. O único que passei em todas essas viagens por Israel. No dia seguinte, tudo normal na cidade.
Cercado de nações com os quais têm conflitos históricos, Israel adotou desde cedo políticas de proteção básica contra os constantes ataques desses inimigos. O país tem leis que exigem a construção desses espaços de segurança, os bunkers. Segundo dados do Ministério da Defesa israelense, existem atualmente pelo menos 1,5 milhão dessas estruturas no país.
Estive visitando um casal de pernambucanos e conheci o bunker da sua casa. É um dos quartos usados no dia a dia, mas com uma estrutura reforçada, com paredes geralmente construídas com materiais altamente resistentes, reforçadas de cerca de 30 centímetros de concreto maciço. A proteção se repete no chão e no teto, o que acaba reduzindo o pé-direito, em comparação ao resto da casa. A porta é de metal, com travas que vão fundo na parede. Janelas seguem o mesmo padrão e, normalmente, só há uma.
O Governo de Israel aprovou, em 1951, uma lei de defesa civil, exigindo que todas as construções, públicas ou privadas, tivessem esses bunkers, como abrigos antibombas. Em 1991, devido ao uso de armas químicas pelo Iraque, na Guerra do Golfo, uma nova lei determinou novos padrões para essas construções, aumentando sua segurança. Exatamente por essa exigência, as casas e apartamentos em Israel custam bem mais caros. Esses espaços de segurança também podem ser encontrados em locais públicos, em praças, em estradas, Todos os supermercados, shoppings center, cinemas, hospitais, escolas e grandes lojas são obrigados a ter um.
Quando surge algum problema, poderosas sirenes são acionadas e as pessoas têm um minuto e meio para chegar a um desses bunkers, para se protegerem do ataque. Uma sensação, digamos, de terror. É bom lembrar que, só há poucos anos, a segurança das principais cidades aumentou muito com o "Domo de Ferro", sofisticado sistema que consegue derrubar a maioria dos mísseis, foguetes e drones, antes que atinjam o solo e causem destruição.
O bunker que vi mais recentemente foi num hotel cinco estrelas, em Jerusalém. O gerente me levou lá. Tem a mesma área do de Tel Aviv, mas com muito mais conforto, com ar condicionado, televisor, frigobar. beliches e banheiro e até chuveiro, o que garante a permanência por muitas horas, em caso de ataques maiores.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1